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23/01/2001
-
13h02
especial para a Folha de S.Paulo
Você certamente já ouviu muitos conselhos sobre como fazer uma boa redação. A maior preocupação costuma ser o conteúdo do texto, que vem das leituras que você faz e da sua capacidade de articulação e hierarquização de idéias. Mas isso ainda não é tudo.
Alguns redatores, em geral principiantes, parecem acreditar que o texto ganha em beleza ou elegância quando se empregam termos pouco usuais. E, depois de alguma pesquisa, substituem o "viajante" pelo "viajor" e o "estridente" pelo "estrídulo". No lugar de "escurecer", cravam "obnubilar". Muitas vezes, o resultado da experiência é desastroso, pois as escolhas soam artificiais, sem vínculo com as sensações e os pensamentos de quem escreve.
Outros procedem de maneira diversa. Em vez de buscarem os preciosismos de linguagem, recorrem às expressões mais comuns e já desgastadas. Fazem uso de grupos semânticos fixos. Com certeza, você já ouviu estas séries de substantivos e adjetivos: "inconsolável viúva", "amarga decepção", "doce esperança", "luar prateado", "infame caluniador", "silêncio sepulcral".
Nem é preciso dizer que o emprego dessas expressões empobrece o texto. São consideradas clichês ou lugares-comuns. Na maioria dos casos, têm origem imprecisa, mas é fato que os meios de comunicação de massa são grandes divulgadores e até criadores de modismos linguísticos, que nada mais são que chavões cujo uso se intensifica em dado momento. Um espetáculo "acontece" ou é "imperdível", a Bolsa de Valores "despenca", uma questão é "colocada".
Criam-se verdadeiras receitas. Para reclamar, é só "botar a boca no trombone"; para alertar a população sobre o aumento da criminalidade, lança-se mão da "escalada da violência"; se o problema são os preços altos, basta dizer que "pesam no bolso do consumidor". Para indicar o prenúncio de algo, saca-se o "fantasma", que pode ser o da inflação, o da recessão, o do desemprego.
A falta de imaginação, às vezes, é tanta que o redator apela para o dicionário e começa o texto citando alguma definição extraída de lá, que, invariavelmente, é antecedida da fórmula "segundo o mestre Aurélio...". A palavra "novela", em sentido figurado, é outro clichê de largo uso na imprensa (a novela da venda das estatais, a novela da fusão das cervejarias etc.).
Revitalizar um clichê, tirando-o de seu contexto habitual é uma prática que pode render bons resultados. A verdade é que o melhor estilo é o original. É bom treinar e aperfeiçoar-se todos os dias.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha e apresentadora das aulas de gramática do programa "Vestibulando", da TV Cultura
Resumão/português 2 - Sobre modismos e lugares-comuns
THAÍS NICOLETI DE CAMARGOespecial para a Folha de S.Paulo
Você certamente já ouviu muitos conselhos sobre como fazer uma boa redação. A maior preocupação costuma ser o conteúdo do texto, que vem das leituras que você faz e da sua capacidade de articulação e hierarquização de idéias. Mas isso ainda não é tudo.
Alguns redatores, em geral principiantes, parecem acreditar que o texto ganha em beleza ou elegância quando se empregam termos pouco usuais. E, depois de alguma pesquisa, substituem o "viajante" pelo "viajor" e o "estridente" pelo "estrídulo". No lugar de "escurecer", cravam "obnubilar". Muitas vezes, o resultado da experiência é desastroso, pois as escolhas soam artificiais, sem vínculo com as sensações e os pensamentos de quem escreve.
Outros procedem de maneira diversa. Em vez de buscarem os preciosismos de linguagem, recorrem às expressões mais comuns e já desgastadas. Fazem uso de grupos semânticos fixos. Com certeza, você já ouviu estas séries de substantivos e adjetivos: "inconsolável viúva", "amarga decepção", "doce esperança", "luar prateado", "infame caluniador", "silêncio sepulcral".
Nem é preciso dizer que o emprego dessas expressões empobrece o texto. São consideradas clichês ou lugares-comuns. Na maioria dos casos, têm origem imprecisa, mas é fato que os meios de comunicação de massa são grandes divulgadores e até criadores de modismos linguísticos, que nada mais são que chavões cujo uso se intensifica em dado momento. Um espetáculo "acontece" ou é "imperdível", a Bolsa de Valores "despenca", uma questão é "colocada".
Criam-se verdadeiras receitas. Para reclamar, é só "botar a boca no trombone"; para alertar a população sobre o aumento da criminalidade, lança-se mão da "escalada da violência"; se o problema são os preços altos, basta dizer que "pesam no bolso do consumidor". Para indicar o prenúncio de algo, saca-se o "fantasma", que pode ser o da inflação, o da recessão, o do desemprego.
A falta de imaginação, às vezes, é tanta que o redator apela para o dicionário e começa o texto citando alguma definição extraída de lá, que, invariavelmente, é antecedida da fórmula "segundo o mestre Aurélio...". A palavra "novela", em sentido figurado, é outro clichê de largo uso na imprensa (a novela da venda das estatais, a novela da fusão das cervejarias etc.).
Revitalizar um clichê, tirando-o de seu contexto habitual é uma prática que pode render bons resultados. A verdade é que o melhor estilo é o original. É bom treinar e aperfeiçoar-se todos os dias.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha e apresentadora das aulas de gramática do programa "Vestibulando", da TV Cultura
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