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  Entrevista


Newton Neiva
Visa Vale quer 8% de market share até o final do ano
Disposta a abocanhar uma boa fatia do mercado de vales-refeição - que movimenta cerca de 7,2 bilhões de reais por ano -, a Companhia Brasileira de Soluções e Serviços (CBSS) aposta na força da bandeira Visa e na tecnologia de seus cartões com tarja magnética e chip para incomodar a concorrência. A Visa Vale, como quer ser conhecida no mercado, tem como metas para 2003 atingir uma carteira de 4,5 mil clientes e um faturamento de 600 milhões de reais.

Em entrevista concedida ao UOL Business, Newton Neiva, presidente da Visa Vale, comentou a estratégia da empresa para enfrentar os líderes do segmento: as francesas Accor e Sodexho e a brasileira VR. Também falou sobre a importância da substituição do papel pelo plástico na expansão do Programa de Alimentação ao Trabalhador (PAT). "Nossos estudos mostram que temos condição de fazer esse mercado crescer 50% nos próximos quatro anos."

 
Foto: Ivan Luis Gomes
Foto: Ivan Luis Gomes
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UOL Business - Quanto a Visa Vale investiu para lançar os produtos Refeição e Alimentação?
Newton Neiva - Investimos até aqui aproximadamente 45 milhões de reais, incluindo constituição da empresa, tecnologia, formação da rede e marketing. Nossa campanha deve ficar no ar até o final de outubro, sempre procurando passar a mensagem de que hoje a empresa tem mais uma opção para oferecer a seus clientes.

UOL Business - Mas a Visa Vale vai enfrentar a concorrência de grandes empresas, como Accor, Sodexho e VR.
Newton Neiva - Sim, mas somos a única empresa operadora desse segmento que trabalha com os dois produtos do PAT (Programa de Alimentação do Trabalhador). Esse segmento conta com 6 milhões de trabalhadores e movimenta cerca de 7,2 bilhões de reais por ano. VR, Sodexho e Accor lideram esse setor. Eles já lançaram o cartão de alimentação, mas quem captura a transação é a Redecard. Qual a diferença? Na Visanet, que é da rede Visa, só passam cartões Visa. Na Redecard, você pode fazer um acordo para fazer a captura, é uma VAN (Value Added Network). Então, os cartões da concorrência não têm bandeira.

UOL Business - Por que a Visa Vale optou por cartões com tarja magnética e cartões com chip?
Neiva - No caso do cartão de alimentação, você tem basicamente quatro transações por mês, e elas são feitas ao longo do dia. Já o cartão refeição é usado 20, 22 vezes ao mês, e as transações acontecem na hora do almoço. Como metade dos 6 milhões de trabalhadores usam o produto refeição, você tem 3 milhões de pessoas utilizando esse cartão no mesmo horário, o que causa "algum" congestionamento. Então, o cartão refeição exige uma tecnologia diferente. Todos os estudos desenvolvidos até aqui levam à necessidade de ter um chip. A concorrência fez um teste de cartão refeição com chip em Goiânia [referindo-se à VR]. Mas o produto deles é bastante diferente do nosso. O deles é conhecido no mercado como porta-moedas, porque todos os recursos são residentes no chip. Então você faz pequenas despesas gastando o que tem no chip.

