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  Entrevista


José Carlos Grubisich
Braskem expande lucros e diversifica matéria-prima
Formada em agosto de 2002 pela integração de seis indústrias petroquímicas - Copene, OPP, Trikem, Proppet, Polialden e Nitrocarbono -, a Braskem está entre as cinco maiores indústrias brasileiras de capital privado e fatura cerca de 9 bilhões de reais por ano. Controlada pelos grupos Odebrecht-Mariani, a empresa tem ainda como acionistas a Petroquisa (braço petroquímico da Petrobras) e os fundos de pensão Petros (da Petrobras) e Previ (do Banco do Brasil).

Para expandir o consumo de produtos plásticos no país, a companhia aposta em inovações tecnológicas e na redução de custos. Só no Centro de Tecnologia e Inovação de Triunfo (RS), que possui 11 sofisticados laboratórios, foram investidos cerca de 300 milhões de reais. "Acreditamos que seja vantajoso consolidar todos os recursos de pesquisa e desenvolvimento num só local, para enriquecer a troca entre pesquisadores", afirma José Carlos Grubisich, presidente da empresa.

Em entrevista ao UOL Business, o executivo fala sobre os bons resultados financeiros obtidos pela Braskem nos últimos meses e sobre estratégias para contornar a escassez de nafta. "Estamos flexibilizando o tipo de matéria-prima que podemos processar nas fábricas e aumentando o leque de opções de fornecedores potenciais", afirma Grubisich.

 
Foto: Daniela Picoral
Foto: Daniela Picoral
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UOL Business - Enquanto os brasileiros consomem 7 Kg de polietileno anualmente, nos EUA esse consumo chega a 44 Kg, e na Europa a 36 Kg. O que pode ser feito para aumentar o consumo interno?
José Carlos Grubisich
- O consumo per capita no Brasil realmente é muito inferior ao da Europa e dos Estados Unidos, e até mesmo ao de países de renda intermediária, como Coréia e Argentina. A indústria tem feito um esforço muito grande para substituir produtos tradicionais como metal, madeira e vidro por produtos plásticos, que têm vantagens competitivas claras - são mais leves, mais modernos, podem ser reciclados e não atacam recursos naturais. Um estudo que fizemos entre os anos de 1990 e 2002 mostrou que o consumo de polietileno, PVC e polipropileno no Brasil vem crescendo de 3,5 a 4 vezes mais do que o PIB.

UOL Business - O uso de materiais não descartáveis como vidro e madeira também está relacionado à questão do poder aquisitivo dos brasileiros?
Grubisich
- Sim, o uso desses produtos tradicionais também envolve fatores econômicos. Mas na medida em que conseguimos desenvolver produtos modernos com custos competitivos, as novas aplicações podem substituir as tradicionais. Um exemplo bem emblemático é o de um cliente da Braskem que está trabalhando para fazer copos de requeijão de plástico. E temos uma série de outras aplicações dessa natureza, como a resina PET, que substituiu o vidro na água mineral e nos refrigerantes, e o PVC, que em alguns casos tem substituído materiais como tijolo, cimento e madeira na construção civil.

UOL Business - A Braskem tem planos de exportar também produtos "acabados", ao lado das resinas?
Grubisich
- Não temos a intenção de vender produtos acabados, mas procuramos estimular e criar espaço para que nossos clientes possam exportar. Toda a nossa estrutura administrativa e comercial na área de exportação está à disposição dos clientes. Em alguns casos chegamos a usar soluções criativas para que os nossos produtores fiquem mais competitivos: em vez de exportar resina para um produtor chinês transformá-la em saquinhos que serão vendidos aos Estados Unidos, a Braskem pode estimular o produtor local oferecendo condições mais competitivas de preço, para que os produtos sejam feitos no Brasil e tragam valor agregado ao país. Além disso, procuramos desenvolver tecnologias adaptadas para aplicação no mercado internacional. No período da epidemia da Sars na China, por exemplo, desenvolvemos um tipo especial de polipropileno que permitiu a um de nossos clientes fabricar e exportar máscaras higiênicas para aquele país.

UOL Business - Os produtos derivados de petróleo ainda são vistos como vilões no processo de reciclagem. O que a Braskem faz para combater essa visão?
Grubisich
- A grande vantagem dos plásticos é que eles são recicláveis. O PET, por exemplo, pode ser reciclado de volta à matéria-prima que dá origem à cadeia ou até entrar na composição de camisetas feitas de poliéster reciclado. O polipropileno também é reciclado, hoje a maioria dos óleos lubrificantes é acondicionada em embalagens recicladas. Empresas e municípios têm se preocupado cada vez mais com coleta seletiva. Além de ser ecologicamente inteligente, essas iniciativas são economicamente atrativas, porque reciclar um produto é mais barato do que produzir tudo novo. Mas essa consciência para a reciclagem depende em primeiro lugar de educação e cidadania.

