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  Entrevista


Max Thiermann
"A previdência é a maior propulsora de seguros"
Muita coisa mudou desde que a seguradora AGF iniciou suas atividades no país, em 1904. Hoje, a AGF Brasil Seguros não só faz parte do Grupo Allianz, um dos maiores grupos seguradores do mundo, como também ocupa a sexta posição do ranking nacional. Mas a AGF quer mais.

Em entrevista concedida ao UOL Business, Max Thiermann, novo presidente da AGF Brasil Seguros, mostrou-se empenhado em fazer a companhia aumentar sua produtividade e ampliar sua atuação em automóveis, vida e previdência, saúde e grandes riscos.

O executivo - que até o início do ano ocupava a presidência da Colseguros, empresa na Colômbia que também pertence ao Grupo Allianz - também falou sobre o mercado nacional de seguros. Para Thiermann, o crescimento do setor está relacionado diretamente ao crescimento da área de previdência. Ele justifica sua opinião com base em sua experiência em países vizinhos. "No Chile, por exemplo, mais da metade do prêmio total do mercado vem da previdência", afirma.

 
Foto: Ivan Luis Gomes
Foto: Ivan Luis Gomes
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UOL Business - A AGF Brasil Seguros oferece uma série de produtos e serviços, tanto para pessoa física quanto para o mercado corporativo. Qual o principal produto?
Max Thiermann - O principal produto da companhia, em termos de prêmio de vendas, é o seguro de automóveis. Esse produto representa, hoje, mais ou menos um terço do nosso prêmio. O segundo produto em importância é Vida e Previdência, com 25% de participação.

UOL Business - A AGF pretende manter o foco nesses dois segmentos?
Thiermann - Temos presença forte nessas duas áreas e vamos continuar a ter. Outra área em que a AGF tem atuação forte é o segmento de seguros patrimoniais, principalmente com programas de seguros feitos sob medida para grandes empresas. Também temos algo em planos de saúde coletivos. Isso completa nosso foco de atuação.

UOL Business - Existe alguma área em que a AGF tenha interesse em atuar? Riscos ambientais e rurais, por exemplo, ou acidentes de trabalho, no caso de essa área ser privatizada novamente?
Thiermann - Há cerca de 10 anos deixamos de atuar no mercado de riscos agrícolas, mas estamos estudando a possibilidade de retomar essa atuação em razão do forte desenvolvimento da agricultura no Brasil e do aumento das exportações de produtos agrícolas. Acho que é um segmento interessante e estamos estudando. Quanto à área de acidentes de trabalho, no caso de ela ser novamente privatizada, teríamos de examinar bem a legislação antes de tomar alguma decisão.

UOL Business - Há cinco anos, o seguro de automóveis representava 35,5% da fatia do faturamento das seguradoras e hoje responde por 27,6%, segundo dados da Susep [Superintendência de Seguros Privados, órgão ligado ao Ministério da Fazenda]. Em contrapartida, o seguro saúde passou de 15,4% para 20,98%. Como a AGF se posiciona nesse segmento?
Thiermann - Atuamos na área de saúde há mais de 10 anos e há 2 anos fizemos uma reestruturação para aprimorar os sistemas internos, "arrumar" convênios e focar nossa atuação no segmento particular do mercado de saúde. Nosso produto não é o mais barato, mas é o melhor do mercado. A AGF Saúde possui o melhor desempenho financeiro entre as seguradoras do país que atuam no setor, segundo estudo realizado pela consultoria Austin Asis para a Fundação Getúlio Vargas (FGV).

UOL Business - A área de previdência privada também vem crescendo bastante. Qual a estratégia da AGF para aumentar sua participação nesse segmento?
Thiermann - Nossa pretensão é focar no mercado de grupo, na previdência complementar [sistema de complemento das aposentadorias recebidas por trabalhadores tanto da iniciativa privada quanto do setor público]. Esse é nosso foco, ou será o nosso foco no futuro.

UOL Business - Qual a sua expectativa em relação à reforma da previdência social?
Thiermann - Acho que agora o grande tema de discussão tem sido mais a reforma fiscal do que a reforma da previdência. Na minha opinião, a resolução do futuro da previdência não começou realmente. Ainda não se sabe se vai continuar o sistema atual, se vai mudar para capitalização individual ou se será um sistema misto. Hoje o esquema de previdência complementar é um sistema de capitalização individual mas acho que falta maior regulamentação para isso, para que ele realmente seja focado para previdência, e não como um produto de investimento, como é considerado hoje.

