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  Entrevista


Timothy Altaffer
"Não vendemos produtos,
e sim imagens"
Quem foi que disse que Martini é bebida de mulher? Homens também bebem Martini. Mas também consomem cervejas, vinhos e vodcas.
Foi exatamente pensando no potencial desse mercado que a Bacardi-Martini - empresa que atua há 50 anos no Brasil - decidiu revitalizar sua marca. Para isso, colocou novos produtos nas prateleiras - como vinhos e "ices" - e firmou acordos de distribuição que incrementaram seu portfólio de produtos. Hoje, por exemplo, é a Bacardi-Martini que distribui a cerveja Budweiser e o vinho do porto Offley no país.
Em entrevista concedida ao UOL Business, Timothy Altaffer, presidente da Bacardi-Martini do Brasil, fala sobre a estratégia da empresa para fazer com que seu faturamento cresça 6% em relação ao ano fiscal anterior. O executivo também comenta como a Bacardi-Martini enxerga o consumidor brasileiro. "Na realidade, não vendemos produtos, e sim imagens, diversão, amizades, amores, ocasiões", diz.
 
Foto: Ivan Luis Gomes
Foto: Ivan Luis Gomes
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UOL Business - A Bacardi-Martini tem apostado em novas frentes para atingir um público mais jovem. Essa estratégia já tem surtido efeito?
Timothy Altaffer - Na verdade, criamos um novo espírito dentro da Bacardi-Martini não necessariamente para atingir um público mais jovem, mas sim para dar um ímpeto maior nas nossas marcas tradicionais e explorar novos segmentos de categorias, como vinhos, breezer [soda alcoólica] etc. Fizemos uma reformulação total na empresa, que incluiu mudanças na política comercial e no sistema de distribuição, investimentos, novos lançamentos, e já alcançamos resultados bastante favoráveis. No último ano fiscal, que se encerrou em março de 2002, crescemos 17% em volume de vendas, em caixas físicas, em comparação com o ano anterior. Em faturamento, a Bacardi-Martini cresceu 6%.

UOL Business - No ano passado, a Bacardi-Martini retornou à mídia com três filmes estrelados por homens. A campanha tinha como intenção desmistificar a imagem de que Martini é bebida de mulher?
Parcialmente. Você tem razão no sentido de que a imagem de Martini é mais relacionada às mulheres. Mas não é isso que acontece na realidade. Dados de pesquisa mostram que Martini é consumido igualmente por homens e mulheres. Portanto, homem também gosta de Martini. Só que depende da ocasião de consumo. Um homem consome bastante Martini quando está saindo com uma mulher, para acompanhar etc., mas talvez sozinho ele não peça Martini pensando justamente na conclusão que você chegou, que é uma bebida de mulher.

UOL Business - Nesse processo de revitalização da marca, vocês também lançaram produtos e buscaram o reposicionamento de outros. Quais os mais bem-sucedidos?
Altaffer - Ainda não dá para afirmar categoricamente que está tudo dando certo, mas os indícios são ótimos. Podemos citar o Bacardi Breezer e o Martini Fiero.

UOL Business - Os acordos de distribuição também fazem parte dessa estratégia de reposicionamento?
Altaffer - Sim, dentro da nossa indústria, entendemos que precisamos oferecer uma maior variedade de produtos para o cliente. Temos de ser um "one-stop shop" para o nosso cliente. Geralmente esse cliente é um ponto de dose [locais em que o produto é revendido ao consumidor em doses ou drinques, como em bares e restaurantes]. Procuramos sempre agregar ao nosso portfólio marcas que agreguem valor, para aumentar as opções para nossos clientes. Daí os acordos com a cerveja Budweiser e, mais recentemente, com o licor Disaronno Originale.

UOL Business - O acordo com a Budweiser foi firmado no final de 2001 e, na época, falou-se na meta de vender 100 mil caixas em 2002? Essa meta foi alcançada?
Altaffer - Não, não conseguimos alcançar essa meta, por conta da desvalorização do real, porque o produto é importado. Nossa premissa de preço final ao consumidor era X e acabou sendo 4X. Em um ambiente com uma oferta de cervejas de alta qualidade a um preço muito baixo, é difícil vender uma marca importada. Mesmo assim, vamos conseguimos vender 60 mil caixas em 2002 - volume que deve ser mantido este ano.

UOL Business - Com relação ao Disaronno, já dá para avaliar a aceitação do licor no mercado brasileiro?
Altaffer - Em termos quantitativos, ainda não, porque o lançamento é relativamente recente. Mas no aspecto qualitativo podemos dizer que o produto - já conhecido pelos barmans - tem sido extremamente bem-recebido.

