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  Entrevista


Damião Garcia
Kalunga investe em expansão e se prepara para virar S/A
Basta passar em frente a uma das novas lojas da Kalunga para perceber que a empresa está em fase de mudanças. Mas por trás da reformulação visual das lojas e das recentes inaugurações em pontos nobres da capital paulista - como as avenidas Paulista e Rebouças - está a decisão de profissionalizar a gestão e se tornar uma S/A.

Em entrevista ao UOL Business, Damião Garcia, presidente da Kalunga, fala sobre a nova fase da maior distribuidora de materias escolares e produtos para escritório e informática do Brasil. "Há tempos eu venho batalhando por isso. Felizmente agora, de um ano para cá, decidimos fazer essa mudança", diz Garcia, que descarta a possibilidade de abrir capital. "A Kalunga vai continuar sendo uma empresa de capital fechado, porque felizmente não temos necessidade de buscar capital para investimentos."

As metas de investimentos, aliás, são audaciosas: abrir entre 8 e 10 lojas por ano nos próximos quatro anos. Belo Horizonte e Curitiba estão entre as praças onde a Kalunga já tem pontos definidos. O mesmo acontece em Bauru, no interior de São Paulo, terra natal de Garcia. "Isso é mais para satisfazer meu ego pessoal", diz o fundador da Kalunga.

 
Foto: Daniela Picoral
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UOL Business - Por que somente agora a Kalunga resolveu expandir suas operações para fora de São Paulo?
Damião Garcia
- São Paulo, como todo mundo sabe, é o coração do Brasil. Começamos a Kalunga por São Paulo e até há pouco tempo vínhamos focando nossas operações na capital paulista e no estado de SP. Isso porque nós pensamos assim: se nem em São Paulo você está atendendo bem, por que sair de São Paulo? Agora é diferente. Como já temos várias lojas na cidade e também já estamos vendo outros pontos no estado, resolvemos ir também para outras capitais brasileiras. Atualmente temos 27 lojas [25 em São Paulo e 2 no Rio de Janeiro]. A mais jovem é a Kalunga do Morumbi, que fica na esquina com a Berrini, mas nossa meta é abrir de 8 a 10 lojas por ano nos próximos quatro anos. No momento já temos várias lojas praticamente fechadas, com ponto definido etc. e outras em estudo ou negociação. Em Belo Horizonte, por exemplo, o objetivo é ter no mínimo 3 lojas. Já temos um ponto fechado, com contrato e tudo mais, que deve ser inaugurado antes do final do ano. Em Curitiba também já temos um ponto definido e é bem provável que isso também aconteça ainda este ano. No Rio, nossa intenção é abrir pelo menos mais 3 lojas. Lá também temos 1 ponto já fechado e 1 outro em vista, em fase final de negociação.

UOL Business - São Paulo continua dentro dos planos de expansão da Kalunga?
Garcia
- Sim, São Paulo ainda tem muito campo. Agora mesmo acabo de voltar de uma visita a um ponto que nos ofereceram no shopping Market Place. Também temos planos para o interior de São Paulo. Já temos, por exemplo, um ponto definido em Bauru. Nesse caso, além de satisfazer meu ego pessoal, Bauru é o centro geográfico do estado de São Paulo.

UOL Business - A expansão da Kalunga se dará exclusivamente por lojas próprias ou vocês têm idéia de adotar o sistema de franquias?
Garcia
- Nossa expansão será com base em lojas próprias. No passado, chegamos a pensar no modelo de franquias. Estudamos até a possibilidade de abrir uma franquia num local bem distante de São Paulo para fazer uma experiência, mas acabamos desistindo da idéia. E pelo menos por enquanto esse não é o nosso objetivo.

UOL Business - Hoje a Kalunga tem um único depósito em São Bernardo do Campo. A abertura de novas lojas vai exigir a criação de um novo depósito?
Garcia
- Não, porque hoje nós fazemos um pedido único, mas procuramos fazer com que o fornecedor entregue nas lojas diretamente. Mesmo assim precisamos ter sempre um pequeno estoque dos produtos, porque você nunca acerta o pedido 100%. Às vezes você pede uma determinada quantidade de um produto para uma determinada loja e o estoque acaba antes do previsto. Então o nosso depósito - que tem 24 mil metros quadrados - serve exatamente para isso.