UOL Business - Como se fosse um cartão pré-pago?
Neiva - Isso. Além disso, enquanto o produto deles é 100% offline, o nosso é 100% online. Qual o problema que a solução deles tem? É que todo mês o usuário tem de pegar o cartão e fazer alguma carga no chip, por meio de ATMs bancárias, da Internet ou de equipamentos instalados na empresa. Só que isso tem um investimento adicional pesado. Já a Visa Vale optou por outra solução: o VSDC - Visa Smart Debit & Credit, que permite a utilização do chip para fazer transações online e offline. Isso é possível porque fazemos a fixação de alguns parâmetros no chip e alguns no software do terminal. Podemos definir, por exemplo, que toda a transação menor que 8 reais deve ser offline e que cada cartão só pode ter no máximo 3 transações offline. Então, à medida que esse cartão é utilizado, o chip conversa com o terminal e se ele constatar que é uma transação offline armazena isso no terminal. A primeira transação online que passar por esse terminal carrega essa transação para o computador central. E na primeira transação online que o usuário fizer, sem que ele perceba, receberá a equalização do saldo. Ou seja, nosso chip não tem a moeda residente. Esse é o diferencial entre o que a concorrência lançou e o que a Visa Vale está lançando. Outro fato interessante é que como a concorrência detém 90% do mercado se eles migrarem para o cartão terão de fazer com chip. E no produto deles eles não optaram por utilizar a Redecard, e sim por desenvolver uma rede de captura. Só que a solução deles tem uma limitação porque a cada 5 transações o estabelecimento tem de retirar o cartão para descarregar os dados para o computador central.

UOL Business - Qual a principal estratégia da Visa Vale para conquistar uma fatia desse segmento?
Neiva - A distribuição dos produtos alimentação e refeição Visa Vale, que será feita inicialmente pelas redes de distribuição dos bancos fundadores. Juntos eles têm mais de 6,7 mil agências. Então nossa estratégia é a colocação do produto nessas agências. Nossos estudos mostram que temos condição de fazer esse mercado crescer 50% nos próximos quatro anos. Hoje temos 27 milhões de trabalhadores com carteira assinada no Brasil e somente 6 milhões participam do PAT. Além disso, no próprio programa Fome Zero existe um projeto de ampliação do PAT pelo qual o governo federal pretende incentivar pequenas e micro empresas a participar do programa, estudando inclusive à possibilidade de incentivos por meio do Simples e do Lucro Presumido.

UOL Business - Quantos estabelecimentos estão aptos a receber o Visa Vale atualmente?
Neiva - Estamos hoje com 60 mil estabelecimentos conveniados e preparados para aceitação dos produtos Visa Vale. E nossa meta é chegar a 100 mil estabelecimentos até o final do ano.

UOL Business - Esses 100 mil estabelecimentos representam quanto do mercado?
Neiva - Na verdade, ao longo da existência do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), tivemos algumas distorções pelo fato de o produto ter sido desenvolvido na mídia papel. Então você tem uma série de estabelecimentos que usam os vales refeição como moeda, ou seja, eles ficam circulando na economia. Prova disso é que apenas 30 mil estabelecimentos - de uma rede desenvolvida para aceitação de papel de 150, 180 mil estabelecimentos - comparecem aos postos de reembolso para fazer a troca de papel pela moeda. Isso fez com que o programa caminhasse para um desvirtuamento. Hoje as pessoas infelizmente utilizam o benefício em papel para a compra de produtos que não são produtos de alimentação. Criou-se, então, a figura do intermediário, que trabalha com deságio. E existem também os problemas que o papel apresenta com relação à falsificação. Então os nossos cartões vão tentar coibir um pouco isso, porque o produto passa a ser usado para o seu próprio fim social.

UOL Business - Quanto o segmento perde com isso?
Neiva - Eu não tenho esse número, mas posso dizer que isso incomoda bastante o governo federal e os estabelecimentos, que acabam sendo penalizados quando há um processo como esse. O que posso afirmar é que uma rede de 100 mil estabelecimentos é uma rede extremamente confortável para que o usuário possa utilizar o produto. Porque não é mais uma rede informal. É um processo muito mais seguro, a transação é rápida, tem uma série de vantagens.

UOL Business - Na sua opinião, como o emprego informal afeta o negócio dos vales refeição?
Neiva - Estamos desenvolvendo um estudo bastante profundo a respeito da informalidade. A partir do momento que você começa a propiciar ao usuário, à empresa e ao estabelecimento comercial a tecnologia, você começa, de uma forma ou de outra, a formalizar uma situação que talvez com a utilização do tíquete em papel não fosse possível, porque o papel ficava circulando na economia. Então, dentro dessa linha, pretendemos trabalhar junto ao governo federal para também trazer para a formalidade os estabelecimentos que ainda estão numa situação de informalidade.



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