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14/11/2000 - 12h33

Resumão/português - Algumas linhas sobre Camões

THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
especial para a Folha de S.Paulo

A alguns dias da realização da primeira prova da Fuvest, vale a pena concentrar-se em tudo o que já estudou e deixar a ansiedade de lado. Espera-se que as questões de gramática, pelo menos em parte, sejam apoiadas em trechos das obras literárias selecionadas para o exame, conforme ocorreu no ano passado.

Da poesia épica de Camões, foram escolhidos os episódios "Inês de Castro" e "O Velho do Restelo". Vamos rever um fragmento do primeiro dos pontos de vista gramatical e estilístico.

Nas belas e comoventes palavras de Inês de Castro, que tenta dissuadir o rei do cruel intento de matá-la, lemos: "Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito/ (Se de humano é matar uma donzela,/ Fraca e sem força, só por ter sujeito/ O coração a quem soube vencê-la),/ A estas criancinhas tem respeito,/ Pois o não tens à morte escura dela;/ Mova-te a piedade sua e minha,/ Pois te não move a culpa que não tinha".

É interessante prestar atenção às formas verbais empregadas no trecho. O tratamento conferido ao rei é o de segunda pessoa do singular, como se vê no vocativo que inicia a estrofe. Seguem-se verbos no presente do indicativo e no imperativo afirmativo, modo verbal adequado à súplica que a moça empreende.

A forma "tem", em "A estas criancinhas tem respeito", é o imperativo do verbo "ter", não o presente. Vale lembrar que o imperativo afirmativo das segundas pessoas se faz conjugando o verbo no presente do indicativo e suprimindo o "s" final.

Em "Mova-te a piedade sua e minha", temos uma oração optativa (que exprime desejo), cujo sujeito é a expressão "a piedade". O pronome "sua" refere-se às criancinhas. Ou seja: Inês espera que o rei seja comovido pela piedade dela e dos filhos e, assim, poupe a sua vida. Se ele não se move pela justiça, que se mova pela compaixão.

A oração "que tens de humano o gesto e o peito" é uma subordinada adjetiva explicativa, por meio da qual se confere um atributo ao rei. A ela se apõe uma restrição, que aparece entre parênteses, como se fosse uma informação secundária. Trata-se aqui de uma subordinada adverbial condicional. D. Afonso será mesmo "humano"? Só se humano for matá-la ou, como está implícito, se não matá-la.

Percebe-se um raciocínio argumentativo no discurso de Inês, o que, de certa forma, justifica o uso pleonástico da imagem "donzela fraca e sem força", cujo vigor é indiscutível.
Embora comovido com as palavras de Inês, o rei faz a vontade dos cortesãos, que viam na moça a sombra da ameaça espanhola à Coroa portuguesa.

Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha e apresentadora das aulas de gramática do programa "Vestibulando", da TV Cultura.

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