UOL Business - Mesmo com a alta do dólar? Porque ele é importado...
Altaffer - É importado e é caro. Mesmo assim nossa aposta é alta. Nosso objetivo com o Disaronno não é lucro, mas sim oferecer mais um produto para o nosso cliente. Isso porque o giro, o volume de vendas de um licor, é baixo. Licor não é como uma cerveja, um uísque, um destilado.

UOL Business - A Bacardi-Martini pensa em lançar bebidas sem álcool?
Altaffer - Não, não faz parte de nossa missão. Em contrapartida, temos no mundo Bacardi muitos produtos que não estão no Brasil e que pensamos em trazê-los para cá. Desde que se encaixem dentro do conceito, do perfil do consumidor brasileiro, é claro. Um exemplo disso é o Martini Fiero. Ele só existe em dois outros países: Bélgica e Holanda. Bacardi Breezer é outro bom exemplo. Ele inovou e criou essa categoria. Hoje é líder absoluto de vendas na Inglaterra, tem crescido muito nos Estados Unidos e tem tido uma ótima aceitação no Brasil.

UOL Business - Qual é a bebida campeã de vendas na Bacardi-Martini?
Altaffer - Mundialmente falando, é o rum Bacardi. Aliás, Bacardi é a marca de destilado premium que mais vende no mundo. Aqui no Brasil, Bacardi tem uma participação de 27% [nas vendas da empresa no Brasil]; Martini, 28%; vinhos, também. Na verdade, os três se equilibram.

UOL Business - Como a Bacardi-Martini define o consumidor brasileiro?
Altaffer - É um consumidor que começa a envelhecer um pouco. O Brasil sempre foi um país jovem e continua jovem, mas já se vê um crescimento dos segmentos um pouco mais adultos. Esse amadurecimento da população é altamente positivo para a nossa indústria, já que nosso consumidor tem mais de 18 anos. O consumidor brasileiro também é um consumidor com um conflito de interesses e realidades. Hoje ele não tem dinheiro para adquirir um produto de valor agregado, o que acaba se constituindo em uma oportunidade para produtos mais baratos. Isso explica um pouco do sucesso das nossas vodcas, que estão crescendo absurdamente. Na realidade, não vendemos produtos, e sim imagens, diversão, amizades, amores, ocasiões. E o consumidor brasileiro tem todo direito de ter as mesmas aspirações que qualquer consumidor do mundo. Essa foi uma das razões para a Bacardi-Martini inovar, trazer marcas que estão lá fora, trazer esses sonhos para o consumidor brasileiro.

UOL Business - E o que tem crescido mais nos últimos anos, na preferência do consumidor brasileiro?
Altaffer - Os vinhos têm crescido bastante. É uma categoria que tem muito potencial e muito para crescer ainda. E na qual a Bacardi tem investido bastante.

UOL Business - Qual a estratégia da Bacardi para esse segmento?
Altaffer - Acabamos de reposicionar o Baron de Lantier, considerado hoje a marca de melhor qualidade no Brasil por enólogos e sommeliers conhecidos no mercado. Também lançamos o Grand Milésime, um vinho interessantíssimo. A cada oito anos existe uma safra espetacular. A última foi a de 1999. O sucesso foi tão grande que tivemos de controlar as vendas, estabelecendo cotas de 800 caixas mensais. O Grand Milésime é uma das provas de que o Brasil tem, sim, bons vinhos. A Bacardi-Martini também possui parcerias na área de vinhos. Elas se manifestam pela importação e distribuição de vinhos como o Offley, uma das marcas mais bem conceituadas em vinho do porto do mundo.

UOL Business - Como a multinacional enxerga o Brasil? Quais as vantagens e desvantagens de manter uma unidade no país?
Altaffer - O Brasil é um país muito importante para o grupo. Foi um dos primeiros países onde a Bacardi-Martini investiu quando saiu de Cuba. Além disso, basta olhar para o potencial do mercado, uma população de 170 milhões. Se você for um player global - como é o caso da Bacardi-Martini - tem de ter presença aqui. Claro que o país apresenta vários desafios. Por exemplo, somos a quarta ou quinta maior filial do grupo no mundo em termos de volume. Agora, quando se fala em faturamento, em dólar, o cenário é outro.

UOL Business - Quais as metas da Bacardi-Martini para 2003?
Altaffer - Temos uma meta de crescimento de faturamento de 6%, ou seja, repetir o que fizemos no ano fiscal de 2002, o que está sendo um desafio. Mas acho que vamos chegar lá.