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Pais sem trabalho, família sem dinheiro
Moacyr Lopes Jr/Folha Imagem
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Olga Araújo com a mãe Lúcia, na casa do tio, em Poá (SP)
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FABRIZIO RIGOUT
da Redação
Anne Camila Araújo fez 8
anos no dia 14 e pela primeira
vez não ganhou presente.
A irmã dela, Olga, vive chorando porque quer material
escolar mais bonito. A mãe já
disse que o dinheiro não dá.
Antigamente, as meninas
ganhavam quase tudo o que
pediam. Agora não. Seus pais
perderam o emprego.
A fábrica onde os pais, Gilvan e Lúcia Araújo, trabalhavam, no Estado de Alagoas,
foi vendida. O novo dono
mandou muita gente embora, porque precisava diminuir os custos.
Os custos são o dinheiro
que a empresa gasta com salários e materiais. Se ela gasta
muito, tem de aumentar o
preço dos produtos que vende, para não ter prejuízo.
Mas, se os produtos forem
caros, ninguém vai querer
comprar. Então a empresa reduz os custos para poder vender mais barato. Uma forma
de fazer isso é diminuir o número de empregados.
Existem outras causas de
desemprego, como fábricas
que fecham e profissões que
desaparecem.
No Brasil, para cada 100
adultos que trabalham, há
outros 5 adultos procurando
emprego.
Uma hora acaba
da Redação
O Eduardo sempre teve
uma vida confortável. Casa
na praia, roupas novas, bicicleta. Para ele, desemprego
era ``quando as pessoas vão
mudar de chefe e deixam de
trabalhar''. Um dia, Osvaldo,
seu pai, chegou em casa dizendo que tinha saído da firma e que ia procurar outro
emprego. Isso foi há quatro
meses e até agora ele não encontrou um novo chefe.
Osvaldo calculou que dá
para manter o padrão de vida
por mais seis meses. É que ele
tinha guardado parte do salário para situações como essa.
Eduardo gosta da companhia do pai, que agora tem
tempo para consertar sua bicicleta. Mas já avisou que vai
reclamar se não puder ir mais
ao Pizza Hut no domingo.
Demissão não é o fim do mundo
Quando alguém é demitido,
recebe um pagamento chamado indenização. Esse dinheiro ajuda até a pessoa
achar outro trabalho. Em alguns casos, ela também pode
usar o fundo de garantia
-poupança que aumenta
com o tempo de serviço.
Um emprego chamado ``bico''
Os vendedores da rua não
recebem salário. O que eles
ganham depende de quanto
vendem. Suas bancas são empresas de um empregado só.
``Bicos'' -vender e consertar coisas, dar aulas- são
modos de se sustentar enquanto o emprego não vem.
Doente é reprovado
Salvador Pereira mandou a
filha de 7 anos morar com a
avó, porque não tinha comida para todo mundo. A fábrica em que trabalhava fechou.
A situação complicou-se
quando ele ficou doente.
``Não adianta, assim eu não
vou conseguir emprego'', reclama. Ele tem sido reprovado nos exames médicos das
empresas que procurou.
(FR)
Eles estudam para trabalhar
da Redação
Na prateleira do supermercado a gente encontra cada
vez mais marcas de macarrão, de pasta de dente e de
muitas outras coisas. Isso é
bom para quem compra,
porque pode escolher a marca mais barata ou melhor.
As empresas que fazem macarrão ou pasta de dente reduziram seus custos para
competir com as outras. Fazem o máximo de coisas com
o mínimo de funcionários.
Muitas vezes, um funcionário tem de trabalhar por dois.
Isso quer dizer que ele precisa
saber mais de uma tarefa.
Tem de resolver mais problemas; tem de aprender coisas
novas.
Com medo de perder o emprego, as pessoas estão voltando à escola e fazendo cursos de aperfeiçoamento.
Quanta responsabilidade!
Escolas formam profissionais
Há escolas que ensinam
profissões. Além das matérias
normais, oferecem aulas de
mecânica, eletricidade, comércio etc. Quem estuda nesses lugares, chamados ``escolas técnicas'', já sai com uma
profissão. Lá também se pode
fazer cursos de aperfeiçoamento no trabalho.
Nos cursos da Escola Técnica Estadual de São Paulo matricularam-se 1.758 pessoas
em 1996. Elas aprenderam
desde técnicas de vendas até
computação. ``Eu nem sabia
mexer em computador'', diz
Marcelo Mekaru, 18, que fez
quatro cursos de informática
e conseguiu emprego.
O pai está na 8ª série
Paulo Giandalia/Folha Imagem
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Bruna e Cleudomar, no sofá da sala
|
da Redação
Cleudomar Menezes trabalhava na Ford do Brasil como
operário e quis melhorar de
profissão. Mas ele só tinha estudado até a 2¦ série.
Aí a Ford abriu uma escola
dentro da fábrica, para os
funcionários estudarem depois do trabalho. Cleudomar
se matriculou na primeira
turma.
Hoje ele está na 8¦ série e
graças a seu estudo conseguiu
uma vaga de almoxarife, um
trabalho que usa muita matemática.
``Espera um pouco, pai,
deixa eu chegar à mesma série
que você'', pedia Bruna, filha
de Cleudomar, quando ele
entrou na escola.
Bruna tem 12 anos e ajuda o
pai na lição de casa. Segundo
ela, o forte de Cleudomar é
mesmo a matemática:``Às
vezes ele faz lição de português e não presta atenção ao
que está escrevendo. Aí eu tenho que corrigir, né?''.
Bruna insiste que está prevenida contra o desemprego.
Tirou dois diplomas de modelo e vai começar a fazer teatro. ``Para ter um emprego
garantido, vou precisar saber
inglês também. Hoje, tudo o
que a gente compra está escrito em inglês...'', diz.
(FR)
Para saber mais sobre desemprego leia o ótimo gibi ``O Fantasma do Desemprego'', de
Wagner Andrade. Na livraria Diamante (tel.
011/873-1105).
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