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  Entrevista


Irving Nadir Vieira
Melitta investe em produção, mas fica longe de exportações
Ao contrário de boa parte das multinacionais que usam a operação brasileira como base exportadora para a América Latina, a Melitta do Brasil não tem nenhuma estratégia para aumentar suas exportações. A explicação é simples: o baixo consumo de café puro em países como Argentina e Chile não justifica maiores investimentos. Para se ter uma idéia, as exportações representam algo em torno de 1% das vendas totais da filial brasileira. "Prefiro investir no Brasil", afirma Irving Nadir Vieira, presidente da Melitta do Brasil.

Em entrevista concedida ao UOL Business, Vieira comentou as estratégias da empresa para ampliar sua participação no mercado brasileiro, entre elas a instalação de uma máquina para duplicar a linha de 500 gramas do café tradicional, a vácuo. Segundo o executivo, hoje a Melitta é a segunda marca nacional de café [a primeira é Pilão, da Sara Lee], com 5,4% de market share. Vieira também falou sobre a experiência de trabalhar num mercado tão volátil como é o do café. "É uma loucura, mas por outro lado também é fascinante."

 
Foto: Ivan Luis Gomes
Foto: Ivan Luis Gomes
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UOL Business - A Melitta tornou-se conhecida por seus filtros de papel, mas hoje o principal produto de vocês é o café. Qual a participação de cada produto no faturamento da empresa?
Irving Nadir Vieira
- O café responde por algo em torno de 55%, enquanto a linha de filtros tem uma participação de 35%. O restante do faturamento vem de produtos que completam um portfólio que você é obrigado a ter, ou seja, que fazem parte da missão da Melitta.

UOL Business - Dentro dessa missão, existe algum produto que vocês ainda não ofereçam mas tenham intenções de lançar?
Vieira
- Nosso departamento de marketing está sempre monitorando o mercado de forma a fazer com que a empresa ocupe seus espaços, obviamente dentro de sua vocação. Existe um estudo para medir junto ao mercado, o chamado "stretch", até onde você pode esticar sua marca sem tirar o âmago, o foco da empresa, da própria marca.

UOL Business - O consumo per capita de café no Brasil é bem menor do que na Alemanha, por exemplo. A Melitta tem alguma estratégia para aumentar o consumo no país?
Vieira
- O consumo per capita de café na Alemanha é o dobro daqui. O alemão consome em torno de 8 quilos, 8 quilos e meio de café por ano, enquanto o brasileiro consome 4, 4,3 quilos. Então aumentar o consumo per capita não é preocupação de uma marca, como é o caso da Melitta, e sim do segmento torrefador como um todo. A Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), por exemplo, está preocupada com isso e planeja uma série de programas a partir do ano que vem. A preocupação da Melitta é sempre com o seu share, é ampliar sua participação no mercado. Hoje a Melitta é a segunda marca nacional de café [a primeira é Pilão, da Sara Lee], com 5,4% de market share. A meta para este ano é chegar a 5,5%. É um crescimento lento.

UOL Business - Apesar de pequeno, ao que você atribui esse crescimento? Houve alguma mudança?
Vieira
- Não existe um único fator, ou seja, não foi a embalagem, não foi a qualidade do grão, não foi a qualidade da nossa equipe de vendas. Na verdade é um conjunto de fatores. Acho que o fato de a Melitta ter aumentado sua participação no mercado se deve à imagem da marca, à sua constante por busca de qualidade, seja a própria qualidade do produto em si, seja a qualidade de suas embalagens.

UOL Business - Como o mercado de café tem se comportado nos últimos anos?
Vieira
- Ele deu uma decrescida. Eu diria que a partir de 1999, 2000, ele vem andando de lado em termos de qualidade, porque os preços foram sendo depreciados de tal forma que o que sobrou no mercado foi um café muito ruim. Os próprios produtores passaram a fechar suas portas, a mudar de cultura, e quem continuou não fez os tratos culturais adequados porque não valia a pena. Agora é que estamos tendo uma pequena melhora nos preços.

UOL Business - Mas isso também tem a ver com o número de empresas que atuam no setor.
Vieira
- Sim. Em nenhum lugar do mundo existem tantas empresas quanto aqui. A Abic estima 1,3 mil empresas, o que é uma concorrência absurda, principalmente se você considerar que não são todas as empresas que têm uma marca só. Então um mercado com 2 mil marcas trabalha muito por preço. E uma das estratégias da Melitta é sempre sair dessa vala comum que é preço.

