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13/12/2001
Greve geral sacode a Argentina
Por Alejandro Lifschitz
BUENOS AIRES (Reuters) - Ruas sem ônibus, lojas fechadas e lixo sobre as calçadas compunham a imagem de Buenos Aires ao iniciar-se nesta quinta-feira a nona greve geral contra o presidente Fernando de la Rúa, que está recorrendo à oposição para sustentar sua impopular gestão.
O protesto foi convocado pelas três centrais sindicais argentinas em oposição a uma recente medida que o governo aplicou para limitar a retirada de dinheiro em efetivo dos bancos, em uma tentativa desesperada para deter uma fuga de depósitos que pôs em risco o sistema financeiro.
A medida inflamou os argentinos, que temem que o Ministério da Economia ordene o confisco de seus depósitos para financiar os gastos de um Estado cujos cofres estão vazios após quase quatro anos sem crescimento econômico.
Na noite de quarta-feira, os habitantes de Buenos Aires protagonizaram um dos maiores protestos dos últimos anos quando centenas de milhares de pessoas saíram às ruas e varandas para protestar com um "panelaço" que ensurdeceu a capital argentina.
Mas fazendo "ouvidos surdos", De la Rúa, considerado por mais de 70% dos argentinos como incapaz de governar segundo pesquisas, afirmou que não estão claros os motivos da greve, enquanto outros setores do governo qualificaram a medida de força como "política" e não sindical.
Os trens e metrôs operavam em horário de emergência na capital argentina e na província de Buenos Aires, os hospitais públicos só atendiam urgências, os escritórios estatais estavam fechados, os docentes de todos os níveis não compareceram a seu trabalho e os motoristas de ônibus aderiram à medida.
Além disso, vários manifestantes bloqueavam alguns pontos de acesso a Buenos Aires. Nas primeiras horas da manhã não havia informação sobre o impacto da greve no interior do país.
"A paralisação é total em todo o país. É um plebiscito contra este modelo econômico que têm levado a Argentina a uma devastação absoluta", disse à Reuters Júlio Piumato, porta-voz de um setor dissidente da principal central sindical argentina, a Confederação Geral do Trabalho (CGT).
"Hoje o país se expressa parando, protestando porque não aceita que levem o último que lhes resta, ou seja, que confisquem seus salários e poupanças", acrescentou. "Pedimos a anulação dos decretos de confisco de salários e poupanças que é uma medida mais da política deste governo que vai fazer desaparecer os argentinos com estes ajustes".
Enquanto as ruas permaneciam vazias, De la Rúa se reunia com o ex-presidente peronista Carlos Menem em busca do apoio da principal força da oposição.
INCIDENTES EM CÓRDOBA
Na província de Córdoba (800 quilômetros ao noroeste de Buenos Aires), aconteceram alguns incidentes quando um grupo de manifestantes marchava pelas ruas do centro da capital.
"São grêmios distintos que estão manifestando pela paralisação geral de hoje (quinta-feira). Quebraram vidros no Banco Galicia e seguiram marchando. No caminho foram apedrejando distintos comércios, locais e o jornal "La mañana de Córdoba", informou à Reuters um porta-voz da polícia local.
Na província de Neuquén -1.000 quilômetros a sudoeste de Buenos Aires- cerca de 4.000 pessoas marcharam em oposição a nova medida atirando pedras na Casa do Governo desse distrito.
"Um grupo de jovens que participa de uma marcha (de protesto) atirou pedras. (...) A situação foi abortada, mas seguem marchando rumo ao Senado. Há cerca de 4.000 pessoas", disse à Reuters um porta-voz da polícia da província.
"A gente está comendo e vamos ficar toda a tarde aqui", disse à Reuters Pablo Moyano, filho do líder sindical que dirige a ala dissidente da CGT.
As centrais sindicais avaliam se vão convocar uma greve de 48 horas para a semana que vem.
(Colaborou Karina Grazina)
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