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Deficientes devem receber patrocínio
19h12 - 20/11/1999

Agência Folha
Na Cidade do México

O desporto paraolímpico brasileiro, até relegado a um segundo plano, está para fechar um acordo que deve mudar inteiramente seu rumo - para melhor.

O Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) deve assinar ainda neste ano um contrato de patrocínio com o Banco do Brasil (BB), instituição estatal que há dez anos começou a apoiar o vôlei -posteriormente, também direcionou investimentos ao vôlei de praia.

Com o suporte do BB, coincidência ou não, o Brasil começou a conquistar grandes vitórias internacionais - a primeira delas, no vôlei indoor, foi a medalha de ouro olímpica, no masculino, em Barcelona-92.

O sucesso emergente das seleções brasileiras atraiu a atenção do público e, por consequência, de várias empresas privadas (como Nestlé, BCN, Report e Olympikus), que planejaram estratégias de marketing juntamente com a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) e passaram a investir pesado nesse esporte.

Houve um "boom", e o vôlei tornou-se o segundo esporte na preferência dos brasileiros - atrás do imbatível futebol.
Agora, o BB se propôs a outro desafio: tentar fazer o mesmo com o desporto paraolímpico.

E a diretoria do banco assegura que não é um plano com objetivos sociais, mas sim sócio-econômicos. Ou seja: o banco visa ao lucro nessa empreitada - como no vôlei, no qual investe nas seleções do país, em todas as categorias, cerca de R$ 4,5 milhões.

"Para cada R$ 1 investido no vôlei, há um retorno de R$ 4 só de imagem", afirmou Rinaldo Feitosa, 39, assessor sênior de marketing e comunicação do BB.

Em entrevista à Folha durante os Jogos Pan-Americanos Paraolímpicos, encerrados no final de semana passado, na Cidade do México, Feitosa disse que a decisão do BB de apoiar o desporto paraolímpico foi cuidadosamente estudada e é definitiva.

"Dentro de seu marketing esportivo, o banco definiu que queria outro campo estratégico de ação, e escolhemos o desporto paraolímpico", declarou ele.

A aprovação veio justamente após o Pan, que fechou uma etapa de observação do BB que incluiu um Mundial, na Nova Zelândia, e um Sul-Americano, na Venezuela, ambos no mês passado.

"Esses eventos serviram de laboratório para o banco saber se poderia emprestar seu nome (ao desporto paraolímpico). Agora, passaremos à fase de planejamento", disse Feitosa, explicando que haverá dois projetos paralelos.

O primeiro é com vistas à Paraolímpíada de Sydney, que acontecerá em outubro de 2000, pouco depois dos Jogos Olímpicos.

O BB dará apoio financeiro ao CPB (os valores ainda serão definidos), para que o Brasil possa participar de mais eventos internacionais e seus atletas de ponta ganharem experiência -para subirem ao pódio na Austrália.

O segundo projeto, do qual o primeiro será o maior promotor, visa à massificação do desporto paraolímpico no Brasil, país que tem cerca de 15 milhões de deficientes, mas somente 10 mil praticam esportes de maneira organizada, segundo o CPB.

O BB colocará à disposição dos deficientes toda a estrutura das unidades da AABB (Associação Atlética Banco do Brasil) no país, a fim de que eles possam desenvolver alguma atividade esportiva disponível nesses clubes.

Para Feitosa, se o planejamento der certo, em breve o Brasil terá ídolos no desporto paraolímpico, deficientes buscando seguir o exemplo deles e, dessa forma, ganharem retorno profissional.

"O esporte potencializa o indivíduo, faz a pessoa passar a se sentir capaz. Se elas tiverem oportunidade de ter mais espaço na sociedade, poderemos erradicar das empresas a discriminação ao deficiente", afirmou ele.

"Há também uma auto-discriminação, com apoio das famílias", continuou, com a concordância de João Batista Carvalho e Silva, presidente do CPB. "A família dificilmente incentiva os deficientes no esporte, pois acha que é colocar um sacrifício a mais para eles. É preciso quebrar esse estigma", disse Carvalho e Silva, que espera ver em breve cartazes dos destaques brasileiros afixados em agências do Banco do Brasil.

"Se isso for superado (as dúvidas de empresários em relação à capacidade dos deficientes), haverá mais pessoas no processo de trabalho, e o país ganhará em produtividade", completou o representante de marketing do BB.

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