UOL Business - Qual sua expectativa em relação ao preço do café agora?
Vieira
- Eu enxergo assim: o ano passado teve uma safra de café muito forte no Brasil, quase 50 milhões de sacas de café. Então nós inundamos o mundo de café, e quando acontece isso o preço cai. Mas existe uma regra no mercado de café: todo ano que você tem uma super safra, no ano seguinte você tem uma safra ruim. Os preços subiram em função dessa expectativa. E quando o mundo descobrir que a safra no Brasil vai ser inferior a 30 milhões de sacas, ou seja 40% menor que em 2002, isso levará ao consumo dos estoques e ao aumento dos preços. Mas não vai ser nenhuma loucura. Como já estamos na metade da colheita, a menos que haja uma geada para quebrar de vez a safra, a expectativa é boa. Até porque para o torrefador é importante que o preço seja remunerador da atividade da lavoura.

UOL Business - Como que é trabalhar com um mercado tão volátil?
Vieira
- É uma loucura, mas por outro lado também é fascinante. Entramos no mercado todos os dias, seja para comprar, seja para sondar ou acompanhar os boatos: greve de caminhoneiro na Colômbia, tufão no México. É realmente uma loucura. Mas apesar de ser um mercado muito volátil dá para trabalhar com projeções de médio e longo prazo.

UOL Business - Os cafés especiais têm conquistado um espaço cada vez maior nas prateleiras dos supermercados. A Melitta tem algum produto nessa linha?
Vieira
- Os cafés especiais no Brasil hoje representam 5% do volume global, o que é muito pouco. Eu diria que o nosso café expresso pode ser considerado dentro desse segmento especial.

UOL Business - Mas em faturamento eles representam mais do que isso, correto?
Vieira
- Talvez em termos de faturamento eles respondam pelo dobro, ou seja 10%, porque os cafés especiais têm um valor agregado muito maior.

UOL Business - É comum ver as marcas de café associadas a redes de cafeterias, como vocês faziam antes com o Fran's Café. Atualmente vocês têm parceria com alguma outra rede?
Vieira
- Não. Tínhamos um contrato de merchandising com o Fran's Café, pelo qual eles usavam a nossa marca nas máquinas e nós fornecíamos cardápio, bonés, xícaras, todo o material com a nossa logomarca. Esse contrato expirou e nós não renovamos.

UOL Business - Por quê? Esse tipo de acordo não é interessante?
Vieira
- É sempre interessante, desde que seja bom para os dois lados. O que aconteceu em relação ao Fran's Café é que num determinado momento a rede decidiu abrir o leque, ou seja, a filosofia anterior - de ser uma cafeteria - era muito adequada para a Melitta, mas como eles evoluíram para uma cadeia de lanches rápidos deixou de nos interessar. Mas se surgir uma nova rede interessada em ter a Melitta como parceira vamos estudar com o maior prazer.

UOL Business - A Melitta distribui produtos para outros países da América Latina. Qual sua estratégia em relação às exportações?
Vieira
- Distribuímos, mas é muito pouco. Exportamos para Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Chile, mas esses países - com exceção da Argentina - ou são muito pequenos ou não consomem café, e por decorrência, também não compram filtro de papel. O Chile, por exemplo, é um país que consome instantâneo. E o grande líder mundial nessa área é o Nescafé [da Nestlé]. O Uruguai é um país pequeno, a população deles é menor do que a torcida do Corinthians. Na Argentina, o café mais consumido é o "glaceado", um café torrado com açúcar, com um gosto caramelizado. Então você vê que tudo isso limita muito as exportações brasileiras da Melitta, que hoje estão em torno de 1% das nossas vendas. Ou seja, eu prefiro investir no Brasil.

UOL Business - Quanto vocês estão investindo este ano?
Vieira
- Este ano o investimento deve chegar a 11,5 milhões de reais, cerca de 3,5 milhões de reais em um novo equipamento. Estamos no meio do processo de instalação de uma máquina para duplicar nossa linha de 500 gramas a vácuo, do café tradicional. O que acontece é que tínhamos uma capacidade de torração muito maior que a nossa capacidade de envase, ou seja, estávamos no gargalo. No ano passado envasamos 21 mil toneladas de café, com as máquinas funcionando dia e noite. Mas essa nova máquina vai nos dar uma folga. E isso permitirá que a partir do ano que vem a gente invista no mercado para poder vender mais.

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