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10/10/2000
-
10h40
especial para a Folha de S.Paulo
25 de janeiro de 1984. Praça da Sé, São Paulo. Um milhão de pessoas reúnem-se num comício exigindo eleições para a Presidência da República. O movimento, denominado "Diretas já", abarcava toda a oposição e dissidentes do regime militar.
No entanto a vitória não estava garantida. A maior emissora de TV do país omitia a campanha de seu noticiário. Na noite daquele 25 de janeiro, seu telejornal exibiu imagem da praça com uma criativa explicação do apresentador: "Milhares de pessoas reúnem-se na Sé para comemorar o aniversário de São Paulo". A tensão estava no ar.
Nem mesmo as antigas palavras de ordem "Abaixo a ditadura" ou "O povo unido jamais será vencido" conseguiam dissipar o receio de uma intervenção militar. Durante a execução do Hino Nacional, muitos se emocionavam até as lágrimas. Nos anos da ditadura, o Hino fora tomado como símbolo do regime militar. Cantá-lo naquela situação tinha um indisfarçável sabor contestatório.
Por meio da emenda constitucional denominada Dante de Oliveira, a oposição procurava colocar o Congresso Nacional em sintonia com as praças públicas. Diversos outros comícios reuniram milhões de pessoas por todo o país. Não festejavam o aniversário de suas cidades. Exigiam o fim da ditadura.
Porém, em 25 de abril de 1984, não se obtiveram os votos necessários à aprovação da emenda. A maioria dos deputados do PDS, partido de sustentação do regime, votou contra ou então ausentou-se do plenário.
Nas praças, as multidões criavam um novo slogan: "O povo não esquece, acabou o PDS". Antecipando o que viria a ocorrer em 1993, quando o PDS virou PPR, e em 1995, quando novamente a sigla foi alterada, desta vez para PPB. Mas quem se lembra?
O atual quadro partidário brasileiro constituiu-se em três momentos decisivos. Em 1966, após a extinção de todas as agremiações políticas, foi instituído o bipartidarismo. Os defensores do regime articularam-se na Arena. A oposição fundou o MDB. Em 1980, já no contexto da abertura política, o governo estimulou o pluripartidarismo. Foram formados cinco partidos: PDS (a antiga Arena), PMDB, PTB, PDT e PT. Em 1985, já no governo José Sarney, foi permitida a livre organização política, o que culminou na legalização de diversos outros partidos de esquerda e de direita.
Ironia brasileira. Sarney, o primeiro presidente civil depois de 20 anos de ditadura, era, até abril de 1984, presidente do PDS. O povo não esquece?
Flavio de Campos é autor de "Oficina de História", da Editora Moderna, e professor de história do colégio Móbile
Leia mais sobre vestibular no Fovest Online
Leia mais notícias de educação na Folha Online
RESUMÃO/HISTÓRIA: Os partidos têm história
FLAVIO DE CAMPOSespecial para a Folha de S.Paulo
25 de janeiro de 1984. Praça da Sé, São Paulo. Um milhão de pessoas reúnem-se num comício exigindo eleições para a Presidência da República. O movimento, denominado "Diretas já", abarcava toda a oposição e dissidentes do regime militar.
No entanto a vitória não estava garantida. A maior emissora de TV do país omitia a campanha de seu noticiário. Na noite daquele 25 de janeiro, seu telejornal exibiu imagem da praça com uma criativa explicação do apresentador: "Milhares de pessoas reúnem-se na Sé para comemorar o aniversário de São Paulo". A tensão estava no ar.
Nem mesmo as antigas palavras de ordem "Abaixo a ditadura" ou "O povo unido jamais será vencido" conseguiam dissipar o receio de uma intervenção militar. Durante a execução do Hino Nacional, muitos se emocionavam até as lágrimas. Nos anos da ditadura, o Hino fora tomado como símbolo do regime militar. Cantá-lo naquela situação tinha um indisfarçável sabor contestatório.
Por meio da emenda constitucional denominada Dante de Oliveira, a oposição procurava colocar o Congresso Nacional em sintonia com as praças públicas. Diversos outros comícios reuniram milhões de pessoas por todo o país. Não festejavam o aniversário de suas cidades. Exigiam o fim da ditadura.
Porém, em 25 de abril de 1984, não se obtiveram os votos necessários à aprovação da emenda. A maioria dos deputados do PDS, partido de sustentação do regime, votou contra ou então ausentou-se do plenário.
Nas praças, as multidões criavam um novo slogan: "O povo não esquece, acabou o PDS". Antecipando o que viria a ocorrer em 1993, quando o PDS virou PPR, e em 1995, quando novamente a sigla foi alterada, desta vez para PPB. Mas quem se lembra?
O atual quadro partidário brasileiro constituiu-se em três momentos decisivos. Em 1966, após a extinção de todas as agremiações políticas, foi instituído o bipartidarismo. Os defensores do regime articularam-se na Arena. A oposição fundou o MDB. Em 1980, já no contexto da abertura política, o governo estimulou o pluripartidarismo. Foram formados cinco partidos: PDS (a antiga Arena), PMDB, PTB, PDT e PT. Em 1985, já no governo José Sarney, foi permitida a livre organização política, o que culminou na legalização de diversos outros partidos de esquerda e de direita.
Ironia brasileira. Sarney, o primeiro presidente civil depois de 20 anos de ditadura, era, até abril de 1984, presidente do PDS. O povo não esquece?
Flavio de Campos é autor de "Oficina de História", da Editora Moderna, e professor de história do colégio Móbile
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