Publicidade

 
UOL Business - Volta à página principal
 
  Entrevista


Isael Pinto
De importadora de doces a exportadora de refresco em pó
Você pode até não se lembrar do nome General Brands, mas provavelmente já viu algum de seus produtos nos supermercados. Dona das marcas Camp, Sukki e Tanny, a General Brands é hoje a empresa que mais cresce no segmento de refresco em pó do Brasil. O mais curioso é que a General Brands iniciou suas atividades em 1995 como importadora de chocolates e biscoitos. O responsável pela mudança de planos foi o câmbio, que fez com que os produtos importados perdessem competitividade no mercado interno.

Mas não foi só a alta do dólar que motivou a empresa a mudar seu foco e lançar, em 1997, o Camp. Não fosse a experiência de seu criador, Isael Pinto, que trabalhou 30 anos na Q-Refresco, possivelmente a General Brands não teria se aventurado no segmento de refrescos em pó. Hoje, além de ser o carro-chefe da General Brands, o Camp já é exportado para vários países, como Venezuela, China e Japão.

Em entrevista concedida ao UOL Business, o presidente da General Brands afirma que pretende aumentar o faturamento da empresa em 60% este ano. Entre as novidades para 2003, estão o Camp sabor coco verde, produto inédito no Brasil e no mundo, e o Campito, versão pronta para beber do suco Camp.

 
Foto: Ivan Luis Gomes
Foto: Ivan Luis Gomes
Foto: Ivan Luis Gomes
Mais informações sobre:
- O entrevistado
- A empresa
- O segmento
UOL Business - O que levou a empresa a deixar de ser apenas uma importadora e passar a fabricar produtos no Brasil?
Isael Pinto - O câmbio. Na época em que criamos a empresa, o câmbio era extremamente favorável, o real valia 85 centavos de dólar... Era um péssimo câmbio para exportar, mas era maravilhoso para importar. Só que sabíamos que essa lua-de-mel iria durar pouco tempo. Começamos, então, a ver o hiato que estava sendo aberto no mercado de refresco em pó. Esse hiato ficou ainda mais evidenciado quando a Kraft Foods, divisão de alimentos da Philips Morris, comprou a Q-Refresco, e a marca Tang começou a perder mercado. Mesmo sabendo que teríamos grandes concorrentes, sabíamos que havia uma brecha no segmento de refrescos em pó. Foi aí que resolvemos lançar o Camp, uma marca guerrilheira, que alia investimento em qualidade com preço competitivo e muito trabalho nos pontos-de-venda.

UOL Business - A General Brands abandonou a importação?
Pinto - Não, na verdade continuamos com a importação durante um certo período. Tínhamos contratos a cumprir e também a facilidade da importação e da colocação desses produtos no mercado, o que foi bastante positivo para nós na nova fase da empresa. O que aconteceu é que tínhamos de começar a produzir rapidamente em função da própria necessidade de ter faturamento. Como começava a ficar inviável a importação, era preciso ter um produto nacional. Foi pensando nisso que, ainda em 1995, lançamos uma caixinha de bombons de 400 gramas que chamava Recheados Importados GB. Era uma caixinha lilás, bonita, fabricada lá fora, mas que já trazia a marca da General Brands. Isso facilitou a divulgação da nossa marca no mercado. Em 1997, começamos a fabricar o Camp e a levá-lo para as regiões Norte e Nordeste. Como o nosso refresco em pó foi muito bem-recebido e a importação havia se tornado inviável, já que os produtos ficavam muito caros para o mercado interno, deixamos a importação em segundo plano. Hoje ainda importamos alguma coisa, mas são produtos totalmente diferenciados, como latas de pão de mel da Alemanha.

UOL Business - Então o Camp foi o primeiro produto fabricado no Brasil pela General Brands?
Pinto - Sim. O que aconteceu em seguida ao lançamento do Camp, um suco para a família das classes A/B, foi que o pessoal de rede de supermercados começou a questionar a presença de um único produto no portfólio da empresa. Então, em fevereiro de 1998, lançamos o Sukki, parecido com o Q-Refresco antigo, um produto voltado para as camadas menos favorecidas do Brasil. Hoje ele chega ao ponto-de-venda por 10 centavos, ou seja, com mais 10 centavos de açúcar, porque esse precisa ser adoçado, uma família pode fazer 2 litros de refresco. Depois, em junho de 1998, lançamos o chiclete Gang. Esse foi um tiro que saiu pela culatra. Nosso objetivo era só incrementar o portfólio da empresa, mas o Gang foi um sucesso de vendas. Hoje fabricamos cerca de 80 milhões de unidades por mês. Depois, em 2000, lançamos o Camp Light e o Camp Institucional, pacotes que fazem 10 litros, para empresas, e o Sustaplus, que concorre com o Sustagen. Em 2001, lançamos o Tanny, um refresco em pó para as classes C/D, que hoje tem cinco sabores.