UOL Business - A Kalunga vai se transformar numa empresa S/A. Como se chegou a essa decisão?
Garcia
- Na verdade já é minha idéia, há mais de 10 anos, transformar a Kalunga, que é Ltda., numa empresa S/A. Há tempos eu venho batalhando por isso, mas num ambiente familiar você encontra resistências, você tem mais dificuldade de tomar certas atitudes. Felizmente agora, de um ano para cá, decidimos fazer essa mudança. Existem várias vantagens, mas eu acho que a mais importante é que a empresa passa a não ser familiar porque cada um tem suas cotas e ninguém é obrigado a ser sócio de ninguém. Se amanhã eu - ou qualquer um dos sócios - quiser vender suas cotas não é preciso ficar discutindo. Só é preciso ter paciência para respeitar os trâmites da venda das cotas e está resolvido. Ainda faltam pequenos detalhes, mas eu acredito que esse processo será concluído no início de 2004.

UOL Business - Faz parte dos planos da Kalunga abrir capital?
Garcia
- Nossa intenção não é essa. A Kalunga vai continuar sendo uma empresa de capital fechado, porque felizmente não temos necessidade de buscar capital para investimentos.

UOL Business - Apesar de ter iniciado suas atividades como papelaria, hoje a Kalunga tem como carro-chefe os produtos de informática. Como o senhor vê essa mudança?
Garcia
- A Kalunga começou com material de papelaria e sempre trabalhou um pouco com produtos de limpeza. Já fomos mais fortes nessa linha, mas ainda continuamos a oferecê-la porque os escritórios também usam papel toalha, copo descartável, saco de lixo etc. Hoje, é preciso oferecer serviço, ou seja, o mais importante não é o preço, e sim as opções que você oferece ao cliente, para que ele possa encontrar, dentro das suas necessidades, o maior volume de produtos num único local. Então não tem como não acrescentar os produtos de informática. Apesar da vantagem de ter um valor agregado bom, por outro lado a margem de lucro nesses produtos é mínima, porque infelizmente hoje existe muito contrabando e muita falsificação, o que acaba sacrificando a margem de lucro. Apesar de eu ser suspeito para falar, comprar na Kalunga é muito importante porque, além do preço, você tem certeza de que está comprando um produto de qualidade. Nós só trabalhamos com produtos de qualidade, o que não deixa de ser um respeito ao cliente. Essa é a nossa preocupação.

UOL Business - Atualmente existe alguma linha de produto que a Kalunga tenha intenções de comercializar em breve?
Garcia
- Estamos sempre pensando em agregar novos produtos, desde que eles façam parte da mesma linha, é claro. Por enquanto não temos nenhuma novidade em vista, mas eu diria que móveis para escritório poderia ser uma possibilidade. Já pensamos nisso, mas ainda estamos estudando porque requer muito espaço físico nas lojas.

UOL Business - Na sua opinião, com a popularização dos produtos de informática os produtos de papelaria tendem a desaparecer?
Garcia
- É verdade que a informática tomou conta de muitas coisas. Mas eu ainda acho que a tendência dos artigos escolares, por exemplo, não é diminuir. Sempre haverá consumidores - principalmente em um país como o nosso, em que a distribuição de renda ainda é bastante injusta. Hoje se fala muito em livros em CD, mas a maioria das famílias não tem condições de ter um computador em casa. Então, na minha opinião, existem produtos - como os livros didáticos, o caderno, o lápis, a caneta, a agenda de telefones - que são insubstituíveis.

UOL Business - A Kalunga comercializa produtos com marca própria, fabricados pela Spiral. Vocês não fornecem para terceiros?
Garcia
- Não, mas poderíamos. Na verdade, pouca gente sabe que a Spiral é uma indústria bastante importante para a Kalunga. Ela é a maior e mais moderna gráfica da América do Sul. E como nós fabricamos uma linha extensa de cadernos, envelopes, pastas etc., eu sempre falo que se tivéssemos um departamento de vendas na Kalunga poderíamos aproveitar o potencial da Spiral para fazer cadernos com marca própria para as grandes redes de supermercado, por exemplo. Mas atualmente a única coisa que fazemos é participar de concorrências em prefeituras e estados.

UOL Business - Vocês nunca pensaram em exportar os produtos fabricados pela Spiral?
Garcia
- Chegamos a exportar para 17 países, mas se eu falar que ganhamos dinheiro é mentira. No máximo, empatamos. Primeiro por causa do processo fiscal. Eu acredito que a aquisição de matéria-prima para manufaturar com o objetivo de exportar deveria ser imune de qualquer imposto. Mas infelizmente não é assim. Como o governo quer que você compre a matéria-prima normalmente e fique com esse imposto em haver, isso acaba não sendo interessante. Além disso, os fornecedores de papel exportam a matéria-prima para concorrentes nossos lá fora por um preço que eles não fazem para nós. Eu acho isso um absurdo. No mínimo teria de ser igual, porque conosco eles têm garantia de que irão receber.



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