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28/11/2002
-
08h22
ANTONIO ARRUDA
da Folha de S.Paulo
Sem o perdão, a humanidade pára, estanca, petrifica-se. "O perdão é uma necessidade absoluta para a continuidade da existência humana", escreveu o bispo africano Desmond Tutu na introdução do livro "Exploring Forgiveness" (explorando o perdão), do psicólogo norte-americano Robert Enright, diretor do Instituto Internacional do Perdão ( www.forgiveness-institute.org), da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos.
O livro é apenas uma das iniciativas de um movimento mundial que tem crescido nos últimos anos e cujo objetivo é pesquisar e propagar os benefícios do perdão. Encabeçado por cientistas, psicólogos, líderes políticos, entidades religiosas e até médicos, esse "mutirão" em prol do perdão mostra que perdoar vai além do discurso beatífico da "carola".
Pelo menos 50 pesquisas estão sendo realizadas atualmente, como parte de um programa chamado Campanha para a Pesquisa do Perdão (www.forgiving.org).
Vítimas da guerra no Vietnã, mães que perderam filhos no conflito entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte, casais que viveram a infidelidade conjugal e pessoas que tiveram parentes assassinados são exemplos do universo pesquisado.
Perdão de Andreas
Em um momento em que o país ainda está "digerindo" o assassinato de Marísia e Manfred von Richthofen, o filho do casal, Andreas, 15, declarou ter perdoado a irmã, Suzane, 19, pela participação no crime. "Não só perdoei minha irmã Su, mas continuo a amá-la", escreveu Andreas para a imprensa.
A atitude do jovem pode ter espantado muita gente, que, no lugar dele, talvez não perdoasse Suzane. Mas, se ele não tivesse tomado essa atitude, teria colocado um ponto final na relação com a irmã.
"O perdão possibilita que as relações interpessoais fluam. Andreas perdoou Suzane porque quer continuar se relacionando com ela", diz a psicanalista e colunista da Folha Anna Veronica Mautner.
Nesse sentido, diz o teólogo João Décio Passos, o perdão possibilita o processo civilizatório da humanidade. "O perdão é um recurso psicológico e social que regula as relações humanas."
É ele que permite que um casamento não acabe e que uma amizade tenha continuidade depois de um conflito, por exemplo, ou que as relações de trabalho sobrevivam em meio aos desentendimentos que costumam ocorrer em ambiente profissional.
Mas perdoar não significa necessariamente esquecer a mágoa. Quando os fatos foram dolorosos demais, nunca vão embora da memória. "Entretanto a pessoa pode se lembrar do apoio que obteve no momento de dor e fazer com que esse apoio minimize a lembrança dolorosa", disse à Folha o psicólogo americano Frederic Luskin, diretor do Projeto Perdão ( www.learningtoforgive.com), da Universidade de Stanford (EUA), e autor de "O Poder do Perdão".
Proteção da saúde
A medicina não recomenda viver amargurado, com rancor ou raiva contidos. Procurar minimizar o sofrimento -e isso vale tanto para quem toma a iniciativa de pedir perdão como para quem perdoa- é uma forma de proteger a saúde. "Se a pessoa acumula sentimentos negativos, pode desencadear uma série de transtornos não só psicológicos, mas físicos também", diz o psiquiatra José Atílio Bombana, da Unifesp. Por isso os médicos questionam a respeito do estado emocional do paciente -e devem fazer isso ativamente, diz José Antônio Atta, chefe do ambulatório do Hospital das Clínicas de São Paulo. "Se a pessoa consegue se livrar de um sentimento negativo crônico, com certeza isso pode acelerar sua recuperação", diz ele.
Sem perdão
Apesar de tantos benefícios -para o corpo, para a saúde psicológica e para as relações interpessoais-, a pessoa pode sentir uma dificuldade fora do comum para perdoar o outro ou ainda para pedir perdão a quem ela magoou. Se para tanto ela tiver de passar por cima de princípios básicos, tiver de questionar sua própria identidade, talvez deva esquecer a idéia, pois isso também pode fazer muito mal , diz Bombana.
