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07/12/2002
-
04h12
da Agência Folha, em Fortaleza
Cem anos após Euclydes da Cunha ter escrito "Os Sertões", os verbos usados por ele na obra foram catalogados e são explicados um a um no "Dicionário de Verbos de Os Sertões", lançado esta semana, em Fortaleza, pelas Edições Demócrito Rocha.
Todo o trabalho de identificação dos verbos, análise da origem, da semântica, da regência e a inclusão de sinônimos foi feito pelo advogado Salomão Maia, 75, que escreveu à mão todos os 3.000 verbetes em fichas separadas, antes dos verbos serem passados para o computador.
"O Euclydes usa verbos clássicos, trazidos de crônicas e dos clássicos portugueses, muitas vezes difíceis de serem compreendidos. Por isso decidi vocabularizar esses verbos, dando vários sinônimos para o leitor poder aplicá-los e também passar a gostar mais de "Os Sertões" ", disse Maia.
O autor afirma que a escolha do livro foi pelo encantamento que tem pela narração de Euclydes da Cunha desde a infância. "Foi a partir desse livro que nasceu, na literatura, o interesse pelo sertão nordestino, tão esquecido até hoje", disse. "Além disso, "Os Sertões" é um livro em que o autor empregou a alma, ele sacrificou a própria vida para salvar a alma ao ficar em Canudos."
Outra escolha foi pegar apenas verbos para a análise semântica, e não outras palavras. "É a obra de maior riqueza morfológica. Não há outro texto que compile sozinho 3.000 verbos diferentes. Sem o verbo, o homem é pela metade."
O fichamento de todos os verbos demorou sete anos. Foi no seminário onde estudou quando criança que Maia aprendeu a gostar de "Os Sertões" e de contar palavras, como ele mesmo afirma. "Quando alguém errava uma palavra, tinha um padre que mandava repeti-la cem vezes", relembra o escritor.
"Sigo o ensinamento de Santo Inácio, nunca dormir sem aprender uma linha. Foi esse o meu exercício durante todo o preparo do dicionário."
Para Maia, o verbo mais difícil de se identificar a origem e sua utilização foi o verbo "zunir", utilizado algumas vezes por Euclydes da Cunha com sentido onomatopéico, para descrever sons. "Até agora não consegui identificar a origem, deu muito trabalho, mas estão lá alguns sinônimos, como soar, assobiar. Ainda vou trabalhar mais nele, mesmo depois do lançamento da obra."
O trabalho segue longe do computador. "A máquina assombra. A caneta vai acompanhando o pensamento."
DICIONÁRIO DE VERBOS DE OS SERTÕES (335 págs)
De: Salomão P. Maia
Editora: Edições Demócrito Rocha (tel. 0/xx/85/ 255-6000)
Quanto: R$ 32
Livro explica verbos de Euclydes da Cunha
KAMILA FERNANDESda Agência Folha, em Fortaleza
Cem anos após Euclydes da Cunha ter escrito "Os Sertões", os verbos usados por ele na obra foram catalogados e são explicados um a um no "Dicionário de Verbos de Os Sertões", lançado esta semana, em Fortaleza, pelas Edições Demócrito Rocha.
Todo o trabalho de identificação dos verbos, análise da origem, da semântica, da regência e a inclusão de sinônimos foi feito pelo advogado Salomão Maia, 75, que escreveu à mão todos os 3.000 verbetes em fichas separadas, antes dos verbos serem passados para o computador.
"O Euclydes usa verbos clássicos, trazidos de crônicas e dos clássicos portugueses, muitas vezes difíceis de serem compreendidos. Por isso decidi vocabularizar esses verbos, dando vários sinônimos para o leitor poder aplicá-los e também passar a gostar mais de "Os Sertões" ", disse Maia.
O autor afirma que a escolha do livro foi pelo encantamento que tem pela narração de Euclydes da Cunha desde a infância. "Foi a partir desse livro que nasceu, na literatura, o interesse pelo sertão nordestino, tão esquecido até hoje", disse. "Além disso, "Os Sertões" é um livro em que o autor empregou a alma, ele sacrificou a própria vida para salvar a alma ao ficar em Canudos."
Outra escolha foi pegar apenas verbos para a análise semântica, e não outras palavras. "É a obra de maior riqueza morfológica. Não há outro texto que compile sozinho 3.000 verbos diferentes. Sem o verbo, o homem é pela metade."
O fichamento de todos os verbos demorou sete anos. Foi no seminário onde estudou quando criança que Maia aprendeu a gostar de "Os Sertões" e de contar palavras, como ele mesmo afirma. "Quando alguém errava uma palavra, tinha um padre que mandava repeti-la cem vezes", relembra o escritor.
"Sigo o ensinamento de Santo Inácio, nunca dormir sem aprender uma linha. Foi esse o meu exercício durante todo o preparo do dicionário."
Para Maia, o verbo mais difícil de se identificar a origem e sua utilização foi o verbo "zunir", utilizado algumas vezes por Euclydes da Cunha com sentido onomatopéico, para descrever sons. "Até agora não consegui identificar a origem, deu muito trabalho, mas estão lá alguns sinônimos, como soar, assobiar. Ainda vou trabalhar mais nele, mesmo depois do lançamento da obra."
O trabalho segue longe do computador. "A máquina assombra. A caneta vai acompanhando o pensamento."
DICIONÁRIO DE VERBOS DE OS SERTÕES (335 págs)
De: Salomão P. Maia
Editora: Edições Demócrito Rocha (tel. 0/xx/85/ 255-6000)
Quanto: R$ 32
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