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A bagunça nossa de todo dia
Fabrizio Rigout/Folha Imagem
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Paulo Gonçalves e Gustavo Ferreira lancham no ônibus escolar
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FABRIZIO RIGOUT
da Redação
Seis e dez da manhã, lá vem
o ônibus escolar de Joaquim
Gonçalves. O rádio, bem alto,
toca rocks do tempo dele.
Elise atravessa a rua sozinha
(ela já é grande) e cumprimenta o motorista.
Isso não é comum. ``Eles
chegam com muito sono, já
me acostumei a não ouvir
bom-dia'', diz Joaquim.
A monitora Cilene fala em
nome dos garotos:``Ô Joaquim, muda de estação...''
Às seis e meia já tem gente
comendo lanche. Paulo Garcia Neto, 7, provoca:``aqueles dois sempre fazem piquenique juntos, parecem namorados''. Recebe os primeiros
beliscões do dia.
No ônibus dos alunos do
colégio Magno, namoro é
quase um palavrão. Todos
acusam, ninguém assume.
``Odeio criança'' -dizem
os mais velhos. Paulo nem liga.
Para Roberto Akimoto,
motorista de alunos do Logos, ``os mais velhos são um
pouco malcriados; alguns
acham que sabem tudo''.
Do banco de trás de seu ônibus se ouve esta conversa:
- Palmeirense chato, porco, que come caca de nariz!
- E você, que joga papelzinho nas pessoas na rua?
São os meninos brincando.
Tênis vira caso de polícia
Aconteceu a caminho
do Augusto Laranja.
A menina não parava
de bagunçar. Já tinha
tirado o tênis, que voava pelo ônibus.
O motorista se encheu, tomou o tênis e
colocou no teto do ônibus, do lado de fora.
Naquele instante passou um carro de polícia. ``Seu guarda, ele
pegou meu tênis'', gritou a menina. O guarda
mandou parar.
O motorista então
pediu desculpas e devolveu o sapatinho.
Camiseta para fora da janela
Uma vez acharam
uma camisa molhada
na perua que leva os
alunos do Logos. João
não gostou muito do
cheiro, meio estranho.
``O João jogou a camisa fedida pela janela
pensando que era xixi'', contam Rafael
Frydman e Raul de
Paula.
Depois descobriram
que a camisa era de
uma menina da perua.
A menina ficou morta
de vergonha. ``A gente
perguntou e ela disse
que não era dela. Todo
mundo sabia que era.''
Fabrizio Rigout/Folha Imagem
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Marcos Barbieri, do colégio Magno, encena seu "homem-pássaro" no ônibus
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Aluno voa pelo ônibus
O homem-pássaro
costuma aparecer
quando o motorista
não está vendo.
Sai do último banco e
dá um salto -``isso
não pode, Marcos'',
avisa a monitora. Não
adianta. O pássaro
agarra-se na saída de
emergência e decola. A
platéia espera atenta.
Deu certo. Ele foi e
voltou sem cair. Agora
todos riem (baixinho, é
claro).
``É para quem sabe'',
conta Marcos Barbieri,
inventor do herói.
Amizades para a vida inteira
da Redação
Cada criança gasta pelo menos uma hora para ir e voltar
da escola. Ana Carolina Monteiro, 9, cresceu dentro do
ônibus. ``Estou aqui desde
quando tinha um ano.''
No Augusto Laranja, sexta-feira é dia de estudar juntos. Lívia Bruni vai passar o
fim-de-semana com cinco
amigos do ônibus. ``Todo
mundo aqui se gosta'', diz.
``A Camilinha a gente conheceu quando o tio ia buscar
a irmã dela e ela ainda estava
na barriga da mãe.''
Língua do G. Língua do P.
Mariana Ferreira e Elise Madella trocam segredos em código para ninguém entender.
``É difícil nos separarmos
do nosso mundinho'', dizem.
Fazer cócegas, repartir o
lanche, brincar de bater, também são formas de mostrar
carinho pelos colegas.
Otávio Dias de Oliveira/Folha Imagem
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Caroline (esq) e Manuela, alunas do Augusto Laranja, mostram foto de garoto que paqueram
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Perua também é vitrine
``Ele é a coisa mais linda.''
Manuela Cavalcanti e Caroline Carvalho, do colégio Augusto Laranja, estão apaixonadas por um garoto que
vêem no caminho da escola.
Semana passada elas tomaram coragem. Puxaram o
menino para dentro da perua
e tiraram sua foto. ``Vou
mostrar para ele quando for
ao shopping'', diz Manuela.
``Manuela é páti (patricinha). Toda páti é fresca e usa
roupa da Pólo'', condena Isabela Espíndola.
Bruna Fiori defende a amiga: ``Pólo já era, sabia?''.
"Tios" campeões de paciência
Quando tudo está em paz,
os motoristas saem da rotina
para fazer programas com a
garotada. Param para comprar lanche na padaria, deixam as crianças irem no banco da frente e até combinam
atividades de fim-de-semana,
como corridas de kart.
Francisco Vasconcelos levou três alunos para competir de kart e ultrapassou todo
mundo.
Ganhou a corrida, mas teve
de se explicar aos pais. ``Fiquei com fama de
pé-de-chumbo'', explica.
Jogo sujo no transporte
Algumas peruas circulam
sem condições de segurança e
podem colocar em risco os
passageiros.
Segundo a lei, ninguém pode sobrar em pé no ônibus escolar. Espremer cinco crianças num banco onde só cabem três também é ilegal.
Toda perua vistoriada tem
um selinho da prefeitura no
pára-brisa, indicando que está autorizada a operar.
(FR)
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