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23/01/2001
-
13h05
especial para a Folha de S.Paulo
A necessidade de voltar à Antiguidade greco-romana esteve presente em toda a Idade Média. Era como se o homem medieval nunca tivesse esquecido sua origem greco-romana. Mas essa relação com a Antiguidade não representava o desejo nostálgico de retornar a ela. Os homens medievais sabiam que já eram "outros homens", diferentes dos da Antiguidade.
Queriam o poder, a ciência, a arte e a filosofia dos antigos adaptada ao seu mundo. Fazer renascer a produção intelectual da Antiguidade não significava retornar ao mundo antigo, significava criar a partir dos antigos.
Uma dessas buscas de retorno à Antiguidade foi a escolástica: a aplicação dos ensinamentos de Aristóteles à religião. A fé, para os escolásticos, embora não fosse oriunda da razão, não era contrária a ela. Por meio da razão, eles procuravam provar o que já consideravam verdade por meio da fé. Nessa busca, criaram nova síntese entre o pensamento cristão e a filosofia grega.
Santo Tomás de Aquino (1225-1274) foi o mais destacado dos escolásticos. Cristão devoto, ele dividia a verdade revelada em duas categorias: crenças cuja verdade podia ser demonstrada pela razão e crenças cuja veracidade ou falsidade a razão não podia provar. Ele acreditava, por exemplo, que a especulação filosófica podia provar a existência de Deus e a imortalidade da alma humana, mas não podia provar as doutrinas da Trindade, da Encarnação e da Redenção. Considerava que a revelação não era inimiga da razão, mas a complementava e aperfeiçoava. A razão não devia ser temida, pois era outro caminho para Deus.
De acordo com Tomás de Aquino, à medida que o raciocínio humano se tornava mais eficiente, também se tornava mais cristão. Havia toda uma ampla gama de conhecimentos não revelados por Deus e que não eram necessários à salvação. Nessa categoria, enquadrava-se grande parte do conhecimento sobre o mundo natural das coisas e das criaturas que os seres humanos teriam perfeita liberdade de explorar. Nas questões não-teológicas, a razão era o único guia.
Juntos, Deus e inteligência. Amar o intelecto era honrar a Deus. Sintetizar o aristotelismo e a revelação divina do cristianismo era o projeto de Aquino.
Santo Tomás insistia em que grande parte daquilo que Aristóteles tinha a dizer sobre o homem era certo, mas o filósofo não tinha o conhecimento de Deus. Não tinha a visão proporcionada pela revelação, que permitiria ao homem aperfeiçoar seus ensinamentos.
Renan Garcia Miranda é autor da "Oficina de História", Editora Moderna, e professor de história do Anglo Vestibulares
Resumão/história 2 - O homem medieval e a Antiguidade
RENAN GARCIA MIRANDAespecial para a Folha de S.Paulo
A necessidade de voltar à Antiguidade greco-romana esteve presente em toda a Idade Média. Era como se o homem medieval nunca tivesse esquecido sua origem greco-romana. Mas essa relação com a Antiguidade não representava o desejo nostálgico de retornar a ela. Os homens medievais sabiam que já eram "outros homens", diferentes dos da Antiguidade.
Queriam o poder, a ciência, a arte e a filosofia dos antigos adaptada ao seu mundo. Fazer renascer a produção intelectual da Antiguidade não significava retornar ao mundo antigo, significava criar a partir dos antigos.
Uma dessas buscas de retorno à Antiguidade foi a escolástica: a aplicação dos ensinamentos de Aristóteles à religião. A fé, para os escolásticos, embora não fosse oriunda da razão, não era contrária a ela. Por meio da razão, eles procuravam provar o que já consideravam verdade por meio da fé. Nessa busca, criaram nova síntese entre o pensamento cristão e a filosofia grega.
Santo Tomás de Aquino (1225-1274) foi o mais destacado dos escolásticos. Cristão devoto, ele dividia a verdade revelada em duas categorias: crenças cuja verdade podia ser demonstrada pela razão e crenças cuja veracidade ou falsidade a razão não podia provar. Ele acreditava, por exemplo, que a especulação filosófica podia provar a existência de Deus e a imortalidade da alma humana, mas não podia provar as doutrinas da Trindade, da Encarnação e da Redenção. Considerava que a revelação não era inimiga da razão, mas a complementava e aperfeiçoava. A razão não devia ser temida, pois era outro caminho para Deus.
De acordo com Tomás de Aquino, à medida que o raciocínio humano se tornava mais eficiente, também se tornava mais cristão. Havia toda uma ampla gama de conhecimentos não revelados por Deus e que não eram necessários à salvação. Nessa categoria, enquadrava-se grande parte do conhecimento sobre o mundo natural das coisas e das criaturas que os seres humanos teriam perfeita liberdade de explorar. Nas questões não-teológicas, a razão era o único guia.
Juntos, Deus e inteligência. Amar o intelecto era honrar a Deus. Sintetizar o aristotelismo e a revelação divina do cristianismo era o projeto de Aquino.
Santo Tomás insistia em que grande parte daquilo que Aristóteles tinha a dizer sobre o homem era certo, mas o filósofo não tinha o conhecimento de Deus. Não tinha a visão proporcionada pela revelação, que permitiria ao homem aperfeiçoar seus ensinamentos.
Renan Garcia Miranda é autor da "Oficina de História", Editora Moderna, e professor de história do Anglo Vestibulares
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