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Hércules mamou com força e criou a Via Láctea

ARTHUR NESTROVSKI
especial para a Folhinha

Hércules era filho de Zeus -o rei dos deuses gregos- e Alcmena, filha de um rei mortal. Era mais do que um homem, portanto, mas menos do que um deus: era um semideus.
Depois que ele nasceu, Zeus deu um jeito de ele mamar na sua esposa, a deusa Hera, para que Hércules se tornasse imortal.
Criação da Via Láctea
O bebê mamou com tanta força que Hera o tirou do peito com um grito, e um pouco de leite espirrou.
Assim se formou a Via Láctea, a "estrada do leite", que a gente pode ver até hoje, quando o céu está bem limpo.
Hera tinha muito ciúme de Alcmena e também aprontava com Zeus.
Ela conseguiu transformar seu menino humano predileto, Euristeu, em rei, e obrigou Hércules a se submeter a Euristeu, se quisesse garantir a imortalidade.
Foi por conta disso que Hércules teve, então, de realizar os 12 trabalhos, ordenados pelo rei.
A casa dos deuses
Se Hércules vive mesmo para sempre no Olimpo, com os outros deuses, ninguém pode saber.
Na sua longa vida, ele teve muitas aventuras, ganhou muitas batalhas, perdeu outras, foi vendido como escravo, casou várias vezes, acabou morrendo por vingança da mulher enciumada.
O que a gente sabe é que os 12 trabalhos de Hércules fazem parte, para sempre, da literatura, da pintura, do cinema.
Na memória da gente, ao menos, ele é imortal.



Leão é esfolado

O primeiro trabalho de Hércules foi matar e esfolar o Leão de Neméia, que era um leão gigante, com a pele mais dura do que ferro.
Hércules tentou de tudo: atirou flechas, atacou o leão com a espada, bateu na cabeça dele com um pau.
Mas de nada adiantava. Então Hércules se jogou sobre ele e começou a brigar.
O leão arrancou um dos dedos de Hércules, mas ele acabou torcendo a cabeça do bicho.
Quando Hércules chegou de volta ao castelo de Euristeu, carregando o leão nas costas, o rei ficou com tanto medo que mandou construir um esconderijo.
Dali em diante, cada vez que Hércules se aproximava com a prova de mais um trabalho, Euristeu ia se esconder embaixo da terra.
Sabem como Hércules esfolou o leão? Com as próprias garras dele -a única coisa capaz de cortar aquela pele.


Hidra de Lerna era um terror

O segundo trabalho era destruir a Hidra de Lerna, um monstro com corpo de cão e nove cabeças de cobra, uma delas imortal.
Há quem diga que eram muito mais: 50, 100, até 10 mil cabeças. A hidra morava num pântano e aterrorizava os habitantes da cidade grega de Argos. Matava gente só com o bafo.
Hércules foi cortando as cabeças da hidra com a espada. Um amigo dele, Iolau, ajudou, queimando cada pescoço cortado, para que não nascessem mais cabeças.
Finalmente, Hércules decapitou a cabeça imortal e a enterrou embaixo de uma rocha.
Depois disso, ele molhou suas flechas no sangue da Hidra morta. A partir daí, suas flechas também ficaram mortalmente venenosas.


A captura da Cerva

O terceiro trabalho de Hércules era capturar viva a Cerva Cerinita, de pés de bronze e chifres de ouro, que vivia no monte Cerineu. Ela era tão rápida que ninguém conseguia chegar perto.
Hércules perseguiu a cerva durante um ano inteiro. Quando, afinal, exausta, ela se preparava para cruzar um rio, Hércules atirou uma flecha, que atravessou as duas pernas da frente da cerva; e carregou-a assim até Euristeu.


O horrível porcão

O Javali de Erimanto era um animal enorme e horrível -horrível e feroz-, feroz e assassino, que vivia na floresta da Arcádia.
O quarto trabalho de Hércules era capturar vivo esse javali.
Hércules forçou o javali, aos urros, a deixar a toca e correu para um campo de neve.
Quando o javali chegou lá, onde não conseguia se mexer direito, Hércules pulou nas costas dele e prendeu suas quatro patas com correntes. Depois levou o porcão até o rei -que continuava se escondendo sempre que Hércules chegava perto.


Montanhas de cocô!

Augias, rei da Élida, tinha o maior rebanho de gado do mundo. Euristeu ordenou a Hércules que limpasse os estábulos (a casa onde moram os bois e as vacas) de Augias num único dia -montanhas de cocô, que ninguém limpava havia anos.
O fedor era tanto que já estava até causando doença.
Hércules conseguiu limpar tudo sem sujar um dedo: desviou dois rios que passavam ali perto e fez a água correr para dentro dos estábulos.


Pássaros flechados

Às margens do lago Estinfalo, moravam pássaros de uma estranha espécie. Tinham bicos muito pontudos e penas afiadíssimas, que disparavam contra os inimigos como se fossem flechas.
Devoravam todas as frutas do campo e comiam carne humana.
O sexto trabalho de Hércules era acabar com eles.
Ajudado pela deusa Atena, que lhe deu um par de castanholas de bronze, Hércules fez um barulhão, que assustou os pássaros.
Quando eles voaram, Hércules teve chance de flechar um grande número deles.
Os outros fugiram para nunca mais voltar; só foram vistos de novo bem longe dali, numa ilha do mar Negro e no deserto da Arábia. Mas já não eram mais problema de Hércules.


