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11/10/2002 - 02h30

Nobel premia memória do Holocausto

CASSIANO ELEK MACHADO
da Folha de S.Paulo, em Frankfurt

Um sobrevivente dos campos de concentração de Auschwitz e Buchenwald, Imre Kertész, se tornou ontem o primeiro húngaro a vencer o Nobel de Literatura.

Aos 72 anos, este romancista que calcou sua obra literária na experiência traumática entre os nazistas em 1944 e 1945 recebeu a notícia da premiação justamente na antiga sede do Reich Alemão. "É um momento de surpresa e alegria", disse o escritor em Berlim, onde vive há um ano.

Foi dessa forma, com surpresa e alegria, que o triunfo do escritor de Budapeste chegou ao epicentro mundial do mercado de livros.

Um minuto após as 8h (horário de Brasília), quando a Academia Sueca de Letras anunciou o prêmio em Estocolmo, o nome de Kertész já ressoava em um alto-falante da Feira de Frankfurt.

Surpresos ficaram editores e jornalistas da maior parte dos 110 países que estão na 54ª edição do evento, quase todas nações nas quais o escritor é inédito ou pouco editado. Alegria foi o que se viu na pequena representação húngara e no amplo pavilhão alemão.

Inicialmente pouco prestigiado em seu país, onde levou mais de dez anos para conseguir publicar seu primeiro romance (algo como "Sem Destino"), em 75, foi na Alemanha que ele foi reconhecido como um grande escritor.

"Ele era famoso na Hungria como tradutor de pensadores como Nietszche, Freud e Wittgenstein, mas não era levado muito a sério como escritor", disse à Folha o editor Csordás Gábor, amigo do Nobel. "Foi a partir de seu sucesso na Alemanha que ele se consagrou na Hungria."

Autor de 12 livros, um deles lançado no Brasil (com outras quatro obras a caminho), Kertész teve vitória justificada pela Academia Sueca por "sua escrita que leva adiante a frágil experiência do indivíduo contra a bárbara arbitrariedade da história".

É exatamente o que ressalta de sua literatura o diretor do Festival Internacional do Livro de Budapeste, Peter Laszlo Zent, que bradava no singelo estande húngaro: "Esperamos 200 anos por isso".

Para ele, o que faz de Kertész "genial" é que "ele contribuiu com uma obra toda muito marcada pela sua experiência em Auschwitz, mas não do ponto de vista da vítima". "Sua literatura é a da procura do humano no que há de mais desumano", resume Zent, em meio à balbúrdia instantânea que tomou conta do antes desértico pavilhão da Europa Oriental. Kertész, que ganhou o equivalente a US$ 1 milhão pelo Nobel, receberá o prêmio no dia 10 de dezembro, em Estocolmo.
 

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