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Prostituição em Ozoir cresce com presença da seleção
02h16 - 08/06/98

Agência Folha
Em Ozoir-la-Ferrière

A cidade francesa onde a seleção brasileira faz seus treinos já tem sua Hilda Furacão. Diz chamar-se Jéssica (“só Jéssica’’), é equatoriana de Guaiaquil, tem 32 anos e formou-se em química.

Ela divide seu tempo entre Ozoir-la-Ferrière, 25 quilômetros a leste de Paris, cujo estádio serve de palco para os jogos-treino e exercícios físicos do time do Brasil, e a capital francesa, Paris, onde mora.

A morena, que não se deixa fotografar (“para que meus parentes não saibam o que faço’’, justifica), abandonou sua cidade-natal, um namorado e a família há oito anos, “para ser prostituta na França’’.

A história é parecida com a da obra do escritor mineiro Roberto Drummond, que a Rede Globo exibe atualmente à noite, durante a semana, no formato minissérie, com a atriz
Ana Paula Arósio no papel-título.

Mas, mais do que devido a sua história, Jéssica vem fazendo sucesso entre alguns dos poucos turistas brasileiros que já começam a chegar ao interior da França principalmente
por seu “modus operandi”, bastante peculiar.

Como ela, pelo menos 30 profissionais, em sua maioria imigrantes ilegais, tomam os estacionamentos às margens da estrada que cruza o final de Ozoir-la-Ferrière e divide o bosque da cidade em dois.

Em vez de receberem as pessoas em casa (em quartos) ou em hotéis, as prostitutas de Ozoir utilizam pequenas vans, estacionadas, geralmente pelos cafetões, à beira da estrada.

Lá, faz-se o trato financeiro nos bancos da frente e a transação é consumada na parte de trás . Alguns dos
veículos contam com cama de casal, iluminação especial, aparelhos de som e até frigobar.

Se o exigido é algo de mais fácil, digamos, execução, então o palco são mesmo cabanas improvisadas no meio do mato, que se
encontram em pequenas clareiras ao fim das trilhas de terra que saem dos estacionamentos.

A tabela de preço varia de acordo com o exigido: 100 francos franceses (perto de R$ 17) para sexo oral (ou “pipe”, cachimbo, em francês, segundo gíria própria), 200 francos (R$ 33) para sexo convencional e 300 francos (R$ 50) para pedidos mais extravagantes.

Preservativo não é um item obrigatório e, diferentemente de prática consagrada no Brasil, sua ausência não encarece a tabela.

“Para nós, tanto faz se o cliente quer usar camisinha ou não”, diz Carla, 28, amiga de Jéssica, equatoriana também de Guaiaquil e igualmente sem sobrenome.

“Quem está nessa vida não pode escolher”, diz Jackie, uma das raras francesas nos estacionamentos. O preservativo é uma das formas de evitar o contágio de doenças venéreas e Aids.

Segundo as mulheres ouvidas durante a semana passada, entre 10 e 15 clientes são atendidos por dia normalmente, mas o número teria aumentado para entre 15 e 20 pessoas, com a movimentação da Copa do Mundo na cidadezinha de 20 mil habitantes.

“Já recebi alguns brasileiros recentemente, menos aquele que eu mais queria”, brinca Jéssica. “Não vou falar o nome dele,
mas dou uma dica: acaba de ser dispensado pelo técnico. Que pernas!’’

O atacante Romário foi cortado da seleção na semana passada. Segundo Carla, entre as prostitutas que trabalham na estrada de Ozoir-la-Ferrière, muitas eram brasileiras.

“Tínhamos meninas do Brasil por aqui. Travestis, também’’, diz ela. “Mas, desde 1991, o número caiu. Os policiais da imigração resolveu pegar no pé delas.’’

A movimentação acontece às claras e principalmente durante o dia. É comum encontrar, num mesmo estacionamento, de caminhões a BMWs, em um improvável congestionamento, todos esperando a vez.

Procurado pela reportagem do jornal Folha de S.Paulo para comentar a prostituição em Ozoir-la-Ferrière, o prefeito da cidade, Jacques Loyer, não quis falar.

Segundo números recentes do governo francês, o país conta atualmente com 20 mil prostitutas (metade delas imigrantes). A população da França é de 58,5 milhões de habitantes.

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