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  Entrevista


Hideki Oshiro
Subaru muda foco e busca mercado de veículos de luxo
Não é muito comum ver carros da marca Subaru circulando pelas ruas do Brasil. Também não é em qualquer esquina que se encontram os modelos Forester, Outback e Legacy à venda. Sinal de que as coisas vão mal para a Subaru no Brasil? Nem tanto. Apesar de nunca ter sido uma marca de grandes volumes e não prever grandes investimentos para este ano, a empresa continua firme na sua estratégia de conquistar o consumidor brasileiro com modelos topo de linha. Prova disso é o recém-chegado Impreza Turbo WRX 2003, um 4x4 voltado para clientes dispostos a gastar cerca de 120 mil reais.

Em entrevista concedida ao UOL Business, Hideki Oshiro, diretor da Subaru no Brasil, falou sobre a decisão de trabalhar a marca no país de forma diferenciada. Até meados de 2002, os veículos da japonesa Subaru e da coreana Hyundai - ambos distribuídos no país pelo grupo CAOA - eram comercializados nas mesmas lojas. Oshiro também comentou o impacto da oscilação do câmbio nos negócios da empresa. "Em vez de buscar o cliente que hoje compra um Honda, um Toyota nacional, passamos a buscar o cliente de Mercedes, de Audi importado", afirma o executivo, que recentemente também assumiu a direção da Hyundai no Brasil. De acordo com ele, a Hyundai passa por um processo de definição de foco no país. "Depois virá a fábrica", garante.

 
Foto: Ivan Luis Gomes
Foto: Ivan Luis Gomes
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UOL Business - Qual a expectativa da Subaru com relação ao Impreza Turbo WRX 2003?
Hideki Oshiro - O Impreza Turbo WRX é um carro, digamos, de maior glamour. Ele tem um visual clássico, discreto, mas tem sangue extremamente esportivo, o que agrada o consumidor brasileiro, que em geral é muito conservador. O brasileiro gosta de ser discreto, não gosta de carros que têm a esportividade apenas no visual. Outras marcas já tentaram trazer carros que pareciam ter saído de filmes de ficção, com design agressivo, mas não deu certo. Trouxemos 40 unidades do Impreza Turbo WRX e antes mesmo do lançamento oficial [dia 16 de maio] já tínhamos cinco carros faturados.

UOL Business - Esse modelo foi lançado lá fora este ano?
Oshiro - Não. Esse novo Impreza foi lançado mundialmente em novembro do ano passado. Tivemos de esperar um pouco mais para trazê-lo para o Brasil porque na ocasião os bancos estrangeiros não estavam liberando dinheiro para o Brasil e, conseqüentemente, não se conseguia carta de crédito, fiança internacional, para importar novos carros.

UOL Business - A marca Subaru chegou a estar presente em 16 lojas e hoje está em apenas duas, ambas em São Paulo. Isso não afetou as vendas da empresa?
Oshiro - Não, pelo contrário. Para um produto como o Subaru, não é a quantidade de pontos de presença no país que faz o volume de vendas. O Subaru não é um produto de conveniência. Ele é um produto de paixão, porque é um carro relativamente desconhecido no Brasil. Quem quer um Subaru é porque conheceu o carro lá fora, nos Estados Unidos, no Japão, na Europa. Mesmo que o cliente esteja em Belém do Pará, onde não temos revenda, ele vem para São Paulo para comprar o carro. Ou simplesmente faz o pedido por telefone que mandamos entregar o carro para ele. Não adianta ter um monte de lojas. O que acontecia quando a Subaru e a Hyundai estavam juntas? Vendia-se carros, havia economia de custo - porque as instalações físicas e os funcionários eram compartilhados -, mas as duas marcas saíam prejudicadas porque nenhuma delas criava uma identidade própria. Antes da mudança, vendíamos 10, 11 carros por mês. A partir do momento que fizemos a divisão das marcas e começamos a trabalhar a marca Subaru de uma forma diferenciada, passamos a vender cerca de 30 carros por mês. E ficou um bom tempo nesse volume, até ter essa queda no mercado.

UOL Business - Fazia parte dos planos da Subaru trazer para o Brasil produtos licenciados, como jaquetas, bolsas, camisas. Isso já aconteceu ou vocês desistiram dessa idéia?
Oshiro - Na verdade, tivemos de repensar uma série de coisas que tínhamos planejado quando começamos esse trabalho com a marca Subaru, quando o dólar estava cotado a 2,30 reais. Na ocasião, por atingir uma faixa maior dentro da pirâmide de consumidores, tínhamos um plano de vendas muito maior, mais agressivo. Só que quando o dólar chegou a 3,60 reais tivemos de rever nossa estratégia. Então, em vez de buscar o cliente que hoje compra um Honda, um Toyota nacional, passamos a buscar o cliente de Mercedes, de Audi importado.

