Agência JB
No Rio

São-paulinos, palmeirenses, santistas e demais torcedores paulistas estão fazendo a festa em cima dos corintianos. Nada a ver com o futebol - afinal, o time do Parque São Jorge é o atual campeão brasileiro. A questão é outra, bem outra. Desde que os jogadores Vampeta e Dinei aceitaram posar nus para a revista G Magazine, direcionada ao público gay, os comentários das torcidas adversárias são os mais fortes possíveis. Mas quem disse que os dois se importam?

"Minha fama é de mulherengo, deixa falar. Se quiserem a prova, pode botar as mulheres para cá para ver o que acontece", provoca o baiano Vampeta, 24 anos, o primeiro jogador brasileiro a fazer nu frontal no Brasil - e numa revista gay. "Não tenho preconceito. Acho errado essa coisa de só o homem poder ver mulher pelada em revista. Porque as mulheres também não podem ver?", diz o paulistano Dinei, 28 anos, adivinhando quase sem querer que mais da metade dos compradores da revista são mulheres. "Só sei que o assédio feminino aumentou muito. Para mim, tá ótimo."

A revista com as fotos de Vampeta foi lançada há duas semanas e já se tornou sucesso do verão. Entre homens e mulheres. Foram impressos mais de 120 mil exemplares, o dobro do que a editora Fractal costuma imprimir. E já está escassa nas bancas de São Paulo. "Encontro muita gente que me diz que ou vai comprar ou já comprou", comemora Vampeta que, com o cachê que recebeu - estima-se cerca de R$ 100 mil - está completando a reforma do cinema que adquiriu em sua cidade natal, Nazaré das Farinhas, no interior da Bahia.

O ensaio com Dinei só será lançado em 13 de fevereiro, mas o meio-campo corintiano já prevê o mesmo sucesso. "Tenho sorte mesmo. Imagina: a revista sai justamente no carnaval e o que é mais dá em carnaval? Gays! Vai estourar", avalia Dinei, que vai desfilar no sambódromo paulista na escola de samba Gaviões da Fiel preocupado com o assédio. "Se vier mulher atrás, tudo bem, mas e se vier um homem?"

A motivação dos dois jogadores para posar para a revista foi a mesma: grana. "Nem pestanejei quando me ofereceram o cachê. O importante é o dinheiro entrando no bolso", admite Vampeta, que não ficou nem um pouco inibido. "Foi tranqüilo, umas sete horas de fotos e pronto. Eles me deixaram à vontade, dizendo para eu fazer como se estivesse tirando sarro de todo mundo". Dinei também não quis deixar a oportunidade passar por causa de preconceitos. "Não é todo dia que pinta esse dinheiro e as fotos ficaram legais. É claro que vai ter gozação das outras torcidas e tal, mas eu já tirei as fotos sabendo que ia ter isso".

Pais e amigos também deram a maior força. A mãe e a avó de Vampeta, d. Marlene e d. Angelina, respectivamente, até brincaram com a notícia. "Elas falaram ‘isso mesmo, meu filho, tem mais é que mostrar para elas o que você tem"’, lembra Vampeta, que na comunidade gay foi apelidado de diamante cor-de-rosa. Os amigos de Dinei não acreditaram quando ele disse o que ia fazer, mas depois cederam. "Quando contei quanto ia ganhar, disseram que até com 10% do que recebi tiravam a roupa também", lembra Dinei, que é casado com Elisângela e tem três filhos. "Eles todos encararam com a maior naturalidade. Isso também ajudou".

O único ponto em que os dois divergem é sobre uma nova sessão de fotos. Para Vampeta, a carreira de modelo - pelado ou vestido - tem a ver mais com outros craques. "Vai querer comparar Raí, Leonardo comigo? Não dá, né? Isso é mais para o cara mais mauricinho, de cabelo lisinho. Acho que não tenho qualidade para isso", diz, modestamente. Mas Vampeta - apelido que mistura vampiro com capeta - não se considera um cara horrível. "Eu gosto de mim, é suficiente."

Dinei acredita que o sucesso em campo pode trazer bons frutos nos estúdios fotográficos. "Se eu conseguir me manter em evidência, fazendo gol direto, a revista vai vender bem e outros trabalhos pintam. Uma coisa puxa a outra". Mas ele não está tão certo sobre sua beleza. "Eu? Não, que é isso, sou todo torto..."