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04/11/2002 - 12h48

EUA pregam abstinência para controlar Aids e gravidez na adolescência

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SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo, em Nova York

Sabe qual a única maneira de os adolescentes não se contaminarem com doenças sexualmente transmissíveis, não engravidarem (os meninos) e nem ficarem grávidas (as meninas)?

A abstinência sexual. Em português claro: não transando nunca, jamais.

Os parágrafos acima contêm uma verdade e um problema, pelo menos nos Estados Unidos. A verdade: não há médico do mundo que vá negar que o único método anticoncepcional e anti-Aids 100% seguro é a ausência da relação sexual. O problema: o governo norte-americano, sob o comando do republicano George W. Bush, quer que isso seja lei.

É verdade. Proposta pela parte mais conservadora do conservador Partido Republicano, uma medida que repousa no Congresso dos EUA limita o fornecimento de verbas federais apenas a instituições que preguem a abstinência sexual para adolescentes.

A lei afetaria todos os órgãos públicos e ONGs que lidam com a difusão de educação sexual -ou seja, de postos de saúde a entidades estudantis, passando por centros de arte etc. O texto é claro: quem defende o uso de camisinha e de pílulas anticoncepcionais como política sexual tem a verba cortada.

A cruzada é encabeçada pelo ultraconservador secretário da Justiça norte-americano, John Ashcroft, e conta com o apoio da direita do partido Republicano e com a chancela do presidente Bush, ele próprio um defensor da abstinência sexual teen.

Enquanto a medida não é aprovada, o governo reservou só neste ano uma verba de quase US$ 30 milhões em forma de subsídios, destinados a centros de saúde, escolas e igrejas que realizem reuniões com o objetivo de convencer adolescentes a não terem relações sexuais antes do casamento. No ano que vem, a verba federal aumenta para US$ 135 milhões.

Mais: na primeira sessão especial sobre a infância da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada neste ano, o secretário da Saúde norte-americano, Tommy Thomson, batalhou para que fossem retirados do documento final do encontro referências a programas de educação sexual e de planejamento familiar.

"Como bem disse o presidente Bush, a abstinência é a única forma segura de evitar a transmissão de doenças sexuais, a gravidez precoce e as dificuldades sociais e pessoais geradas pelo sexo fora do casamento", afirmou.

De fato, o sexo adolescente é um problema não só social como econômico nos EUA, que, com seus 270 milhões de habitantes, detêm o recorde de gravidez teen no mundo, 1 milhão de meninas por ano, segundo a organização Planned Parenthood.

Além disso, 25% das doenças sexualmente transmissíveis afetam adolescentes -ou seja, de cada quatro americanos que ficam doentes por conta de sua vida sexual, um deles é menor de idade. Por fim, de acordo com o Brookings Institute, a gravidez adolescente custa US$ 7 bilhões por ano aos cofres públicos.

"Tudo isso é verdade, mas o programa defendido pelo governo, seja na coerção da medida, seja no custeio de instituições conservadoras, não funciona", diz o médico Michael Carrera, fundador da conceituada Children's Aid Society, de Nova York, que lida com o tema há 18 anos.

O motivo? "Porque eles mentem para os adolescentes dizendo que qualquer contato sexual vai devastar suas vidas e que anticoncepcionais não funcionam", acredita Carrera. "E não é com mentira que você vai convencer os adolescentes a fazer nada."

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