LENITA
MIRANDA DE FIGUEIREDO
Foi
em 1965 que o genio Chautemps concedeu a Gerber o critico francês
uma entrevista que estarreceu os meios musicais e, hoje entretanto,
na era psicodelica pode ser melhor compreendida e respeitada.
Chautemps
afirmou que o jazz entrara para os dominios artisticos, filosoficos
e intelectuais e que nada deteria a sua corrida no campo dos estudiosos
e pesquisadores.
"Filosofos, sociologos, escritores e musicologos encontraram no
jazz a ultima essencia para temperar os caldos do humanismo e
da cibernetica" - respondia nessa ocasião num programa de televisão
a jovem americana de 16 anos, Gail Andrews, seguidora das idéias
de Chautemps, despertando a atenção do mundo jazzistico para os
problemas atuais. Os proprios cientistas diante dessas declarações
travaram conhecimento com o jazz e despertaram para uma revolução
entre a arte e a cibernetica.
Estimulado
pelas agitações do momento, Chautemps desabafou com Gerber: "A
arte é uma pesquisa apaixonada de novas questões vitais entre
o homem e o mundo. Um verdadeiro artista é sempre um revolucionario.
A minha situação politica é sempre ao lado de uma revolução permanente,
porem eu não tenho intenção de colocar a minha musica a serviço
de uma ação politica, mesmo que seja revolucionaria".
À
pergunta de Gerber: "Sem o jazz o que faria para libertar o seu
espirito?" Chautemps respondeu: "Pela arte ou pela filosofia,
pela ciencia ou mesmo vivendo sem trabalhar. O trabalho é degradante.
Se o meu temperamento fosse um pouco mais forte, eu viveria pelas
ruas como um vagabundo. A verdade é que eu nunca suportei muito
o frio. Mas houve um momento em que eu pensei em tocar o meu saxofone
pelas ruas; hoje, entretanto, alegro-me de não havê-lo feito".
"Acredito
que a sonoridade é por si só uma linguagem. Para Coleman, a composição
é da mais alta importancia assim como tambem o ritmo. Tenho a
impressão de que teremos que sofrer um novo capítulo de uma revolução
traida. Os temas reduzidos a uma figuração de entrada e saida
devem ser anulados. Com certas velharias acaba-se por escutar
sem composição preconcebida, sem uma forma consciente 'a priori'.
Se nenhuma trama harmonica é desejavel, o tempo continuo deveria
desaparecer mesmo nas pausas mais breves."
"Ao
lado da musica improvisada, creio que gostaria de fazer musica
concreta e com uma banda cuidadosamente construida gravar os ruidos
do mar. A seção ritmica seria enriquecida por Delphine Seyrint
e Alain Cuny, recitando trechos de listas telefonicas, de catalogos
profissionais. Na musica concreta, deve-se, a exemplo de Pierre
Shaeffer repelir até o ruido de um trem resfolegando porque ele
tem a intenção de ser musical."
Estes são alguns trechos das declarações do revolucionario Chautemps
que chocaram mesmo os jazzistas que já compunham musica sideral
e se submetiam a ação do L.S.D. para criar um jazz fora do tempo
e do espaço. Atacaram Chautemps: revolucionario, louco ou engraçado?
Mas assim a Europa e os Estados Unidos falaram de Duke Ellington
30 anos passados quando ele lançou o seu genial "Jazz da Jungle".
Revolucionário
e ateu Chautemps afirma: "Se a gente fosse imortal, tocaria diferente".