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08/12/2002 - 04h58

Ator de "Madame Satã" fala de seu primeiro papel na TV

FERNANDA DANNEMANN
da enviada especial da Folha ao Rio

O ator Lázaro Ramos, que faz seu primeiro trabalho na TV Globo depois de brilhar como protagonista do filme "Madame Satã", em cartaz "Espero que o mercado [na TV] se abra, que haja mais espaço para os atores saírem do estereótipo e que o negro não vire moda"

Aos 24 anos, o ator baiano Lázaro Ramos pode ser visto nos cinemas, como protagonista do filme "Madame Satã", e também atua na microssérie "Pastores da Noite" (Globo, terças, 22h35). Mas o intérprete de Massu na adaptação da história de Jorge Amado para a TV diz que não se deslumbrou com a fama e acha até melhor não ser reconhecido nas ruas. "É bom, porque meus personagens ficam à frente do ator."

Folha - Você esperava fazer TV?
Lázaro Ramos-
Nunca planejei minha carreira. Eu já estava satisfeito quando fazia teatro em Salvador. Tinha curiosidade de fazer TV, mas "Pastores da Noite", por ser em 16 mm, me deu a sensação de estar num set de cinema. Foi diferente: só tinha uma câmera (na TV são quatro), fizemos três cenas por dia (na TV são 30)... então não sei o que é o ritmo de televisão.

Folha - Mas, no fundo, você sabia que estava fazendo um seriado para a Globo e que milhões de pessoas iriam assistir.
Lázaro -
Pensei em tudo isso com uma expectativa boa. O que será que as pessoas vão dizer? Sabe, ninguém me reconhece nas ruas, já fui a várias estréias do filme e ninguém falou comigo. Não sei se sou diferente do que aparece na tela do cinema, mas até os jornalistas dizem que, ao contrário do Madame Satã, sou franzino. Acho isso um equívoco.

Folha - Você gosta de passar incógnito?
Lázaro -
É bom, porque meus personagens ficam à frente do ator e a qualidade do trabalho é ressaltada. Não fui ver o filme incógnito por medo de ser reconhecido e alguém dizer "olha, o abestalhado veio assistir o filme só pra se mostrar".

Folha - Mas, depois de fazer TV, fica mais difícil continuar anônimo.
Lázaro -
Espero poder preservar minha imagem. É bom fazer microsséries, que te colocam na TV por poucos dias, em vez de novela, que te expõe o ano inteiro. Eu faria novela, mas não qualquer coisa: teria de ser um bom personagem, uma boa história, um bom diretor. Fazer novela só pra aparecer não dá. Silvio de Abreu e Jorge Fernando são pessoas com quem eu gostaria de trabalhar.

Folha - Você assiste a novelas?
Lázaro -
Perdi o interesse. Novela ficou tão ruim... De "Roque Santeiro" e "A Próxima Vítima", gostei muito. Gosto das comédias, principalmente quando elas abordam temas contundentes. A conscientização não invalida o riso.

Folha - O que você pensa sobre o sistema de cotas para atores negros na TV?
Lázaro -
Acho uma pena que eu pense que deve ter cotas mesmo. Queria que os mecanismos culturais para inclusão dos atores negros na dramaturgia -em qualidade e quantidade- viessem naturalmente. Os autores deveriam inserir os atores negros dramaturgicamente nas histórias, em vez de eles estarem lá só pra fazer papéis marginais ou pra dizer "sim senhor". E mesmo quando for um empregado, que tenha importância dramatúrgica. Não quero ser selecionado para um papel somente quando estiver escrito lá "personagem negro". E tem outra coisa: o negro é consumidor, usa manteiga e sabonete. Quero me ver num comercial de sabonete! Só agora a Globo colocou um jornalista negro como âncora. E a primeira mulher no Jornal Nacional também não faz muito tempo.

Folha - Você está satisfeito com a repercussão de "Madame Satã"?
Lázaro -
A repercussão está sendo muito boa. O público está captando o espírito do filme, que foi vendido para 15 países. E tem a satisfação pessoal, estamos muito felizes pela valorização do nosso trabalho, ganhei os primeiros prêmios da minha vida e a admiração de pessoas queridas.

Folha - Algum tipo de sucesso não vale a pena?
Lázaro -
Ficar famoso só por aparecer na televisão -independentemente de estar fazendo um bom trabalho - não me interessa.

Folha - E a cena homossexual do filme? Foi muito difícil?
Lázaro -
As cenas mais difíceis foram as que falavam de muito vazio interior e angústia, como aquela em que a Marcélia conta que o Renatinho morreu. A cena de sexo foi muito bem conduzida pela direção e a penúltima a ser feita. Nós já estávamos mais relaxados e amigos. Claro que ficamos nervosos, mas sabíamos que a cena era importante. Afinal de contas, sexo gratuito não dá.

Folha -Alguns ficam incomodados com a cena.
Lázaro -
É, já me falaram isso. E, se a cena não fosse minha, talvez eu também me assustasse. É uma coisa que não se vê todo dia, ainda mais dessa forma. O sexo homossexual em "Querelle" e "Além do desejo" é muito mais intenso e com a abordagem puramente sexual. Em "Madame Satã", aquela é uma cena de amor, e acho que é isso que surpreende. Ali há três dados novos: é sexo com amor, homossexual e inter-racial.

Folha - Você tem medo da crítica?
Lázaro -
Não. Mas os críticos de arte têm de ser responsáveis quando escrevem porque influenciam as pessoas. O ideal é que percebam a influência dos próprios valores naquilo que estão escrevendo.

Folha - Qual é a sua expectativa em relação à televisão?
Lázaro -
Espero que o mercado se abra, que haja mais espaço para os atores saírem do estereótipo, que o negro não vire moda. Não vou alimentar isso e posar em fotos sensuais. Não sou deslumbrado.
 

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