UOL Business - A matéria-prima representou, em 2002, 66% dos custos da Braskem. Que estratégias a empresa pretende utilizar para enfrentar a escassa oferta de nafta no mundo?
Grubisich
- Estamos flexibilizando o tipo de matéria-prima que podemos processar nas nossas fábricas e aumentando o leque de opções de fornecedores potenciais de nafta. Além da Petrobras, que fornece entre 60% e 70% da nafta que a Braskem consome, importamos o produto da Argentina, Argélia, Nigéria e países do Caribe. Quanto à matéria-prima, começamos a usar o que chamamos de condensado, subproduto de petróleo que tem características diferentes da nafta, mas também pode ser processado nas centrais petroquímicas e tem um custo mais competitivo.

UOL Business - Essa dependência em relação à Petrobras não é negativa?
Grubisich
- A Braskem consome mais de 4 milhões de toneladas de nafta por ano, e não podemos imaginar uma indústria petroquímica que dependa 100% de matéria-prima importada. A função do nosso programa de parceria estratégica com a Petrobras é ter um fornecedor de proximidade, mas que tenha qualidade, quantidade e custo competitivos. Queremos ter um fornecedor de referência, que é a Petrobras, e buscar uma flexibilidade adicional através do produto importado, mas sempre com cerca de 60% de fornecimento local.

UOL Business - No primeiro semestre de 2003, a Braskem exportou 317 milhões de dólares, um crescimento de 38% em relação ao mesmo período do ano passado. O que influenciou esse resultado?
Grubisich
- Essa progressão foi resultado de um aumento no volume das exportações, devido ao desaquecimento do mercado interno, aliado ao impacto positivo do aumento dos preços de produtos petroquímicos no mundo todo. No começo do ano fomos a 23% de exportações em relação à receita total, quando estruturalmente operamos entre 15% e 20%.

UOL Business - A Braskem apresentou lucro líquido de R$ 468 milhões no primeiro semestre de 2003, contra prejuízo de R$ 480 milhões de janeiro a junho do ano passado. A que se deve essa reversão?
Grubisich
- Melhoramos a nossa política comercial, aprimoramos nossa estrutura de custos , aumentamos o nível de produção das nossas fábricas, reduzimos o capital de giro e conseguimos, por meio de ações muito bem estruturadas na área comercial, realinhar os preços do mercado interno aos preços internacionais. Como base de comparação, no primeiro semestre do ano passado os custos de operação em relação à receita eram de 10,9% e agora caíram para 7,9%.

UOL Business - Cerca de 66% das dívidas da empresa estão atreladas ao dólar. O que a empresa faz para contornar as variações cambiais?
Grubisich
- Em primeiro lugar, temos um grande volume de exportações - vamos exportar mais de 500 milhões de dólares esse ano -, o que representa um hedge natural. Além disso, temos uma política de hedge sobre 60% do nosso fluxo de caixa por um período de 12 meses.

UOL Business - Qual o futuro do setor? Por que se diz que as petroquímicas deverão atingir seu ápice em 2005?
Grubisich
- Nos últimos quatro anos o setor petroquímico atravessou um período muito difícil, em vista do desaquecimento das principais economias do mundo, o que se refletiu na falta de investimentos no segmento. Fábricas com tecnologias obsoletas foram fechadas nos Estados Unidos, Europa e Ásia, mas a demanda por produtos plásticos continuou crescendo, ainda que de forma mais lenta. Nesse contexto, a taxa de ocupação de capacidades na indústria petroquímica deve chegar próximo dos 90% entre o final desse ano e o começo do ano que vem. Sempre que a taxa de ocupação de capacidades se aproxima desse patamar, significa que você está praticamente com as capacidades todas tomadas, e nessa situação você tem um aumento expressivo de preços e da rentabilidade das empresas. Como na petroquímica gasta-se de três a cinco anos entre você decidir fazer um investimento e de fato concretizá-lo, e como não há nenhum grande investimento previsto hoje, não teremos novas capacidades entrando em operação antes de 2007 ou 2009. Ou seja, inevitavelmente o setor petroquímico vai conhecer um ciclo de rentabilidade elevada nos próximos três anos.

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