UOL Business - A queda do dólar nas últimas semanas já permite que a Subaru pense em retomar essa estratégia mais agressiva?
Oshiro - É preciso esperar mais um pouco, para ver se o dólar ficará no patamar de até 3 reais. Acho que o que pode afetar esse dólar são as decisões que o governo ainda tem de tomar com relação às reformas previdenciária e tributária. Acho prudente esperar essa definição. Até lá é tudo especulação.

UOL Business - Mesmo assim, já dá para falar em vender mais em 2003 que no ano passado?
Oshiro - Certamente. E sem fazer esforço, ou seja, vamos crescer sem aumentar o número de lojas da Subaru ou fazer grandes investimentos. Acho que, mesmo com toda essa crise de 2003, fecharemos o ano com 250 carros novos vendidos, o que representa uma receita de cerca de 25 milhões de reais.

UOL Business - A Subaru nunca pensou em fabricar carros no Brasil? Essa possibilidade está fora de cogitação?
Oshiro - Não é exatamente assim. Se a Subaru nunca tivesse pensando nisso, ela simplesmente não estaria no país. Na verdade, todo mundo que está aqui, que passou por todas as crises, tem interesse no mercado e espera o momento certo para abrir uma fábrica. Isso pode acontecer a qualquer momento ou pode demorar 5, 10, 20 anos. A Toyota, por exemplo, demorou 25 anos para abrir uma fábrica decente no Brasil. O que posso dizer é que, pelo menos por enquanto, a Subaru não tem perspectiva de fabricar carros no Brasil.

UOL Business - Como você avalia, hoje, a situação das importadoras no mercado nacional?
Oshiro - Em 1992, assisti a uma palestra do Eduardo Souza Ramos [presidente da Mitsubishi no Brasil], em que ele comparava aquele momento, em que estavam reunidos cerca de 30 distribuidores, a uma largada de Fórmula 1. Na largada, estavam todas as marcas - Daewoo, Daihtsu, Mazda... Algumas quebraram no meio do caminho, outras desistiram, e poucas chegaram até aqui. A mais recente vítima foi a Suzuki. Então hoje, em relação à largada, muitos já saíram, mas ainda tem bastante gente.

UOL Business - Na sua opinião, o mercado nacional ainda não comporta tantas marcas?
Oshiro - Não comporta. Só vai permanecer na corrida quem trabalhar com nicho de mercado. Não adianta querer abocanhar o mercado inteiro. Isso acaba enfraquecendo o negócio inteiro. Quem é pequeno tem de ter um foco. Caso contrário, está fora. Principalmente se o Brasil não fizer algo para aumentar o mercado interno. Se o país virar um pólo exportador, quem não tiver mercado para exportar não vai conseguir ficar.

UOL Business - Mas essa dependência do mercado externo também não é um risco, especialmente num cenário de queda do dólar?
Oshiro - Nas exportações, o problema maior não é o dólar, e sim a concorrência entre fábricas da mesma marca disputando o mesmo mercado. É isso que viabiliza ou não as exportações. Daí a importância do poder político de um presidente local da marca junto ao presidente da matriz. O Fleming [Paul Fleming, presidente da Volkswagen do Brasil] deve ter um prestígio alto junto a Volks alemã, já que conseguiu trazer o Tupi para ser fabricado no país.

UOL Business - A marca Hyundai agora também está sob seu comando. Quais são as novidades para este ano?
Oshiro - Assumi a Hyundai há um mês e meio e ainda estamos definindo o foco da marca no Brasil. Provavelmente o foco será voltado para o transporte de serviços, segmento no qual as marcas coreanas fizeram nome no Brasil, com as vans para perueiros, escolares... Mas se acharmos que esse não é o caminho buscaremos uma nova vocação para a Hyundai.

UOL Business - A Hyundai tem carros para atender - e disputar - outros nichos que não o de vans?
Oshiro - Tem. A Hyundai é diferente da Subaru. A Hyundai não tem um foco de modelo, ela fabrica de tudo: de carro pequeno a caminhão. Então, dentro dessa disponibilidade de modelos e preços que a Hyundai oferece, vamos definir onde o Brasil tem mais carência e buscar o foco da empresa no país.

UOL Business - Quando vocês terão essa definição do novo foco da Hyundai no Brasil?
Oshiro - Estamos em processo de definição, até porque virá a fábrica... Definida a vocação da Hyundai, a fabricação nacional será em cima desse foco. É muito provável que o caminho seja a linha de veículos de transporte de serviços.

UOL Business - Já tem data definida para o início da produção nacional?
Oshiro - Essa notícia será dada em pouco tempo. Por enquanto, o que posso dizer é que a fábrica virá. E será anunciada ainda este ano.



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