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  Entrevista


Valmir Fernandes
Cinemark diversifica fontes de receita para obter lucro
Quem já foi a um dos 29 complexos da Cinemark no Brasil sabe como é difícil resistir à dupla pipoca-refrigerante. A Cinemark, é claro, sabe muito bem disso. Conhecida por trazer para o país o conceito dos multiplex - cinemas com várias salas equipadas com telas de parede a parede, som digital e poltronas confortáveis -, a rede de cinemas texana tem a área de alimentação como sua segunda maior fonte de receita. Hoje, a venda de alimentos e bebidas responde por 20% a 25% do faturamento da Cinemark, enquanto o ingresso corresponde a 70%, 75%. O restante da receita vem de propagandas em tela, aluguéis de salas e áreas de games, serviço que só existe em alguns locais, como em Porto Alegre (RS).

Em entrevista concedida ao UOL Business, Valmir Fernandes, presidente da Cinemark no Brasil, deixa claro que não basta investir em conforto e tecnologia. "Em lugar nenhum do mundo, você vai ver o exibidor conseguir sobreviver só com o resultado da exibição", afirma. Fernandes também fala sobre a retomada de expansão da rede no país. Belo Horizonte e Curitiba estão entre as cidades que farão parte do circuito até o final de 2004.

 
Foto: Ivan Luis Gomes
Foto: Ivan Luis Gomes
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UOL Business - A Cinemark cresceu rapidamente no Brasil, passando de 30 salas de cinema em 1997 para 264 em 2002. Quantas salas a rede possui atualmente?
Valmir Fernandes - De 2002 para cá não abrimos nenhuma, ou seja, continuamos com as mesmas 264 salas, em 17 cidades. Devemos fechar o ano de 2003 com algo em torno de 280 salas. Até o final de 2004, serão 306 salas de cinema no país.

UOL Business - Mas alguns investimentos - como os realizados em Canoas (RS) e Aracaju (SE) - não atingiram as expectativas da Cinemark... Vocês chegaram a fechar essas salas?
Fernandes - Não. Na realidade, essa é uma particularidade do nosso negócio: não podemos simplesmente sair dos lugares assim, na primeira dificuldade. São contratos de 10 anos, renováveis por mais 10 anos. Assim, continuamos operando tanto em Aracaju quanto em Canoas. No caso de Canoas, fomos forçados a fazer uma adequação no número de salas. Inicialmente eram 11 salas, hoje são 8. Praia Grande, no litoral sul de São Paulo, também foi uma cidade em que entramos, mas que não correspondeu às nossas expectativas.

UOL Business - Esses exemplos fizeram com que a Cinemark desacelerasse o processo de expansão da rede?
Fernandes - Não. Eles fazem parte do aprendizado de que alguns mercados são factíveis, são viáveis no Brasil, e outros não. Constatamos que, hoje em dia, cidades com menor poder aquisitivo e com uma determinada faixa de população não são viáveis. Não conseguimos entrar em cidades com menos de 500 mil habitantes. E se a cidade tiver um poder aquisitivo baixo, dificilmente o investimento retornará no prazo que gostaríamos. Esses exemplos não causaram impacto na nossa taxa de crescimento, mas fizeram com que ficássemos mais seletivos.

UOL Business - O Brasil é um mercado promissor, mas o cinema ainda está longe de ser uma diversão acessível para boa parte dos brasileiros. Como a Cinemark lida com essa dualidade?
Fernandes - Fica claro, para nós, que o Brasil tem um potencial enorme para a exibição cinematográfica. O problema, hoje, é como conseguir atingir esse público que tem renda mais baixa e tem intenção de ir ao cinema, mas não consegue. Essa é uma equação que ainda não tem solução. Nas cidades, digamos, mais problemáticas, fazemos promoções pontuais, procurando criar o hábito nesse consumidor para fazer com que ele se sinta mais inclinado a investir o pouco que tem em cinema. Por outro lado, o país ainda oferece áreas com poder aquisitivo e população suficiente para que a Cinemark continue crescendo, como Belo Horizonte, onde vamos entrar em abril de 2004, e Curitiba, este ano ainda. São essas cidades de bom poder aquisitivo, mas ainda mal atendidas no que diz respeito ao que há de mais moderno em exibição, que darão fôlego à Cinemark, para ela possa crescer por mais alguns anos e encontrar uma solução para atingir esse outro público.

