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  Entrevista


Jean-Christophe Marc
Larousse planeja exportar
livros em português
Lembra da enciclopédia "Delta Larousse" e do "Pequeno Koogan-Larousse", obras que fizeram sucesso no Brasil nas décadas de 60 e 70? Pois a editora francesa Larousse - que atuou até os anos 80 no Brasil por meio de parcerias - está de volta ao mercado brasileiro. Só que desta vez a companhia tem planos bem mais audaciosos.

Confiante no empenho do atual governo em incentivar a leitura no país, a Larousse investirá 2 milhões de dólares em três anos. A editora vai focar sua atuação em títulos infanto-juvenis, obras temáticas e livros paradidáticos. Os próximos passos incluem não só a versão em português do famoso "Petit Larousse", dicionário-enciclopédico ilustrado que vende 1 milhão de exemplares ao ano na França, como também o lançamento de obras de autores nacionais.

Em entrevista concedida ao UOL Business, Jean-Christophe Marc, diretor-geral da Larousse do Brasil, comentou a decisão da empresa de fixar raízes no país e sua estratégia de expansão. Também manifestou intenção de levar os títulos nacionais para outros países de língua portuguesa. "Seria uma maneira de a Larousse entrar na África, o que é fundamental para nós."

 
Foto: Ivan Luis Gomes
Foto: Ivan Luis Gomes
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UOL Business - O que levou a Larousse a apostar novamente no mercado nacional de livros?
Jean-Christophe Marc - Existem vários motivos. Fazia tempo que queríamos voltar para o Brasil, afinal o país representa 50% do business da América Latina. No entanto, retomar a atuação no país significava começar uma editora do zero, porque temos milhares de obras em espanhol, por exemplo, mas nada em português. Na verdade, a entrada no Brasil foi sempre mais difícil em relação ao restante da América Latina por conta do idioma. Isso justifica um pouco o fato de não termos entrado no país antes. O que também ajudou muito a Larousse a voltar ao Brasil foi a eleição do presidente Lula. A vontade do governo de investir cada vez mais em educação e cultura tem tudo a ver com o lema da Larousse, que é "cultura para todos". No Brasil, o livro hoje é mais voltado para o público A, B. Sem dúvida, a Larousse tem livros para esse público, mas também é nossa intenção trabalhar com o governo para atingir o público C, D, que não tem acesso fácil à escola e à educação. E tem outra razão. O Brasil é um dos países da América Latina onde a cultura francesa é muito bem-aceita. Eu sei que hoje o francês não é um idioma muito falado no Brasil, agora é mais o inglês. Mas também vejo nas pesquisas que mostram quais os idiomas que mais se falam - ou que mais se aprendem - que o espanhol cresceu muito e que logo depois vem o francês. Dados da Câmara Brasileira do Livro referente à cifra do mercado editorial também mostram que a França é o segundo país no ranking de obras traduzidas. Isso ajuda muito também, porque prova que temos muito para oferecer ao Brasil.

UOL Business - Se a Larousse já tinha em mente ingressar no país como uma editora própria, por que no início dessa retomada vocês optaram por fazer uma parceria com a editora Ática? Era um teste de mercado?
Marc - Não, a parceria com a Ática não era um teste. Em um país tão grande como o Brasil é muito mais fácil entrar no mercado com um parceiro tão grande como a Ática do que chegar sozinho. Por isso fizemos a parceria com a Ática. Mas esse acordo vale apenas para os dicionários bilíngües.

UOL Business - Qual o foco da Larousse no Brasil?
Marc - Vamos focar nossa atuação em obras gerais, referências infanto-juvenis e para adultos, para livrarias, e livros paradidáticos, para o governo. Sempre por meio de temas: de saúde, religião etc.

UOL Business - Mas ingressar nesse mercado de livros para o governo não é complicado? A Larousse já pode fazer isso?
Marc - Existem duas formas de fazer isso: por meio dos livros paradidáticos e por meio de livros didáticos. Os paradidáticos representam uma parcela pequena do grande negócio de didáticos. Mas o foco da Larousse hoje são os livros paradidáticos, porque já temos algumas minisséries que atendem perfeitamente o que quer o Ministério da Educação e da Cultura. Ingressar nessa área não é tão complicado como é na parte de livros didáticos, em que você precisa apresentar os professores, desenvolver projetos etc. Prova disso é quem faz isso hoje são as cinco maiores editoras do país. Então atualmente eu não tenho pretensão de ingressar no mercado de didáticos. Talvez mais pra frente.