UOL Business - Hoje a General Brands também exporta o Camp para países como Venezuela e China. Quais as metas da empresa com relação às exportações?
Pinto - Venezuela foi nosso primeiro cliente, em 2000. Depois começamos a exportar para Bolívia, Paraguai, Uruguai, República Dominicana, Cabo Verde, Senegal, Angola e China. Mais recentemente também passamos a exportar para a República Checa e para o Japão. Mas o que ocorre com a exportação - e isso deve ser um pêndulo para a indústria nacional: ela não deve ultrapassar 13% da produção. Porque o nosso foco é o mercado interno. Hoje, a exportação representa mais ou menos 10% da produção da General Brands. Então se chegarmos em 13%, até 15%, é um bom negócio.

UOL Business - Como está posicionada hoje a marca Camp no mercado nacional de refrescos?
Pinto - Numa pesquisa realizada em 2001 pela [revista] "Supergiro" no check-out, ou seja após o consumidor final pagar o produto e colocá-lo na sacola, fomos o primeiro lugar na Grande São Paulo. Como marca, o Camp ficou em décimo lugar e como categoria "refresco" ficou em primeiro lugar, desbancando o Tang, que é o líder. Só que, na oportunidade, o Tang tinha 85% de market share mais ou menos e hoje eles têm cerca de 40%, ou seja, eles perderam muito mercado. A Arisco, por sua vez, com o Frisco, foi vendida para a divisão BestFoods da Unilever e também perdeu mercado. Refresco em pó não é o "core business" deles no mundo. Eles começaram a mexer no produto, tiraram a polpa de fruta do produto, diminuíram a qualidade do produto... E nós fomos subindo. Hoje temos aproximadamente 20% desse mercado de refresco em pó. Só que temos de ir de acordo com as nossas condições, ou seja, fazendo um trabalho bastante positivo no ponto-de-venda.

UOL Business - E ações de marketing? A General Brands não investe muito em publicidade...
Pinto - Revista sim, televisão alguma coisa. Até estamos com um filme do Camp Light na TV Sony, que é paga, que vai concorrer lá fora, no Festival de Cannes. Mas o que nós fazemos muito é ação nos pontos-de-venda, é degustação de produto, abordagem. E também participamos de feiras, quase todas...

UOL Business - Vocês não têm intenções de atacar o mercado de sucos prontos para beber?
Pinto - Temos. O que nós estamos recuperando é um produto que já havíamos lançado, que é o Campito, nos sabores laranja, pêssego, frutas cítricas... Na época nós íamos terceirizá-lo, mas agora já temos toda a fábrica pronta para operar com ele no verão que vem. A embalagem do Campito é uma jarra de 1 litro que a dona de casa compra no supermercado e leva para casa.

UOL Business - Mas no formato individual, garrafinhas, vocês não terão?
Pinto - Não. O pequenininho é um mercado muito predador, onde não se faz qualidade no produto e vende-se pelo preço. Aí é complicado, porque lamentavelmente é feito de qualquer jeito.

UOL Business - Quais as metas para 2003 com relação à marca Camp?
Pinto - Vamos começar a fazer agora, talvez em agosto, um filme institucional, para mostrar a recuperação dessa unidade fabril. Quando arrendamos as instalações da antiga Doces Neusa, isso aqui estava tudo abandonado... Em cima desse institucional e com o verão do ano que vem, temos de estar preparados para uma mídia com o Camp. Também vamos investir em novos sabores de Camp. Daqui uns 20 dias teremos novidade.

UOL Business - Que novidade?
Pinto - Você alguma vez já tomou água de coco em pó? Nunca na sua vida. Mas vai tomar. Só que tivemos de usar "sabor coco verde", porque como a Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] não conseguiu desenvolver o sabor água de coco não permitiu que colocássemos o nome água de coco. Esse sabor não tem no Brasil, não tem no mundo. Estamos trabalhando há quase um ano nesse produto. E detalhe: além de ser um produto inédito, vamos conseguir colocá-lo no mercado a um preço competitivo.

UOL Business - Como a General Brands espera fechar o ano de 2003?
Pinto - Nossa meta é crescer pelo menos 60% em volume de produção e vendas. Este ano precisamos fechar de qualquer forma, com esses poucos produtos que temos, em 80 milhões, contra 50 milhões em 2002 e 32 milhões de reais em 2001. Essa é nossa meta. É aquela coisa da audácia, de tentar ser o maior fabricante de refresco em pó do país, afinal nós conhecemos esse mercado como ninguém.



Clique aqui para ler mais entrevistas do UOL Business.