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  Entrevista


Carlos Henrique Moreira
Claro não segue exemplo da concorrência na mídia
Não estranhe se algum amigo seu, ou você mesmo, ainda não souber que existe uma nova operadora de telefonia celular no Brasil. É que apesar de ter sido lançada na última segunda-feira (18), a Claro não fez muito barulho na mídia. Aliás, investimentos pesados em publicidade - como os que têm feito a concorrente Vivo, por exemplo - não estão nos planos da nova marca. Pelo menos no que se refere ao mercado pré-pago, considerado estratégico para a empresa.

Resultado da união de cinco operadoras nacionais hoje controladas pelo grupo mexicano América Móvil - ATL, Tess, Americel, Claro Digital e BCP Nordeste -, a Claro já nasce com 6,7 milhões de clientes e presença em 16 estados, além do Distrito Federal. Em breve, a companhia também passará a atuar na região metropolitana de São Paulo, para então ingressar no Paraná, em Santa Catarina, na Bahia e em Sergipe.

Em entrevista exclusiva concedida ao UOL Business após a coletiva de lançamento da marca, Carlos Henrique Moreira - ex-presidente da ATL e atual presidente da Claro - falou sobre as estratégias da empresa para conquistar novos clientes. "Não gosto muito dessas 'futurologias', porque não dá para saber tudo o que pode ocorrer no mercado, mas acho que devemos passar dos 8 milhões de clientes até o final do ano em toda a Claro", afirma o executivo. Isso sem considerar a compra da BCP em São Paulo, possibilidade que ainda não foi descartada pela América Móvil. "Não há nada definido nesse sentido ainda. Tanto é que já temos uma estratégia de atuação para operar em São Paulo sem levar isso em consideração", ressalta.

 
Foto: Ivan Luis Gomes
Foto: Ivan Luis Gomes
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UOL Business - Como será o início da operação da Claro nas regiões onde a empresa ainda não atua?
Carlos Henrique Moreira
- Será um processo gradativo. Nós já temos, hoje, uma estrutura montada em São Paulo, com pontos-de-venda, lojas próprias em shopping em fase de construção, um grande número de parceiros que nos ajudarão a revender. Isso também vale para os estados do Paraná e de Santa Catarina. Nos estados de Bahia e Sergipe é que estamos um pouco mais atrasados, mas vamos chegar lá.

UOL Business - Você disse que a Claro não tem preocupação estratégica de investir em Minas Gerais e na região Norte do país. Por quê?
Moreira
- É uma questão de foco. O nosso grande foco tem que ser nessas licenças novas, em particular São Paulo, onde queremos ter um início muito bom. Este ano - e possivelmente no ano que vem - vamos concentrar nossos esforços na construção da Claro nacional e na presença nesses mercados novos para que a empresa seja percebida como uma alternativa, como realmente é. Minas Gerais e Norte seriam numa segunda etapa. Até porque quando você passa a ter licença para atuar num determinado estado você perde a possibilidade de ter o roaming. Dessa forma, você passa a ter a obrigação de fazer um investimento imenso para ser competitivo.

UOL Business - Com a entrada da Claro nessas novas áreas, quantos clientes a empresa espera ter até o final do ano?
Moreira
- Eu não gosto muito dessas 'futurologias', porque não dá para saber tudo o que pode ocorrer no mercado, mas acho que devemos passar dos 8 milhões de clientes até o final do ano em toda a Claro, ou seja, áreas novas e atuais.

UOL Business - Quando a Claro terá concluído esse processo de unificação das cinco marcas?
Moreira
- Queremos estar em novembro e dezembro já com todas as ofertas sob a nova marca, ou seja, esse Natal será um 'Natal Claro'.

UOL Business - Em sua apresentação, você disse que o sucesso de uma empresa depende de quatro fatores [mercado, produtos, capital e 'gente'], mas frisou muito 'gente'. A Claro tem alguma estratégia diferenciada envolvendo seus funcionários?
Moreira
- Temos um modelo de gestão de empresas calcado primeiro em liderança. Mas entre a liderança e os clientes existem as pessoas, todo o quadro de associados da empresa e os parceiros que fazem a coisa acontecer. Hoje eles estão em torno de 18 mil pessoas, diretos e indiretos. Se esse pessoal que está sendo liderado por nós não estiver vestindo a camisa, motivado, o cliente não será bem atendido. Aliás, eu nem vou conquistar clientes adequadamente. Então, no meu modelo de gestão, 'gente' é o que faz a diferença. As pessoas têm de saber o que tem de ser feito, têm de trabalhar em conjunto e têm de saber que o cliente é importante. O cliente tem de ser escutado e atendido. Para isso, estou trazendo para a Claro um programa que já tenho na ATL, o Clientar. O que é o Clientar? Essas 18 mil pessoas que estão ligadas a nós têm contato com pessoas que têm telefone celular - nosso ou do concorrente - e que podem estar precisando de alguma coisa, ou estar insatisfeitos com o serviço, ou ter alguma sugestão. Então cada um dos nossos associados é treinado para escutar e trazer isso para casa. Eu tenho no call center uma 'ilha' só para atender o projeto Clientar. Essa demanda tem prioridade e assim que é resolvida o call center informa o associado, que avisa o amigo, que fica satisfeito com o serviço e indica para outros, que indicam para outros e por aí vai.

