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07/11/2002
-
02h59
da Folha de S.Paulo
Antunes Filho volta a "Medéia" mantendo o discurso de que o teatro contemporâneo é "deformado, banalizado, se esquece do ator". Ao mesmo tempo, entusiasma-se pelo trabalho de voz em sua tenaz busca de "um estado superior de interpretação".
"Em "Medéia 2" a fala dos atores é música o tempo todo, é melodia que irradia não só do coro, mas de cada intérprete. Eu gosto como eles falam, sem gritar. O que eu faço é ator e jogo", diz o encenador.
Recuperado de uma virose que o abateu por dez dias, Antunes demonstra generosidade com o elenco às vésperas da estréia.
Nos limites da criação, ele brinca, ri e parece tirar de cena o arquétipo do pai turrão e deixa vir o irmão mais velho. "As peças passam, os diretores passam, as personagens passam e os atores ficam", repete agora.
Um diálogo dele com a atriz Juliana Galdhino, pós-ensaio, é emblemático desse momento.
"Juliana, gostei muito da tua tranquilidade hoje. É isto. Este afastamento, dona do pedaço. O aspecto moral com que você está em cena é perfeito. O espaço é seu, não está mais sufocado", afirma.
Pausa. Juliana murmura algo. O encenador logo retruca. "Você está com tédio falando comigo?"
A atriz revela sua inquietação: "Estou chateada porque eu queria fazer algumas coisas no ensaio e não consegui". Antunes a consola: "Não fez, faz amanhã, depois de amanhã. Tem o resto da vida para fazer isso. Deixe de ser perfeccionista. O que deu hoje foi isso, amanhã dará outra coisa. Cada dia dá uma coisa diferente."
Quem participou da primeira versão de "Medéia" sente-se privilegiado em revisitar os personagens. É o caso de Juliana (Medéia), Suzan Damasceno (Ama) e Emerson Danesi (Mensageiro).
Juliana, 29, compara a montagem anterior a um foguete, um torpedo. Agora, estaria assentada sobre a brasa, o carvão daquele espetáculo. E tem a chance de encontrar novas camadas.
"Medéia está mais senhora. Ela é cada vez mais tratada com a dimensão da tragédia. Não dá para fazer o ser humano ali da esquina", afirma a protagonista.
O intérprete de Jasão ingressou no curso do CPT em janeiro e ensaia o papel há três meses. É a primeira montagem teatral de Guedes, 25, que pisara no palco apenas em espetáculo de teatro-dança em Santos (SP), onde nasceu.
A peça foca o destino de Medéia, princesa da Cólquida, dona de poderes sobrenaturais, que ajuda Jasão a conquistar o velocino de ouro (pele de carneiro), símbolo de status. Eles se casam, têm dois filhos, mas Jasão se separa depois para viver com a filha de Creonte. Daí a vingança.
MEDÉIA 2
De: Eurípedes
Adaptação e direção: Antunes Filho
Com: grupo Macunaíma/CPT (Ailton Guedes, Adriano Suto, Uryas de Garcia, Carllos Negrini, Adriana Patias, Ana Gomes, Ariela Corrêa, Ingrid Ramos e outros)
Onde: Sesc Belenzinho - galpão 2 (r. Álvaro Ramos, 915, tel. 0/xx/11/6602-3700)
Quando: estréia dia 9, sábado, para convidados; sábados e domingos, às 19h. Até 15/12
Quanto: R$ 20
"Diretores passam, os atores ficam", diz Antunes Filho
VALMIR SANTOSda Folha de S.Paulo
Antunes Filho volta a "Medéia" mantendo o discurso de que o teatro contemporâneo é "deformado, banalizado, se esquece do ator". Ao mesmo tempo, entusiasma-se pelo trabalho de voz em sua tenaz busca de "um estado superior de interpretação".
"Em "Medéia 2" a fala dos atores é música o tempo todo, é melodia que irradia não só do coro, mas de cada intérprete. Eu gosto como eles falam, sem gritar. O que eu faço é ator e jogo", diz o encenador.
Recuperado de uma virose que o abateu por dez dias, Antunes demonstra generosidade com o elenco às vésperas da estréia.
Nos limites da criação, ele brinca, ri e parece tirar de cena o arquétipo do pai turrão e deixa vir o irmão mais velho. "As peças passam, os diretores passam, as personagens passam e os atores ficam", repete agora.
Um diálogo dele com a atriz Juliana Galdhino, pós-ensaio, é emblemático desse momento.
"Juliana, gostei muito da tua tranquilidade hoje. É isto. Este afastamento, dona do pedaço. O aspecto moral com que você está em cena é perfeito. O espaço é seu, não está mais sufocado", afirma.
Pausa. Juliana murmura algo. O encenador logo retruca. "Você está com tédio falando comigo?"
A atriz revela sua inquietação: "Estou chateada porque eu queria fazer algumas coisas no ensaio e não consegui". Antunes a consola: "Não fez, faz amanhã, depois de amanhã. Tem o resto da vida para fazer isso. Deixe de ser perfeccionista. O que deu hoje foi isso, amanhã dará outra coisa. Cada dia dá uma coisa diferente."
Quem participou da primeira versão de "Medéia" sente-se privilegiado em revisitar os personagens. É o caso de Juliana (Medéia), Suzan Damasceno (Ama) e Emerson Danesi (Mensageiro).
Juliana, 29, compara a montagem anterior a um foguete, um torpedo. Agora, estaria assentada sobre a brasa, o carvão daquele espetáculo. E tem a chance de encontrar novas camadas.
"Medéia está mais senhora. Ela é cada vez mais tratada com a dimensão da tragédia. Não dá para fazer o ser humano ali da esquina", afirma a protagonista.
O intérprete de Jasão ingressou no curso do CPT em janeiro e ensaia o papel há três meses. É a primeira montagem teatral de Guedes, 25, que pisara no palco apenas em espetáculo de teatro-dança em Santos (SP), onde nasceu.
A peça foca o destino de Medéia, princesa da Cólquida, dona de poderes sobrenaturais, que ajuda Jasão a conquistar o velocino de ouro (pele de carneiro), símbolo de status. Eles se casam, têm dois filhos, mas Jasão se separa depois para viver com a filha de Creonte. Daí a vingança.
MEDÉIA 2
De: Eurípedes
Adaptação e direção: Antunes Filho
Com: grupo Macunaíma/CPT (Ailton Guedes, Adriano Suto, Uryas de Garcia, Carllos Negrini, Adriana Patias, Ana Gomes, Ariela Corrêa, Ingrid Ramos e outros)
Onde: Sesc Belenzinho - galpão 2 (r. Álvaro Ramos, 915, tel. 0/xx/11/6602-3700)
Quando: estréia dia 9, sábado, para convidados; sábados e domingos, às 19h. Até 15/12
Quanto: R$ 20
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