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  Entrevista


Alexandre Atherino
Fator também quer o
pequeno investidor
Disposta a aumentar sua participação nas negociações da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), a Fator Doria Atherino adquiriu esta semana mais um título da BM&F. Mas atuar com mais conforto no mercado de mercadorias e futuros está longe de ser a principal meta da corretora para este ano. Desde o final de 2001, quando se deu conta de que estava começando a ganhar mercado com a onda de fechamento de corretoras, a Fator também decidiu expandir sua base de pessoas físicas. Foi seguindo esse raciocínio que a corretora recentemente adquiriu a operação eletrônica do Lemon Bank e, assim, passou a oferecer a seus clientes a opção de investir em ações pela Internet.

Em entrevista concedida ao UOL Business, o diretor-executivo da corretora, Alexandre Atherino, falou sobre as estratégias da empresa para aumentar sua participação nos principais mercados e também se mostrou bastante otimista em relação ao cenário macroeconômico brasileiro. "Tenho a sensação de que o Brasil vive nesse momento o que a Coréia viveu no final dos anos 90, quando se preparava para trocar o primeiro lugar do bloco dos emergentes para ocupar o último lugar do bloco dos países ricos."

 
Foto: Ivan Luis Gomes
Foto: Ivan Luis Gomes
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UOL Business - O que levou a Fator Doria Atherino a adquirir da Comercial DTVM um título da BM&F?
Alexandre Atherino - Faz parte da nossa estratégia para este ano aumentar nossa participação no mercado da BM&F. A decisão de comprar mais um título está relacionada ao fato de o mercado da BM&F permitir acesso ao pregão de acordo com a quantidade de títulos que cada corretora possui. Ao colocar mais operadores no pregão, conseguiremos aumentar nossa base de clientes e nossa participação nesse mercado.

UOL Business - O acordo firmado com a corretora Comercial também envolveu a equipe de operadores?
Atherino - Compramos da Comercial DTVM o título da BM&F e a equipe de negociação de títulos públicos. Teoricamente não precisamos ter um título da BM&F para fazer negócios de títulos públicos. No entanto, como essa também era uma operação interessante para nós, incorporamos a distribuidora Comercial no que diz respeito à operação de "brokeragem" [intermediação] de títulos públicos.

UOL Business - Com a compra de mais um título na BM&F, a Fator pretende dobrar sua carteira de clientes?
Atherino - Não, porque o número de clientes que opera na BM&F é limitado. Basicamente são clientes institucionais, como tesourarias de bancos, administradores de recursos, ou seja, não é como uma Bolsa de Valores, em que qualquer pessoa física pode virar nosso cliente de um dia para outro. Porém, tendo mais acesso ao pregão da BM&F, conseguiremos oferecer mais produtos a esses clientes e, assim, aumentar o volume de operações. Atualmente estamos posicionados entre os 10 maiores negociadores da BM&F, mas esperamos estar entre os 5 primeiros colocados até o final deste ano.

UOL Business - A Fator também acaba de fechar um acordo com a Itaú Corretora. O que essa negociação contempla?
Atherino - Para entender melhor esse acordo, é preciso voltar um pouco no tempo. No final de março, adquirimos a operação eletrônica do Lemon Bank. Foi um salto tecnológico para a Fator Corretora, porque não tínhamos investido ainda em home broker [negociações de ações via internet]. Além da atualização tecnológica, absorvemos quase 8 mil clientes ativos e 20 mil clientes cadastrados. Isso foi muito bom para nós, porque se não tivéssemos adquirido essa operação do Lemon Bank hoje provavelmente teríamos de investir muito dinheiro em tecnologia e marketing, o que acabaria sendo um risco, porque não dá para saber a quantidade de clientes que conseguiríamos atingir em 1, 2, 3 anos. Logo após a compra da operação eletrônica do Lemon Bank, 15 ou 20 dias depois, surgiu a oportunidade de absorvermos parte da carteira da Investa [portal de investimentos do Itaú]. Pelo acordo, a Itaú Corretora vai transferir para a Fator uma carteira de mais ou menos 1,7 mil clientes, com ativos de 120 milhões de reais a 130 milhões de reais. O interessante é que se não tivéssemos comprado a operação eletrônica do Lemon Bank não teríamos condições tecnológicas para assumir essa posição na Investa. Na verdade, um negócio acabou trazendo o outro. E dentro da nossa estratégia de crescimento nessa área de internet, na área de varejo, de pequeno investidor, caiu com uma luva para nós.