Leia mais:
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Ritual de alguns povos pelo perdão inclui vômitos e sacrifícios
Veja quais são as doenças que o rancor pode causar ou acentuar
Perdoar faz bem ao corpo, à alma e às relações
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da Folha de S.Paulo
Sem o perdão, a humanidade pára, estanca, petrifica-se. "O perdão é uma necessidade absoluta para a continuidade da existência humana", escreveu o bispo africano Desmond Tutu na introdução do livro "Exploring Forgiveness" (explorando o perdão), do psicólogo norte-americano Robert Enright, diretor do Instituto Internacional do Perdão ( www.forgiveness-institute.org), da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos.
O livro é apenas uma das iniciativas de um movimento mundial que tem crescido nos últimos anos e cujo objetivo é pesquisar e propagar os benefícios do perdão. Encabeçado por cientistas, psicólogos, líderes políticos, entidades religiosas e até médicos, esse "mutirão" em prol do perdão mostra que perdoar vai além do discurso beatífico da "carola".
Pelo menos 50 pesquisas estão sendo realizadas atualmente, como parte de um programa chamado Campanha para a Pesquisa do Perdão (www.forgiving.org).
Vítimas da guerra no Vietnã, mães que perderam filhos no conflito entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte, casais que viveram a infidelidade conjugal e pessoas que tiveram parentes assassinados são exemplos do universo pesquisado.
Perdão de Andreas
Em um momento em que o país ainda está "digerindo" o assassinato de Marísia e Manfred von Richthofen, o filho do casal, Andreas, 15, declarou ter perdoado a irmã, Suzane, 19, pela participação no crime. "Não só perdoei minha irmã Su, mas continuo a amá-la", escreveu Andreas para a imprensa.
A atitude do jovem pode ter espantado muita gente, que, no lugar dele, talvez não perdoasse Suzane. Mas, se ele não tivesse tomado essa atitude, teria colocado um ponto final na relação com a irmã.
"O perdão possibilita que as relações interpessoais fluam. Andreas perdoou Suzane porque quer continuar se relacionando com ela", diz a psicanalista e colunista da Folha Anna Veronica Mautner.
Nesse sentido, diz o teólogo João Décio Passos, o perdão possibilita o processo civilizatório da humanidade. "O perdão é um recurso psicológico e social que regula as relações humanas."
É ele que permite que um casamento não acabe e que uma amizade tenha continuidade depois de um conflito, por exemplo, ou que as relações de trabalho sobrevivam em meio aos desentendimentos que costumam ocorrer em ambiente profissional.
Mas perdoar não significa necessariamente esquecer a mágoa. Quando os fatos foram dolorosos demais, nunca vão embora da memória. "Entretanto a pessoa pode se lembrar do apoio que obteve no momento de dor e fazer com que esse apoio minimize a lembrança dolorosa", disse à Folha o psicólogo americano Frederic Luskin, diretor do Projeto Perdão ( www.learningtoforgive.com), da Universidade de Stanford (EUA), e autor de "O Poder do Perdão".
Proteção da saúde
A medicina não recomenda viver amargurado, com rancor ou raiva contidos. Procurar minimizar o sofrimento -e isso vale tanto para quem toma a iniciativa de pedir perdão como para quem perdoa- é uma forma de proteger a saúde. "Se a pessoa acumula sentimentos negativos, pode desencadear uma série de transtornos não só psicológicos, mas físicos também", diz o psiquiatra José Atílio Bombana, da Unifesp. Por isso os médicos questionam a respeito do estado emocional do paciente -e devem fazer isso ativamente, diz José Antônio Atta, chefe do ambulatório do Hospital das Clínicas de São Paulo. "Se a pessoa consegue se livrar de um sentimento negativo crônico, com certeza isso pode acelerar sua recuperação", diz ele.
Sem perdão
Apesar de tantos benefícios -para o corpo, para a saúde psicológica e para as relações interpessoais-, a pessoa pode sentir uma dificuldade fora do comum para perdoar o outro ou ainda para pedir perdão a quem ela magoou. Se para tanto ela tiver de passar por cima de princípios básicos, tiver de questionar sua própria identidade, talvez deva esquecer a idéia, pois isso também pode fazer muito mal , diz Bombana.
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