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12/11/2002 - 10h27

Vozes da MPB afinam CD de Raphael Rabello

ROGÉRIO EDUARDO ALVES
da Folha de S.Paulo

Projeto no qual Raphael Rabello trabalhava quando morreu em 1995, aos 33 anos, o disco "Mestre Capiba por Raphael Rabello e Convidados" foi ressuscitado. As fitas, que começavam a oxidar, largadas numa estante do estúdio do violonista, precisaram de muitos banhos químicos para desvendarem, após sete anos de esquecimento, o virtuoso violão que acompanhava um naipe precioso de vozes da MPB cantando composições do pernambucano Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba (1904-1997), um dos maiores entre os compositores de frevo.

O resultado é uma homenagem de Rabello às músicas mais delicadas desse compositor -entre as quais não estão apenas frevos, mas sambas, serestas e outras canções- por meio das vozes de Chico Buarque, Paulinho da Viola, Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Gal Costa, Maria Bethânia, Alceu Valença e Claudionor Germano, o intérprete tradicional de seus frevos.

Além das mãos e da voz de João Bosco e do sopro de Paulinho Moura.
"Capiba fez parte de nossa infância. Raphael teve mais um trabalho de escolha de repertório que de pesquisa. Capiba era amigo de nosso avô José Queiroz Batista", conta Luciana Rabello, 41, irmã do violonista e responsável pela retomada do projeto que se concretiza agora.

As dificuldades para completar o disco foram principalmente de articulação. "Só quando contatei a Ação pela Cidadania é que as coisas começaram a andar", explica Luciana lembrando que o CD faz parte do programa Natal sem Fome desde que foi pensado.

Depois foi acertar o que o violonista planejara. "Foi um processo de tentar lembrar as conversas que tive com meu irmão, pois ele não deixava nada escrito."

Entre as faixas que comporiam o CD, "Sino, Claro Sino" ainda não tinha voz quando o violonista morreu. Dela, Rabello deixou uma gravação com violão na qual cantarolava a letra da música -a voz-guia. Para gravá-la, descobriu-se que Rabello tinha pensado em Milton Nascimento.

"O Milton chegou ao estúdio de caso pensado. Cantou apenas pedaços da música. Não me intrometi. No final, comentei que precisaríamos regravar, ao que ele respondeu sorrindo "não faço mais nada, coloque a voz-guia"." E estava registrada a primeira e única participação vocal de Rabello. Em duo com Milton Nascimento.

O sucesso "Valsa Verde" foi gravado duas vezes. Uma na voz de Paulinho da Viola e outra em registro instrumental. O pedido foi feito pelo próprio Capiba a Rabello, que não pôde recusar. A valsa foi considerada a música de apresentação do jovem Capiba, ao compô-la em 1932.

Ainda menino, esse filho do professor de música, arranjador, clarinetista e violinista Severino Atanásio já se interessava pela música. Mas foi por volta de 1934 que ganhou os carnavais com "É de Amargar", seu primeiro frevo.

Aos 90 anos, Capiba foi conhecer as gravações em que Rabello estava trabalhando. "Embora meu irmão tenha mantido as músicas como concebidas, Capiba achou estranhos os vocais de João Bosco no samba "A Mesma Rosa Amarela" [risos]", conta Luciana.

"Mas a única versão do disco, no sentido de uma "releitura", a espanholada de Ney Matogrosso para "Serenata Suburbana", não causou estranheza. Capiba disse que gostou do que ouviu."

Mas as novidades póstumas do violão de Rabello não param em Capiba. Foram encontradas gravações do músico num estúdio americano que devem virar disco no ano que vem. "Eles me chamaram para identificar algumas músicas que meu irmão tinha deixado por lá", conta Luciana. "Encontrei-o tocando choros, sozinho, ao estilo de seus primeiros discos." É esperar.


MESTRE CAPIBA POR RAPHAEL RABELLO E CONVIDADOS
Artista: vários
Lançamento: Acari Records/BMG
Quanto: R$ 19,90 (em média)
 

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