UOL Business - Um dos maiores desafios das seguradoras é reduzir a taxa de "sinistralidade" [número de ocorrências em relação ao total de seguros contratados]. Como a AGF lida com isso?
Thiermann - A "sinistralidade" muda de acordo com a linha de produto, mas na prática ela já vem predeterminada como um risco que você aceita dentro da companhia. Então, é fundamental selecionar os riscos que você pode correr nos seguros individuais, nas apólices grandes. Você pode trabalhar isso também por grupos, regiões geográficas etc. Mas existe um componente - não só no Brasil, mas no mundo todo - que preocupa cada vez mais o mercado, que é a fraude. Porque isso entra para nós como sinistro.

UOL Business - Quanto isso representa em porcentagem?
Thiermann - Acho que não há estatísticas sobre isso para o mercado brasileiro. Pelo menos não que eu tenha ouvido falar. Não sei quanto isso representa, mas é uma fatia considerável.

UOL Business - Em 2002, o lucro da AGF Brasil Seguros chegou a 23,4 milhões de reais, um crescimento de 10,2% em relação a 2001. Quais suas estratégias para aumentar a lucratividade da empresa?
Thiermann - A AGF vem desenvolvendo há 3 anos programas de aprimoramento de sua estrutura administrativa, para reduzir suas despesas administrativas e permitir um melhor controle da gestão e de seus negócios. Também temos estreitado cada vez mais nosso relacionamento com nossos parceiros, que são os corretores. Outro fator que contribui para melhorar nossos resultados é a situação dos rendimentos financeiros. Por outro lado, como "vivemos" do seguro de carros novos e o mercado está em queda, também "ficamos" em queda. Além disso, somos obrigados a lidar com um forte aumento do número de sinistros de automóveis, principalmente nos centros urbanos. Também "vivemos" da instalação de novas usinas, novas fábricas, novas obras públicas, o que não tem acontecido. Então, para curto prazo, não temos fatores que contribuam para aprimorar resultados, e sim para piorar. Essas são as principais nuvens pretas para este ano.

UOL Business - Mesmos com esses "problemas", a AGF teve um lucro de 9,2 milhões de reais no primeiro trimestre de 2003. Não dá para arriscar que a AGF terá um lucro maior em 2003?
Thiermann - Como ainda não tenho os resultados do primeiro semestre - e existe essa nuvenzinha - não sei se dá para arriscar. Ainda não é nada dramático, mas marca uma tendência. Digamos que não está vermelho mas está amarelo.

UOL Business - O setor de seguros triplicou na última década, chegando a quase 3% de participação do PIB em 2002. Esse índice, no entanto, ainda é modesto quando comparado a outros países. É possível chegar a um patamar de 8%, 10%, ou isso é inviável no Brasil?
Thiermann - Acho que é possível, mas para isso é fundamental o crescimento da área de previdência. A previdência é maior propulsora de seguros. No Chile, por exemplo, mais da metade do prêmio total do mercado vem da previdência.

UOL Business - Na sua opinião, o que é preciso fazer para popularizar o seguro no Brasil?
Thiermann - Seguro não é apenas uma questão econômica, é um assunto de cultura também. Porque para fazer um seguro você precisa ter propriedades - um carro, uma casa, um escritório, alguma coisa - mas também precisa ter a preocupação. Olhando para a experiência de países vizinhos, como Chile, Peru, Colômbia e México, eu acho que o grande gatilho para popularização do seguro é a previdência. É ela que permite, ou obriga, que as pessoas façam sua escolha por um seguro. O mesmo acontece com a saúde. Quando as pessoas passam a ter consciência de que há diferença entre o plano de saúde ou previdência oferecidos por uma empresa e por outra, elas começam a comparar, e é aí que começa a cultura do seguro.

UOL Business - Como o grupo Allianz enxerga a AGF Brasil Seguros?
Thiermann - Somos a maior empresa do grupo em toda a América Latina, porque o México, dentro do grupo, faz parte da América do Norte. O Brasil é a maior filial na América do Sul, com mais ou menos 40% do prêmio, e tem sido a mais regular em termos de proporcionar resultados, mesmo que não tenham sido exorbitantes.



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