UOL Business - Que outros diferenciais a Claro tem para oferecer aos usuários de telefonia celular?
Moreira
- Cobertura. Somos obcecados por cobertura. É lógico que em São Paulo não vamos começar com aquela cobertura sem nenhum defeito, mas vamos começar com uma cobertura muito competitiva em relação à BCP e à TIM. A ATL foi a primeira empresa a oferecer cobertura no metrô no Rio, há uns 3 anos, e eu quero fazer o mesmo aqui. Também vamos ter uma gestão de dados para evitar os problemas que a TIM tem tido, por exemplo.

UOL Business - Apesar de destacar que São Paulo é um mercado difícil, mais exigente, a Claro não vai investir agressivamente em mídia. Então qual será a estratégia de vocês para conquistar uma fatia desse mercado?
Moreira
- Eu vou fazer mídia, mas não vou fazer dessa forma, com campanhas em horário nobre da televisão, por exemplo. Eu acho que primeiro é preciso ter um bom produto, uma boa rede. Se eu não tiver um produto que seja competitivo, eu não posso fazer nada. Vamos ter um bom call center. O call center de Campinas, que é nosso, vai atender SP. Também teremos um site na internet que ninguém vai ter. Porque uma das características dessa região é que SP tem a maior penetração de internet e de telefone fixo do país. Como as transações eletrônicas estão crescendo muito aqui, vamos focar muito nessa questão da modernidade. Outro foco será o mercado corporativo, até como decorrência do próprio GSM. O GSM tem muita coisa para o mercado corporativo que ainda não está disponível no Brasil, mas até o final do ano teremos PDAs GSM sendo oferecidos aqui. Vamos trazer para cá todas as soluções que existem hoje nas grandes empresas européias. Eu vou ter a rede, então não preciso ficar inventando. As parcerias que serão anunciadas este mês terão foco muito grande nesse mercado de empresas.

UOL Business - Você disse que o pré-pago é um ótimo negócio, mas que é preciso saber administrar. Como a Claro fará isso?
Moreira
- O que uma empresa de celular vende é o uso de rede, ou seja, minutos. Só que para vender minutos você precisa de alguém com telefone na mão, não importa se pré-pago ou pós-pago. O desafio do cliente pré-pago é o custo de aquisição, porque depois ele é mais rentável que o pós-pago, já que eu recebo antes, não tenho de emitir conta, não tenho inadimplência. Esse é o melhor cliente pra mim. Só que para chegar a ele é preciso administrar o custo de aquisição. Então volta aquela história de mídia: compensa fazer muita propaganda para conquistar um cliente pré-pago? Aquilo que eu gastei no mês, mais ponto-de-venda, mais subsídio no aparelho telefônico, eu divido por quantos clientes eu conquistei e vejo quanto custou isso. Se eu gastei muito em propaganda, dei muito subsídio, eu nunca mais vou ter retorno desse cliente, é dinheiro jogado fora. Então o xis do problema é esse equilíbrio. Por isso teremos um tipo de abordagem para cada um dos mercados: um para o corporativo, outro para o pós-pago e outro para o pré-pago. E cada um com seus custos associados.

UOL Business - Você também comentou que empresas isoladas estão com os dias contados.
Moreira
- Não é que elas estejam com os dias contados. A Telemig e a Telenorte, por exemplo, são empresas rentáveis, mas que não têm futuro porque o negócio delas está estagnado.

UOL Business - Mas na sua opinião quantas empresas o mercado nacional de telefonia celular comporta?
Moreira
- Hoje, se você pensar em grandes competidores, estamos falando em três: Vivo, TIM e nós, que já somos a segunda maior operadora. A Oi é uma empresa regional, que tem dificuldades, mas se o acionista quiser bancar esse negócio ele pode. Mas para ser players nacionais eu vejo no máximo três, que são as empresas ligadas a grupos que têm vantagens de escala, todos com condições de competir.

UOL Business - Como a América Móvil não descarta a possibilidade de aquisição de nenhuma empresa na América Latina, como você analisa a possível compra da BCP?
Moreira
- Não há nada definido nesse sentido ainda. Tanto é que já temos uma estratégia de atuação para operar em São Paulo sem levar isso em consideração. Mas se sair ajuda.



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