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Escolas deveriam se adaptar

João Wainer/Folha Imagem
Depois de treinar os movimentos na cadeira de rodas, Oscar se prepara para fazer a cesta


EDILAMAR GALVÃO
free-lance para a Folhinha

Você já deve ter visto as propagandas do Ministério da Educação com Daniela Mercury e Didi, dos Trapalhões, falando que seria bom todo mundo aceitar as crianças portadoras de deficiência nas escolas.
O problema é que as escolas precisam de uma adaptação para atendê-las, e a maioria das escolas brasileiras não tem. É só lembrar sua escola.
Ela, provavelmente, tem um monte de escadas, mas não deve ter rampas. Rampas ou elevadores são importantes para quem tem deficiência.
Muita gente não sabe que há leis para defender os direitos das pessoas portadoras de deficiência. Não sabe, também, que essas pessoas pintam o sete: fazem esporte, estudam e brincam -como você.

Oscar vai jogar na cadeira de rodas
Não, não aconteceu nenhum acidente com o ídolo do basquete brasileiro.
É que, este ano, além de jogador, ele é secretário de Esportes do Município de São Paulo. E, no seu novo trabalho, o secretário resolveu criar a ``Primeira Paraolimpíada de São Paulo''.
É uma olimpíada para atletas portadores de deficiência, que vai acontecer em setembro. A abertura vai ser um jogo entre uma equipe de basquete em cadeiras de rodas e uma equipe que, segundo Oscar, vai ter os melhores jogadores da seleção brasileira de basquete. Todos vão jogar em cadeiras de rodas.
Oscar diz que não quer perder a oportunidade de brilhar nas quadras. ``Vou montar minha equipe, ser o capitão do time e ainda quero ser o cestinha do jogo''.
Mas completa: ``O resultado vai ser inevitável, nós vamos perder. Você pensa que é fácil mudar de direção, rodar pra lá e pra cá e ainda arremessar de uma posição diferente da que você está acostumado?''


Ponha a boca no trombone

Existem muitas leis para defender os direitos da pessoa portadora de deficiência. A mais importante é uma lei federal (do Brasil todo) e ela tem um número: 7.853/89.
Essa lei diz que o governo tem de tratar a pessoa portadora de deficiência com prioridade.
O que significa, por exemplo, que ela precisa ter acesso especial aos transportes, como metrôs e ônibus e, ainda, a cinemas, teatros, escolas.
Acesso especial significa que esses lugares tenham, por exemplo, rampas ou elevadores e banheiros com portas mais largas para as pessoas que usam cadeiras de rodas.
A lei diz que é crime qualquer escola recusar matrícula por causa da deficiência.
Não adianta dizer que a escola tem escadas e não é adaptada. O problema é da escola, não do portador de deficiência. A pena para esses crimes é de um a quatro anos de cadeia, além de ter de pagar multa.
Se uma escola recusou sua matrícula só porque você tem uma deficiência, você pode procurar uma associação de defesa desses direitos ou um promotor público (fiscal da lei) no Fórum de sua cidade.
A associação ou o promotor pede para o juiz mandar a escola aceitar e reformar o prédio. Dá para processar parque, cinema, teatro. E todo mundo pode reclamar.


Fonte: Caio Leonardo Bessa Rodrigues, 33, relator da Comissão de Justiça e Cidadania do Conselho Estadual para Assuntos da Pessoa Portadora de Deficiência.


Tati e Jean esperam ir bem na escola comum

José Nascimento/Folha Imagem
Tatiana Pinheiro Franco, 11, em atividade na escola da AACD


free-lance para a Folhinha

Tatianna Pinheiro Franco, 11, e Jean Paschoalini, 12, estão na 4¦ série da escola da AACD (Associação de Assistência à Criança Defeituosa).
No ano que vem eles vão para uma escola comum, porque a AACD só tem até a 4¦ série do primeiro grau.
Tatianna sabe que existe muito preconceito contra crianças com deficiências. Mas acha que ``a gente não deve temer enfrentar a vida de cabeça erguida''.
Tatianna diz que vai sentir saudades da AACD, mas quer ir para outra escola: ``porque não tenho vergonha de explicar às outras crianças que sou deficiente, e eu sei que posso fazer muitas coisas legais''.
Jean ainda se lembra de sua última escola, onde não era bem tratado pela professora.
Mas tem esperanças de que a história seja diferente. ``Às vezes fico pensando no que vai acontecer, mas acho que vou conseguir mostrar quem eu sou, e eles não vão ter preconceito comigo. Agora eles estão reconhecendo que a gente é cidadã''. (EG)


O que faz a AACD

Leonardo Colosso/Folha Imagem
Evilásio Luis Cândido, 20, faz movimentos com a cabeça para pintar. Ele usa um adaptador para prender o pincel


A AACD é hospital, centro de reabilitação e escola. Só paga quem pode. Hoje, 80% (por cento) das pessoas são atendidas de graça. O objetivo da AACD é atender as crianças com deficiências físicas, principalmente os casos mais graves. A AACD existe há 48 anos e já atendeu mais de 40 mil portadores de deficiências e alfabetizou mais de 3.000 crianças.
A AACD vende cartões, aparelhos ortopédicos e recebe doações (0900/100505, para doar R$ 5,00; 0900/100510, R$ 10,00; 0900/100525, R$ 25,00).

Tratamento que virou profissão
Evilásio tem paralisia cerebral, pouca coordenação motora e fala com dificuldade. Todos esses limites não o impediram de fazer o que mais gosta: pintar.
Evi é o seu nome artístico. Ele já participou de várias exposições e vendeu todos os seus quadros.
Evi gosta de pintar paisagens e desenhos abstratos (sem forma definida). Cada quadro seu custa R$ 35,00.
Evilásio também faz cartões de Natal e está aprendendo a escrever no computador.
Ele usa o mesmo adaptador da pintura para digitar e sonha escrever um livro. ``Eu quero dar uma lição de vida.''

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