UOL Business - Mas esse segmento - de livros para o governo - não oferece uma margem de lucro menor?
Marc - Se você tem realmente vontade de entrar num mercado você tem de se adaptar. É claro que toda empresa quer ter lucro, mas a Larousse está aqui para sempre. Então isso significa que eu sei que durante vários anos eu vou perder dinheiro. Isso é um fato. Então, eu tenho de me acostumar também com o tipo de margem de lucro, que se tem de um lado nas negociações com os livreiros e de outro com o governo.

UOL Business - Quando a Larousse do Brasil espera chegar à lucratividade?
Marc - Esse é um negócio de médio a longo prazo. Não dá para pensar em ganhar dinheiro já, porque isso é impossível no mercado editorial. Eu acho que a empresa não vai alçar vôo antes de 2005. Então eu sei que até lá vou perder dinheiro.

UOL Business - A Larousse vai lançar obras de autores nacionais?
Marc - Sem dúvida. Como estamos trabalhando muito com o público infanto-juvenil, que seguramente oferece o maior potencial de crescimento no setor editorial, e também temos como foco o segmento de paradidáticos, não me interessa trazer apenas autores estrangeiros. Então vamos, sim, trabalhar com autores brasileiros. E como o Brasil é um país muito grande, com culturas diferentes, também queremos nos adaptar ao regionalismo, trabalhar com autores por região. Mas tudo isso mais para médio prazo.

UOL Business - Você pensa em usar o Brasil para exportar livros para países que falam o português?
Marc - Sem dúvida. Essa é uma pergunta muito interessante, porque hoje você tem o governo francês cada vez mais próximo do governo brasileiro. E os dois países estão muito presentes na África. Então essa é uma maneira de a Larousse entrar na África, o que é fundamental para nós, pela nossa relação com os países africanos. Ou seja, realmente não estamos pensando apenas em Portugal, mas em todos os países que falam o português. Mas eu acho que isso só será possível em 2005.

UOL Business - O famoso Petit Larousse vende 1 milhão de exemplares por ano na França. Você acredita que o Brasil vai conseguir superar a França?
Marc - Sim. Não pretendo vender 1 milhão de exemplares no primeiro ano, mas minha meta é sempre superar a França, que é o maior mercado da Larousse. O número de potenciais leitores no Brasil corresponde à população da França. Claro que a concorrência aqui é muito forte, a economia não é fácil, o poder aquisitivo é baixo etc. Mas dizem muito que o brasileiro não lê. Isso eu não creio. O brasileiro pode não ler tanto quanto o francês. Mas é só começar a colocar livrarias em regiões que não têm nada para ver que você tem público.

UOL Business - A Larousse tem algum projeto voltado para aumentar o estímulo à leitura e, conseqüentemente, as vendas de seus livros e dicionários?
Marc - Estamos discutindo isso com a Secretaria de Cultura e da Educação, já estamos falando sobre alguns temas. No âmbito institucional, recentemente fizemos uma parceria com a Saraiva e com o Hopi Hari, pela qual as compras de nossos livros infanto-juvenis eram convertidas em ingressos para o parque. São ações desse tipo que continuaremos fazendo.

UOL Business - E títulos para venda em bancas de jornais?
Marc - Nossa idéia é fazer algo futuramente em bancas de jornais, mas sempre numa parceria entre vídeo e livro. Porque é preciso manejar muito bem o negócio de bancas de jornais, existe muita devolução, muita perda.

UOL Business - A Larousse também lançará dicionários em CD-ROMs no Brasil, como faz lá fora?
Marc - Sim, faremos o mesmo aqui, mas com produção nacional. Mas nossa prioridade é o papel, o livro.

UOL Business - Na sua opinião, a internet não representa uma ameaça às editoras de livros?
Marc - Não. Eu vejo a internet como um novo canal de distribuição. O Submarino, por exemplo, vende livros. Então a internet é um valor agregado ao livro, mas que nunca tomará o lugar dele.

UOL Business - O volume de livros comercializados em 2002 caiu 13% [excluindo vendas para o governo]. Já dá para arriscar uma recuperação nas vendas em 2003?
Marc - 2002 não foi um ano bom para muitos setores, não só o editorial. Na minha percepção, chegamos ao fundo em 2000, 2001, 2002, e agora estamos realmente entrando numa fase mais estável.



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