UOL Business - Os clientes que serão repassados para a Fator serão os não-correntistas do Banco Itaú?
Atherino - O Itaú é que vai decidir quem ele vai transferir para nós. Não sei qual é a estratégia deles... Provavelmente eles farão um corte pelo tamanho do cliente e ficarão com os clientes maiores. Se tudo correr bem, a transferência parcial das operações da Investa será realizada até o final de maio.

UOL Business - Essas recentes aquisições estão relacionadas com a redução de participação da Fator em suas outras áreas de atuação?
Atherino - Não, pelo contrário. No meio do ano passado, atingimos o primeiro lugar no ranking da Bovespa, mesmo sem ter home broker, e estamos consolidando a nossa posição de liderança na Bovespa. Nos últimos 10 meses, em 8 meses fomos o primeiro colocado da Bovespa. Ou seja, antes das aquisições já tínhamos todos os nichos de mercado - exceto a pessoa física - consolidados e maduros. Essa atuação da Fator foi gerando caixa e gerando capacidade de investir em outros mercados. Qual o mercado que faltava? Faltava investir um pouco mais na BM&F, e aí veio a aquisição de mais um título; participar mais do mercado de "brokeragem" de títulos públicos, daí a incorporação da Comercial DTVM; e passar a oferecer para o pequeno investidor - aquele que tem 1 mil reais ou aquele tem 500 mil reais - a possibilidade de investir via internet. Enfim, não foi a diminuição em outros mercados que gerou as recentes aquisições, e sim o crescimento da Fator nesses outros mercados.

UOL Business - A Bovespa tem feito campanhas para atrair o pequeno investidor. Na sua opinião, esse tipo de ação funciona?
Atherino - Sim. Eu acho a iniciativa da Bovespa fantástica. O brasileiro não tem cultura de investir em ações mas acredito que nas próximas décadas será interessante para a pessoa física ter um pouco de sua poupança em ações. Também não tenho a menor dúvida de que, nos próximos meses, entraremos num ambiente de queda de juros. E iremos sentir o crescimento da participação da pessoa física no investimento em ações. A receptividade das campanhas da Bovespa tem sido excelente. Não digo ainda se transformando em investimento real, mas muitas pessoas têm ligado para nós querendo saber mais, dispostas a aprender um pouco mais. Nesse aspecto, é um passo bem positivo.

UOL Business - Como você vê o mercado de ações diante do momento atual, de queda de dólar. Isso estimula os investimentos?
Atherino - A queda de dólar em si cria um ambiente macroeconômico mais tranqüilo, as pessoas começam a arriscar um pouco mais, a procurar novas alternativas de investimento, têm mais segurança de investir na Bolsa. Prova disso é que a Bolsa está em alta desde dezembro - e na minha opinião essa alta vai durar alguns meses. No entanto, apesar de o ambiente começar a melhorar, no Brasil é sempre muito difícil enxergar seis meses ou um ano para frente. É mais fácil enxergar cinco anos. Eu vejo um quadro muito bom para o Brasil daqui a cinco anos. Na década de 90, foram feitas mudanças estruturais importantes no Brasil e, no meu modo de entender, o atual presidente [Luís Inácio Lula da Silva] está fazendo um governo surpreendente e extremamente positivo para o ambiente macroeconômico brasileiro. Estamos pulando degraus numa velocidade enorme e chegando perto de conquistar o topo do ranking dos países emergentes. Tenho a sensação de que o Brasil vive nesse momento o que a Coréia viveu no final dos anos 90, quando se preparava para trocar o primeiro lugar do bloco dos emergentes para ocupar o último lugar do bloco dos países ricos.



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