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07/11/2002 - 04h27

Análise: Economia ameaça ofuscar triunfo de Bush

MÁRCIO SENNE DE MORAES
da Folha de S.Paulo

Embora não fosse candidato, o grande vencedor das eleições gerais norte-americanas foi o presidente George W. Bush, porém o resultado não lhe assegura um governo tranquilo nos próximos anos nem sua reeleição -em 2004.

Especialistas ouvidos pela Folha afirmaram que a estratégia dos republicanos (basear sua campanha na política externa, não na interna) foi um sucesso. "Desde o fim da Guerra do Vietnã, nos anos 70, não havia tanta influência da política externa num pleito americano", disse Diana Owen, da Universidade de Georgetown (EUA).

Para Matthew Crenson, da Universidade Johns Hopkins (EUA), é justamente em suas iniciativas internacionais que Bush terá agora mais liberdade de ação. "Os democratas terão mais dificuldade em opor-se à política externa de Bush, pois, de certo modo, ela recebeu a aprovação popular. Vale lembrar que Bush se empenhou muito na campanha, apoiando candidatos a cadeiras na Câmara, o que outros presidentes raramente fizeram", avaliou Crenson.

De fato, os atentados de 11 de setembro de 2001 continuam a render dividendos políticos a Bush. Assim, na campanha, os democratas, que, normalmente, se concentram mais em temas domésticos, não puderam correr o risco de serem vistos como aqueles que buscavam desviar a atenção dos eleitores da "verdadeira ameaça" que paira sobre os EUA: o perigo representado pelo terrorismo.

Com isso, a atitude democrata foi bastante confusa. Por um lado, os oposicionistas se diziam contrários a uma eventual ofensiva militar no Iraque, preconizada por Bush. Por outro lado, eles não se opuseram à resolução do Congresso que dava plenos poderes ao presidente para atacar Bagdá.

"Os democratas não apresentaram propostas que atraíssem nem sua base tradicional. E, apostando na 'cultura do medo' de novos ataques terroristas, os republicanos puderam manter questões domésticas afastadas do debate político", avaliou Owen.

Todavia a vitória não dará liberdade total ao governo no que se refere a assuntos internos. "Bush conseguirá que seu corte de impostos não seja suspenso e que sua política educacional seja aprovada", analisou Crenson.

"Contudo não há indícios de que temas mais delicados, como a proibição do aborto, venham a fazer parte das prioridades da administração, visto que poderiam gerar uma polarização prejudicial aos republicanos. Além disso, esse é um tema que diz respeito ao Judiciário, não ao Executivo".

Portanto, embora saia fortalecido do pleito, Bush não tem assegurada a reeleição. Afinal, um ano depois, os atentados ainda estão bem vivos na memória do eleitorado, o que não deverá ocorrer daqui a dois anos se não houver outro ataque terrorista aos EUA.

"O principal trunfo de Bush é a falta de um adversário de peso. Porém, em breve, questões domésticas voltarão à pauta, tornando previsões muito complexas. Se a conjuntura econômica do país piorar, será difícil para os republicanos evitar o tema na próxima eleição", afirmou Crenson.

Há dez anos, George Bush, pai do presidente, não foi reeleito por conta dos problemas econômicos do país - apesar da popularidade obtida na Guerra do Golfo (1991). À época, o slogan de campanha do então candidato democrata à Presidência, Bill Clinton, foi crucial: "É a economia, estúpido!".

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