Hera despreza touro

O sétimo trabalho era capturar o Touro de Creta. Era um touro bravíssimo, que soltava fogo pelas narinas.
Hércules não soltava fogo pelo nariz, mas, quando necessário, era mais bravo do que um touro e mais forte também.
Ele carregou o touro a unha até o palácio de Euristeu.
Como era costume naquela época, o touro ia ser morto em homenagem à deusa Hera.
Mas, quando esta percebeu que o presente vinha de Hércules, recusou a oferenda e fez o touro fugir.
Hera era uma fera.


Cavalos carnívoros

Outra fera era Diomedes, rei dos bístones. Ele tinha quatro cavalos terríveis -Podargos, Lampo, Xanto e Deino-, que eram alimentados com a carne dos estrangeiros que se aventuravam por ali.
Para cumprir seu oitavo trabalho, Hércules nocauteou o rei Diomedes com uma paulada, depois de liquidar alguns de seus soldados.
Serviu o rei para os cavalos e, depois que eles já tinham saciado a fome, dominou-os facilmente.


A batalha contra as Amazonas

especial para a Folhinha

O rei Euristeu tinha uma filha que cobiçava o cinto de Hipólita, rainha das Amazonas. Euristeu mandou Hércules buscar o cinto.
As Amazonas eram mulheres guerreiras. Na cidade delas, os homens ficavam em casa e as mulheres iam para o trabalho e para as guerras.
Quando Hércules chegou, Hipólita se apaixonou por ele e estava pronta para lhe dar o cinto.
Mas a deusa Hera -sempre ela!- se disfarçou de Amazona e espalhou o boato de que Hércules queria raptar a rainha Hipólita.
Seguiu-se uma grande batalha. Hércules acabou matando Hipólita e muitas outras Amazonas (as que sobraram foram morar na Albânia).
Hércules levou o cinto para a filha de Euristeu, que, pelo que se sabe, nem deu muita bola para ele.
(ARTHUR NESTROVSKI)


O dono dos bois

Gerião era um gigante de três cabeças e três corpos, ligados na cintura.
Ele era dono de um lindo rebanho de bois avermelhados, famosos no mundo inteiro.
O décimo trabalho de Hércules era trazer o rebanho para Euristeu.
Hércules chegou a Eritéia, onde morava Gerião, e matou de cara o pastor Euritião e o cão de guarda Ortro, de duas cabeças.
Quando Hércules ia saindo com os bois, chegou Gerião.
Hércules atirou uma única flecha, que passou pelos três corpos do gigante.
No lugar onde o gigante caiu, brotou uma cerejeira, que todos os anos dá frutas sem semente.
Euristeu sacrificou os bois para -adivinhe quem?- a deusa Hera.


Hércules malandrão

Lá onde o Sol se põe, no fim da curva do horizonte, moravam as Hespérides, que eram ninfas (deusas boas) que cuidavam do jardim dos deuses.
Na entrada ficava um dragão de cem cabeças. Dentro do jardim estavam plantados os pomos -palavra bonita para "maçãs"- de ouro. Hércules tinha de buscar os pomos.
Para tornar a coisa mais difícil ainda, as maçãs eram um presente de casamento da deusa Terra para Hera.
Hércules sabia que não conseguiria sair vivo do jardim. Teve uma grande idéia: ofereceu-se para trocar de lugar com o deus Atlas, que segurava o céu e as estrelas nos ombros, desde que Atlas pegasse as maçãs para ele.
Atlas fazia qualquer coisa para tirar o peso dos ombros. Para facilitar o serviço, Hércules já tinha matado o dragão com uma flechada.
Quando Atlas voltou, Hércules pediu que ele segurasse um pouquinho o céu, enquanto Hércules se equilibrava melhor.
Pegou as maçãs e saiu correndo. Atlas está segurando o céu até hoje.
E os pomos de ouro foram devolvidos por Euristeu, porque ele não era louco de roubar as maçãs de Hera.


Para terminar: um cão dos Infernos

O último trabalho de Hércules era o mais difícil de todos: trazer o cão Cérbero, o guardião dos Infernos.
Hércules chegou até lá com a ajuda dos deuses Hermes e Atena. Pediu permissão para lutar com Cérbero ao próprio Hades, rei dos Infernos.
Hades lhe deu licença -desde que usasse só as mãos e a pele do leão que ele vestia; nem flecha, nem pau, nem nenhuma outra arma.
Esse cão não era igual aos outros. Tinha várias cabeças, cobras em volta do pescoço e uma mordida venenosa.
Cérbero deixava entrar as almas nos Infernos, mas não as deixava sair.
Hércules foi direto ao pescoço do cão. Cérbero quis feri-lo com sua cauda de espinhos, mas a pele do leão agüentava qualquer coisa.
Hércules foi apertando a garganta até o cão amolecer. Segurando assim, fez o caminho inteiro de volta a Micenas, até o palácio de Euristeu.
Como já tinha cumprido os 12 trabalhos, Hércules deu-se ao direito de matar três filhos do rei Euristeu.
A briga entre os dois não acabou nunca. Anos depois da morte de Hércules, os filhos dele acabaram matando Euristeu.
Tudo isso por causa de uma outra briga, que nem era deles: por causa do ciúme de Hera pela mãe de Hércules.
Foi a paixão de Zeus por Alcmena que causou toda a confusão -filhos e netos vivendo uma história dos pais e avós.
O verdadeiro trabalho de Hércules foi se livrar de tudo isso. Cada um de nós tem de ser um pouquinho Hércules na vida; acaba sendo Zeus e Alcmena também. Se der azar, vira Hera ou Euristeu!

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