Índice


A aventura de atravessar ruas

Norma Albano/ Folha Imagem
Marcus Vinícius, Angélica, Rosária e Rafael correm para atravessar a av. Rio Branco


MIRNA FEITOZA
da Redação

Você já experimentou atravessar algum cruzamento de ruas sozinho, mesmo estando na faixa e respeitando a sinalização do pedestre?
Se a resposta for sim, e você conseguiu se sair dessa sem ao menos ter de apressar o passo ou correr para não ser pego pelos carros, parabéns! Você é uma pessoa de sorte.
Mas se a resposta for não, nem pense em passar por essa sozinho. O risco é muito alto.
Para ter idéia do perigo, a Folhinha esteve em alguns dos cruzamentos mais movimentados de São Paulo. Verificou que o tempo de verde para o pedestre muitas vezes não é suficiente nem para um adulto fazer a travessia sem precisar correr, quanto mais para uma criança.
A reportagem escolheu os cruzamentos ao acaso e verificou quanto tempo o semáforo fica aberto para o pedestre (boneco verde) e quanto tempo o pedestre precisa esperar para atravessar (boneco vermelho), sem considerar o tempo em que o boneco fica vermelho piscante.


Pisca-pisca, corre-corre

da Redação

Dos cruzamentos verificados pela reportagem, o das avenidas Duque de Caxias e Rio Branco é o mais perigoso.
Quem atravessa no sentido Arouche - Júlio Prestes tem apenas dez segundos para chegar ao meio-fio.
Sem correr, contamos 21 passos de adulto para atravessar. Mas, quando se está no 16º passo, começa a piscar o boneco vermelho.
Se você perde o sinal verde, vai ter de esperar um minuto e 50 segundos. Pode não parecer nada. ``Mas imagine ficar esse tempo na calçada enquanto os carros quase sobem em você'', diz Maria Rita dos Santos, 36, que passa pelo cruzamento diariamente.
Se você quer encurtar a espera, não adianta apertar o botão que aciona o sinal verde. Ele está travado.


Botão só serve à noite

O botão que aciona o sinal verde para o pedestre, em alguns casos, não precisa ser apertado.
Na rua da Consolação com rua Caio Prado, tanto faz apertar o botão ou esperar o sinal abrir. O tempo é igual: um minuto e 30 segundos.
Na av. Santos Dumont, perto do metrô Armênia, muda apenas o tempo de espera: um minuto e 50 segundos.
A explicação da CET é que, em alguns lugares, o botão só funciona depois das 20h. (MF)



Só 5 segundos de sinal verde

da Redação

A Folhinha constatou que o pedestre só tem cinco segundos de sinal verde para atravessar a faixa da avenida dos Bandeirantes, 5599 (sentido marginal do rio Pinheiros).
Um adulto faria a travessia em 17 passos normais. Só que, ao dar o 9º passo, aparece o boneco vermelho piscando e é preciso se apressar.
Nesse trecho da Bandeirantes, das 18h às 18h30, o sinal só abriu quando foi acionado o botão para travessia, que não é sinalizado.


Tempo varia com tráfego

Segundo a CET, cinco segundos é o tempo mínimo de sinal verde para o pedestre nesse trecho da Bandeirantes. Nove é o máximo.
Mas, pelas contas deles, o pedestre acaba tendo entre 10 e 14 segundos para atravessar a avenida. ``Contamos também com o tempo de vermelho piscante'', informa Maria Aparecida Barbosa, 33, especialista de tráfego da CET.
Nesse caso, o pedestre ainda teria mais cinco segundos.
A variação de 10 e 14 segundos ocorre de acordo com a quantidade de carros na área. É que esse semáforo já funciona no sistema de semáforos inteligentes. (MF)


Sinalização é ignorada da Redação

``O tempo é pouco. Um velhinho não consegue atravessar''. Foi o que disse Rafael Valadares, 9, depois de atravessar o cruzamento campeão de atropelamentos em São Paulo, o das avenidas Duque de Caxias e Rio Branco.
Ele estava acompanhado de Rosária Gomes, 35, mãe de Marcus Vinícius, 11, e de Angélica Ferreira, 9.
Os quatro foram até o cruzamento a convite da reportagem e sentiram na pele que uma criança jamais deve se aventurar a atravessar sozinha qualquer cruzamento.
Marcus Vinícius observou que muitos pedestres não respeitam a sinalização. ``É por isso que acontecem muitos acidentes'', disse.



Cidade foi feita para os carros

da Redação

Quase 60 por cento das pessoas que morrem no trânsito de São Paulo são pedestres.
É isso que informa o último levantamento da CET, de 1995 (os casos de 1996 ainda não foram contados).
Segundo o levantamento, das 2.245 pessoas que morreram em acidentes de trânsito, 1.339 foram atropeladas ao tentar atravessar uma rua.
Ou seja, você corre muito mais riscos como pedestre do que como motorista.
Isso fez com que a área de segurança no trânsito da CET tentasse resolver o problema dos atropelamentos.
É o que garante Luiz Montans, 50, chefe da área de segurança. ``A cidade oferece poucas facilidades para o pedestre'', admite.
Segundo ele, a preocupação com o pedestre é muito recente, pois a cidade cresceu sem levar em consideração quem anda a pé. ``O espaço é dos carros'', explica. (MF)


Equipe tenta evitar atropelamentos

Uma das tarefas da CET é identificar pontos onde há acidentes com pedestres.
A companhia pesquisa os registros das polícias Civil e Militar para saber onde acontecem os atropelamentos.
Depois vai ao local para estudar as causas de acidentes (tempo curto para travessia, desrespeito à sinalização etc).
Um dos resultados desse trabalho foi a pintura do aviso ``Olhe para os dois lados'' nos cruzamentos perigosos. Outro foi a instalação de máquinas para fotografar carros que desobedecem os sinais.
Se você notar algum desrespeito ao pedestre, ligue 194.

Fale com a Folhinha: folhinha@uol.com.br