Da Agência Folha
Em Belo Horizonte

O Atlético-MG passa por uma das piores crises de sua história. Fundado em 1908, o time tem o maior número de títulos regionais do Estado (36), foi o primeiro campeão brasileiro, há 27 anos, e conta com uma grande e fanática torcida. Nos últimos anos, porém, o clube vem se afundando em problemas, denúncias de corrupção e endividamentos.

As administrações do clube têm virado até motivo de chacota. Os dois últimos presidentes do Atlético, Afonso Paulino, e o atual, Paulo Cury, por exemplo, chegaram a ser transformados pela torcida rival em "ídolos" cruzeirenses.

O time venceu seu último campeonato estadual em 95 -o Cruzeiro é tricampeão- e está mal no Campeonato Brasileiro-98, com sete pontos em nove jogos (aproveitamento de 25,9%).

Nessa situação, a diretoria tem sentido uma hostilidade entre torcedores e integrantes do clube. Foi criada na cidade, há cerca de um mês, uma comissão denominada "SOS Atlético-MG, por uma Administração Honesta".

O movimento é formado por conselheiros opositores a Cury e pelos dirigentes das principais torcidas organizadas do Atlético.

O grupo tem como objetivo retirar do cargo o presidente do Atlético-MG, que tem mandato até o final do ano 2000. Eles já realizaram uma manifestação na cidade e prometem aporrinhar a vida de Cury.

Auditoria

O conselheiro Manfredo Palhares, membro da comissão, apresenta uma série de documentos com denúncias contra o presidente Paulo Cury e o assessor da presidência Valdemar Romano.

Entre os documentos, Palhares apresenta uma auditoria de 96 realizada pela empresa Orplan, que constatou irregularidades na primeira administração Cury, iniciada em 1995.

A auditoria aponta irregularidades na situação fiscal e tributária do clube. O Atlético-MG não recolhia regularmente o Imposto de Renda nos pagamentos a pessoas físicas e jurídicas.

Além disso, a contribuição previdenciária descontada dos funcionários e a parcela do Fundo de Garantia não estavam sendo repassadas aos órgãos competentes.

A auditoria constatou ainda que a dívida do clube aumentou em mais de 550% nos primeiros 22 meses da gestão Cury -pulou de R$ 3,7 milhões para R$ 20,8 milhões.

Atualmente, a oposição diz que a dívida do Atlético está em torno de R$ 50 milhões.

A principal acusação da oposição é a de que o presidente e o assessor emprestaram cerca de R$ 1 milhão ao clube, em 95 e 96, cobrando juros abusivos -em torno de 11% ao mês.

Na semana que vem, a comissão de oposição a Cury pretende entrar com uma representação no Ministério Público para que as denúncias sejam investigadas.

O vice-presidente da Galoucura, maior torcida organizada do Atlético, Nei Antônio Soares, diz que o objetivo do "SOS" é "salvar o Atlético".

"Queremos uma administração transparente, que mostre o que está acontecendo no Atlético. O time hoje está falindo, essa é a verdade."

Soares disse que a recente contratação de Toninho Cerezo para o cargo de gerente de futebol é "manobra pra enganar torcedor".

Ele afirma que as torcidas organizadas farão manifestações contra Cury no domingo, quando o Atlético enfrenta o São Paulo, em Belo Horizonte, mesmo que o time ganhe.