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14/11/2002
-
13h58
da Folha de S.Paulo
O estudo tradicional das orações coordenadas e subordinadas, ainda apegado à nomenclatura gramatical, nem sempre dá o devido destaque às relações semânticas mais sutis. A ânsia de enquadrar as tantas possibilidades de expressão em um sistema fechado leva alguns professores a deixar de lado boa parte das realizações da língua -justamente aquelas mais difíceis de "classificar".
Um período como: "Agiu como criança", apesar de aparentemente simples (contém um só verbo), na verdade, é composto. A segunda oração, que é o segundo membro de uma comparação, tem o verbo subentendido ("Agiu como criança age"). A supressão da palavra referida antes representa uma economia. É o que, em estilística, se chama zeugma.
Essa é a construção mais freqüente nas orações subordinadas adverbiais comparativas -a repetição do verbo, também possível, ocorre, sobretudo, quando a intenção é criar ênfase. Por exemplo: "Trocava de namorada como trocava de camisa"(!). Nesse caso, embora o verbo seja o mesmo, os complementos são distintos, pertencentes a campos semânticos diversos. A repetição do verbo garante o paralelismo sintático da frase, enquanto o paralelismo semântico é rompido para que se obtenha um efeito de estilo.
Em uma construção como: "Ergueu os braços como se fosse agredi-la", a idéia de comparação aparece aliada à de condição, o que se expressa pela seqüência de conjunções "como se". A esse tipo de oração chamamos "comparativa hipotética". Nesse caso, também houve uma elipse de termos subentendidos. Se desdobrássemos o período, obteríamos: "Ergueu os braços como os ergueria se fosse agredi-la". A oração condicional assimila-se à comparativa e, juntas, subordinam-se à oração principal.
Pares alternativos também podem exprimir noções que extrapolam as idéias de alternância ou de exclusão. Em um período como: "Quer queira, quer não, nós o avisaremos", as orações coordenadas alternativas apresentam, juntas, valor concessivo em relação à terceira oração.
Já num enunciado do tipo: "Ou você se apressa, ou chegará atrasado", embora as conjunções indiquem relação de alternância, parece sobressair a idéia de condição, isto é: "Se não se apressar, você chegará atrasado".
As provas de português dos principais vestibulares do país, como a da Fuvest, vêm mostrando a necessidade de reformular os modelos de ensino da língua materna, muitas vezes preterindo a aferição da nomenclatura gramatical em favor da avaliação da competência lingüística.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha
Português: Classificação de orações nem sempre é eficaz
THAÍS NICOLETI DE CAMARGOda Folha de S.Paulo
O estudo tradicional das orações coordenadas e subordinadas, ainda apegado à nomenclatura gramatical, nem sempre dá o devido destaque às relações semânticas mais sutis. A ânsia de enquadrar as tantas possibilidades de expressão em um sistema fechado leva alguns professores a deixar de lado boa parte das realizações da língua -justamente aquelas mais difíceis de "classificar".
Um período como: "Agiu como criança", apesar de aparentemente simples (contém um só verbo), na verdade, é composto. A segunda oração, que é o segundo membro de uma comparação, tem o verbo subentendido ("Agiu como criança age"). A supressão da palavra referida antes representa uma economia. É o que, em estilística, se chama zeugma.
Essa é a construção mais freqüente nas orações subordinadas adverbiais comparativas -a repetição do verbo, também possível, ocorre, sobretudo, quando a intenção é criar ênfase. Por exemplo: "Trocava de namorada como trocava de camisa"(!). Nesse caso, embora o verbo seja o mesmo, os complementos são distintos, pertencentes a campos semânticos diversos. A repetição do verbo garante o paralelismo sintático da frase, enquanto o paralelismo semântico é rompido para que se obtenha um efeito de estilo.
Em uma construção como: "Ergueu os braços como se fosse agredi-la", a idéia de comparação aparece aliada à de condição, o que se expressa pela seqüência de conjunções "como se". A esse tipo de oração chamamos "comparativa hipotética". Nesse caso, também houve uma elipse de termos subentendidos. Se desdobrássemos o período, obteríamos: "Ergueu os braços como os ergueria se fosse agredi-la". A oração condicional assimila-se à comparativa e, juntas, subordinam-se à oração principal.
Pares alternativos também podem exprimir noções que extrapolam as idéias de alternância ou de exclusão. Em um período como: "Quer queira, quer não, nós o avisaremos", as orações coordenadas alternativas apresentam, juntas, valor concessivo em relação à terceira oração.
Já num enunciado do tipo: "Ou você se apressa, ou chegará atrasado", embora as conjunções indiquem relação de alternância, parece sobressair a idéia de condição, isto é: "Se não se apressar, você chegará atrasado".
As provas de português dos principais vestibulares do país, como a da Fuvest, vêm mostrando a necessidade de reformular os modelos de ensino da língua materna, muitas vezes preterindo a aferição da nomenclatura gramatical em favor da avaliação da competência lingüística.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha
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