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19/12/2000
-
10h25
especial para a Folha de S.Paulo
Com o fim da Guerra Fria, o conflito Leste-Oeste foi substituído pelo conflito Norte-Sul. Substituímos, nos anos 90, as tensões ideológicas pelas (em breve superadas) tensões econômicas do capitalismo. Esse seria um bom início de síntese da última década do século 20. Seria, se não fossem alguns aspectos:
A República Popular da China não parece disposta a colocar cegamente seu pescoço na guilhotina da economia de mercado, pois entende que as regras do mercado (OMC) favorecem apenas os que criaram as regras do comércio global (G-7).
A explosão de nacionalismos pelo mundo inteiro sugere o nascimento de uma "era das picuinhas". Às tensões "tradicionais" (curdos, Tibet, bascos, Irlanda, palestinos-israelenses, Angola), somam-se outras, que, antes sufocadas pela "pax" da Guerra Fria, afloraram e ganharam corpo neste mundo sem xerifes, em especial, dentro do antigo espaço soviético e da África: Tchetchênia, na Federação Russa; Ossétia do Sul e Abkházia, na Geórgia; Iugoslávia dividida em cinco países; Taliban x Fiusa, no Afeganistão; Caxemira disputada pela Índia e pelo Paquistão; Timor Leste; guerras civis na África.
O aumento da pobreza e da miséria em todos os países do mundo (alguns ricos ficaram muito mais ricos e muitos pobres ficaram muito mais pobres, doentes e famintos) explica, em parte, a expansão do fundamentalismo religioso na África, na Índia e no Oriente Médio, o aumento do crime em todos os seus matizes e em todos os quadrantes do planeta e a disseminação de movimentos populares, como o MST, no Brasil, as guerrilhas no México (zapatistas) e na Colômbia (Farc).
Os aparentemente monolíticos blocos econômicos da Nova Ordem possuem profundas trincas internas: a União Européia não consegue salvar Maastricht e implementar o euro; a ultra-sonografia da Alca, com parto previsto para 2005, mostra que o feto possui algumas doenças congênitas como a síndrome de Maradona-Pelé, na qual uma parte da célula procura anular a outra, a megalomania estadunidense, o mal do Chile, a febre cubana e a gripe espanhola (Santander e Telefônica, para não falar de outras). O parto será prematuro.
O Pacífico é misterioso: a China olha para Taiwan e lambe os beiços com apetite; a economia japonesa afunda lânguida e inexoravelmente, sacudida por alguns tremores e erupções como a placa do Pacífico que mergulha sob a placa Asiática; a Austrália não sabe se é Apec ou é Commonwealth; as Coréias estão flertando uma com a outra; a República Socialista do Vietnã recebeu mr. Bill Clinton, presidente dos EUA, de braços e cofres abertos.
Não há uma Nova Ordem. Estamos na fase pós-mudança de casa: tudo espalhado, objetos quebrados e perdidos. Esse é o nosso fardo no século 21: arrumar e montar a casa. Como queremos e merecemos.
Márcio Masatoshi Kondo é professor da Cia. de Ética, do Objetivo de Americana e do Positivo de Capivari
Resumão/geografia - As tensões deste fim de década
MARCIO MASATOSHI KONDOespecial para a Folha de S.Paulo
Com o fim da Guerra Fria, o conflito Leste-Oeste foi substituído pelo conflito Norte-Sul. Substituímos, nos anos 90, as tensões ideológicas pelas (em breve superadas) tensões econômicas do capitalismo. Esse seria um bom início de síntese da última década do século 20. Seria, se não fossem alguns aspectos:
Não há uma Nova Ordem. Estamos na fase pós-mudança de casa: tudo espalhado, objetos quebrados e perdidos. Esse é o nosso fardo no século 21: arrumar e montar a casa. Como queremos e merecemos.
Márcio Masatoshi Kondo é professor da Cia. de Ética, do Objetivo de Americana e do Positivo de Capivari
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