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07/11/2000
-
10h08
especial para a Folha de S.Paulo
Segundo Marx, os grandes fatos da história se repetem. Na primeira vez, como tragédia; na segunda, como farsa. É certo que, em tempos de consumo de novidades, o ilustre filósofo alemão não goza mais do prestígio de outrora.
Ainda assim, suas palavras são oportunas para a análise de acontecimentos recentes.
Em abril deste ano, ocorreram as comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil. A grande festa foi organizada na Bahia e contou com a presença dos presidentes do Brasil e de Portugal. O papa João Paulo 2º enviou telegrama de felicitações. As emissoras de TV de todo o mundo noticiaram os festejos. Mas nem tudo saiu como o previsto.
Estudantes, sem-terra, ativistas do movimento negro e lideranças indígenas aproveitaram a ocasião para expressar suas críticas ao governo e à sociedade brasileira.
Defensora da ordem, a PM baiana recebeu os manifestantes com bombas de gás, cassetetes e bloqueios nas principais estradas de acesso a Porto Seguro. O que se viu foi uma profusão de cenas de índios, negros e brancos espanca dos e presos pelos policiais.
Em meio à missa que relembra va a primeira de 500 anos atrás, um índio pataxó conseguiu fazer um discurso contundente: "Foram 500 anos de sofrimento, massacre, exclusão, preconceito, exploração, extermínio de nossos parentes, aculturamento, estupro de nossas mulheres e de devasta
ção de nossas terras, de nossas matas, que nos tomaram com a invasão". Uma verdadeira aula de história.
Por trás da formulação Descobrimento do Brasil encobrem-se conceitos equivocados. Não há descobrimento, pela obviedade de que os nativos já conheciam essa terra. Mais grave ainda, não havia Brasil, e sim colônias portuguesas na América.
Só a partir de 1774 as regiões de São José do Rio Negro, Grão-Pará e Maranhão passaram a fazer parte do então vice-reino do Brasil, com capital no Rio de Janeiro.
Melhor falar em conquista colonial, continuação da Reconquista ibérica, que inaugura uma crescente economia mundial assentada em trocas mercantis entre os continentes. E que funda também a história universal, ligando irreversivelmente os destinos particulares de todos os povos a um
destino comum, num longo processo que resultará na montagem dos Estados nacionais, entre os quais o Brasil, e no surgimento do capitalismo.
Mesmo deslocada de seu contexto original, vale lembrar uma outra célebre frase de Marx: "A tradição de todas as gerações mortas pesa sobre o cérebro dos vivos como um pesadelo".
Flavio de Campos é autor de "Oficina de História", da Editora Moderna, professor de história do colégio Móbile e coordenador da Cia. de Ética
Leia mais sobre vestibular no Fovest Online
RESUMÃO/HISTÓRIA: Outros 500
FLAVIO DE CAMPOSespecial para a Folha de S.Paulo
Segundo Marx, os grandes fatos da história se repetem. Na primeira vez, como tragédia; na segunda, como farsa. É certo que, em tempos de consumo de novidades, o ilustre filósofo alemão não goza mais do prestígio de outrora.
Ainda assim, suas palavras são oportunas para a análise de acontecimentos recentes.
Em abril deste ano, ocorreram as comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil. A grande festa foi organizada na Bahia e contou com a presença dos presidentes do Brasil e de Portugal. O papa João Paulo 2º enviou telegrama de felicitações. As emissoras de TV de todo o mundo noticiaram os festejos. Mas nem tudo saiu como o previsto.
Estudantes, sem-terra, ativistas do movimento negro e lideranças indígenas aproveitaram a ocasião para expressar suas críticas ao governo e à sociedade brasileira.
Defensora da ordem, a PM baiana recebeu os manifestantes com bombas de gás, cassetetes e bloqueios nas principais estradas de acesso a Porto Seguro. O que se viu foi uma profusão de cenas de índios, negros e brancos espanca dos e presos pelos policiais.
Em meio à missa que relembra va a primeira de 500 anos atrás, um índio pataxó conseguiu fazer um discurso contundente: "Foram 500 anos de sofrimento, massacre, exclusão, preconceito, exploração, extermínio de nossos parentes, aculturamento, estupro de nossas mulheres e de devasta
ção de nossas terras, de nossas matas, que nos tomaram com a invasão". Uma verdadeira aula de história.
Por trás da formulação Descobrimento do Brasil encobrem-se conceitos equivocados. Não há descobrimento, pela obviedade de que os nativos já conheciam essa terra. Mais grave ainda, não havia Brasil, e sim colônias portuguesas na América.
Só a partir de 1774 as regiões de São José do Rio Negro, Grão-Pará e Maranhão passaram a fazer parte do então vice-reino do Brasil, com capital no Rio de Janeiro.
Melhor falar em conquista colonial, continuação da Reconquista ibérica, que inaugura uma crescente economia mundial assentada em trocas mercantis entre os continentes. E que funda também a história universal, ligando irreversivelmente os destinos particulares de todos os povos a um
destino comum, num longo processo que resultará na montagem dos Estados nacionais, entre os quais o Brasil, e no surgimento do capitalismo.
Mesmo deslocada de seu contexto original, vale lembrar uma outra célebre frase de Marx: "A tradição de todas as gerações mortas pesa sobre o cérebro dos vivos como um pesadelo".
Flavio de Campos é autor de "Oficina de História", da Editora Moderna, professor de história do colégio Móbile e coordenador da Cia. de Ética
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