UOL Business - Qual a média de freqüência das salas da rede Cinemark?
Fernandes - Falando em taxa de ocupação, se você comparar a Cinemark a um avião, posso dizer que voamos com 25% dos assentos ocupados. É a melhor taxa do Brasil. Nos Estados Unidos, a taxa é menor, porque existe um número maior de salas. Deve ser algo em torno de 18%.

UOL Business - Então a Cinemark não se preocupa com esses 25%?
Fernandes - Não, essa taxa de ocupação é muita boa para o mercado. É óbvio que trabalhamos e temos espaço para crescer essa ocupação, especialmente durante os dias da semana.

UOL Business - Como é feita a definição dos filmes e a permanência deles em cartaz?
Fernandes - A escolha dos filmes é um pouco limitada, já que não temos definição sobre quais filmes serão lançados, nem em qual momento. Isso fica a cargo dos distribuidores. Normalmente eles nos oferecem algo entre 2 a 6 títulos por semana. Na média, existem 3 títulos novos por semana. O que fazemos é destinar mais salas para um ou outro, dependendo do desempenho dos outros mercados. Também não programamos o tempo de permanência do filme, só definimos a entrada. Quem define o tempo é o público, porque as salas têm uma determinada média de freqüência. Se o filme ficar acima de sua freqüência média, ele continua. Caso contrário, ele sai de cartaz.

UOL Business - Como a Cinemark se posiciona hoje em termos de tecnologia de projeção?
Fernandes - Utilizamos o que existe de mais atual no mundo, com exceção da tecnologia digital. Ainda não estamos apostando na tecnologia digital porque o mercado ainda não tem condições de suprir os exibidores com cópias dos filmes em formato digital. Além disso, é preciso decidir quem bancará esse investimento, já que não há grandes benefícios para o exibidor, nem para o espectador. Se você passar uma projeção digital e uma projeção em 35 milímetros perfeita, uma ao lado da outra, possivelmente você não conseguirá diferenciar uma da outra. Por enquanto, é perfumaria... Hoje, nos EUA, devem existir 20 projetores digitais num parque instalado de 35 mil projetores. No Brasil existem 3, para um parque de 1,6 mil projetores.

UOL Business - Qual o foco dos investimentos da Cinemark em 2003?
Fernandes - Tentaremos obter um nível de público equivalente ao do ano passado, que foi muito bom. Fizemos 24 milhões de espectadores num mercado de 92 milhões. O problema é que achamos que o mercado corre o risco de não conseguir repetir esse feito.

UOL Business - Por quê?
Fernandes - Porque o ano passado teve o "Homem-Aranha", que sozinho fez 9 milhões. Como achamos que não terá um filme desse calibre este ano, podemos ter dificuldade em atingir os 92 milhões. E para nós seria muito ruim cair desse patamar. Por outro lado, acreditamos que os filmes brasileiros, por estarem mais comerciais este ano, ajudarão a atingir nossa meta. Também estamos tentando compensar uma eventual perda do mercado por meio de várias ações promocionais, como o Projeto Escola [programa que oferece sessões especiais, com preço reduzido, para alunos dos ensinos Fundamental e Médio], e várias ações com parceiros. Algumas empresas, como a Speedo e a Visa, têm mostrado interesse em associar sua imagem ao cinema. Outras têm investido na embalagem da pipoca, por exemplo.

UOL Business - Quanto representa a parte de alimentação no faturamento total da Cinemark?
Fernandes - Algo entre 20% a 25%. Para que a Cinemark ofereça salas de qualidade, é preciso fazer um trabalho muito forte na área de alimentação. O cinema em si, só a atividade de exibição, não retorna o capital investido. Por isso os investidores locais estavam indo para o buraco. Eles não só achavam que poderiam sobreviver naquele sistema antigo, de uma ou duas salas por local, como também acreditavam que poderiam abrir mão de vender outros itens. Em lugar nenhum do mundo, você vai ver o exibidor conseguir sobreviver só com o resultado da exibição.

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