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05/11/2002 - 10h04

Lagarto fêmea escolhe macho pelas posses

RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S.Paulo

Fêmeas que normalmente fariam sexo com os machos maiores e donos dos melhores territórios se mudaram rapidinho para o território de machos menores, assim que eles passaram a ser proprietários dos melhores locais. Mas mesmo assim elas não deixam de fazer sexo com os machos mais vistosos, havendo a chance.

Essas fêmeas "interesseiras" foram descobertas na Califórnia, Costa Oeste dos EUA. Pertencem à espécie de lagarto-pintado conhecida pelo nome científico Uta stansburiana, um animal pequeno, do tamanho de uma lagartixa.

A descoberta resultou de um experimento feito por dois pesquisadores da Universidade da Califórnia, Ryan Calsbeek e Barry Sinervo, respectivamente dos campi de Los Angeles e Santa Cruz. Eles notaram que os machos mais fortes e aptos viviam em territórios com mais rochas.

Essas pedras servem para o bicho se esconder dos predadores e têm uma função vital para regulação da temperatura -eles ficam "lagarteando" em cima das pedras, se aquecendo ao Sol, e para resfriar-se vão para a sombra, também provida por uma boa pilha de pedras.

Pedras lisas para tomar sol, com boa visão do terreno à volta, boa sombra e um macho vistoso tomando conta, são irresistíveis para as fêmeas. Cobras, principais predadores dos lagartos, aparecem mais nos terrenos piores.

Calsbeek e Sinervo fizeram o estudo no próprio deserto, transformando o terreno ao mudar pedras do território dos machos grandes para as áreas dos machos mais fraquinhos.

O resultado foi avassalador. Houve uma debandada de fêmeas para os novos terrenos melhorados -37 das 51 fêmeas observadas se mudaram para o território dos machos menores, enquanto nenhum dos 54 machos deixou seu território inicial.

As fêmeas e os machos da espécie Uta stansburiana são altamente promíscuos: 81% dos conjuntos de ovos mostraram paternidade múltipla. O sêmen dos machos armazenado na fêmea pode resultar em novas ninhadas, mesmo após sua morte.

Os pesquisadores usaram testes de paternidade de DNA para mostrar que, apesar de terem abandonado o território dos machos grandes, as fêmeas continuavam copulando com eles. E mais: usavam o sêmen dos machos grandes para produzir filhotes machos, e o dos machos pequenos para produzir filhotes fêmeas.

"O reconhecimento do esperma é facilitado em muitas espécies por apenas uns poucos genes expressados como sinais de proteínas na superfície do gameta [a célula sexual, espermatozóide ou óvulo]. É provável que os espermatozóides X e Y [que podem dar origens a machos, XY, ou fêmeas, XX] expressem diferentes sinais que permitem à fêmea diferenciá-los. Mas nós não demonstramos esse mecanismo", diz Calsbeek.

Na espécie estudada, há três tipos de machos. Os "machões" com pintas alaranjadas na garganta são altamente agressivos e controlam territórios com um grande "harém" de fêmeas. Os "certinhos" de garganta azul são "fiéis" a uma ou poucas fêmeas. E os "ricardões" de garganta amarelada, cor similar à das fêmeas, aproveitam a semelhança para entrar nos territórios de outros machos e copular com as fêmeas.

O estudo, publicado hoje na revista "PNAS" (www.pnas.org), foi feito com machos de garganta azul, que constituíam 90% dos lagartos no local.

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