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Cerol provoca acidentes graves

MIRNA FEITOZA
da Redação

Norma Albano/ Folha Imagem
Bruno Pestana, 7, mostra dedo machucado por cerol


O verão, tempo de empinar pipas, deixou notícias tristes.
Duas pessoas morreram no Estado de São Paulo por causa das linhas com cerol, um produto feito com vidro moído e cola de madeira, que é passado na linha para deixá-la cortante e capaz de cortar outras pipas.
No final de dezembro, Sidnei Silva de Oliveira, 24, morreu em sua moto ao ter o pescoço cortado por uma linha cortante, na Freguesia do Ó (zona norte de São Paulo).
O outro acidente aconteceu em Sorocaba, no mês passado. José Florêncio da Silva Filho, 33, foi atingido por uma linha cortante e teve a veia jugular cortada, também quando guiava sua moto.
Acidentes desse tipo acontecem faz tempo. Danilo Nascimento, 8, morreu em julho de 92, no Rio de Janeiro, ao ter o pescoço atingido por linha com cerol, quando viajava na carroceria do carro.
Em julho de 88, a vítima foi Eduardo Pantanoto, 8, na vila São José (zona sul de São Paulo). Ele brincava com outras crianças quando a linha passou em seu pescoço.
Casos como esses motivaram o promotor Maurício Ribeiro Filho, de São Paulo, a entrar com uma ação pública para impedir a fabricação e a venda do cerol na cidade.
Ele pediu multa de R$ 1.000,00 para quem vender ou fabricar o produto.
Quanto a impedir que crianças utilizem o cerol, ele acha ``praticamente impossível'', pois se isso não for feito pelos pais, ninguém mais o fará.


Medo reduz uso do cortante

da Redação

As mortes dos dois motoqueiros e a ação pública contra o cerol fizeram com que as pessoas pensassem melhor sobre o uso de cortantes.
Foi o que Folhinha observou na vila das Belezas (zona sul de São Paulo), onde havia sete meninos brincando com pipas. Nenhum usava cerol.
``Deixei de usar por causa das mortes dos motoqueiros'', diz Felipe Augusto, 11. Ele conta também ter visto na televisão que quem usasse cerol iria levar multa.
Bruno Pestana, 7, tem mais dois motivos para ter deixado o cerol: já cortou o nariz e o dedo. Ele disse que não vai mais usar cerol: ``machuca quando eu puxo a linha''.


Fácil de encontrar



Norma Albano/ Folha Imagem
Meninos com saquinhos de vidro moído


Se as crianças que entrevistamos quisessem fazer cerol, seria fácil.
Bastaria subir um pouco a rua onde estavam e comprar o material.
Para demonstrar isso, elas foram até a mercearia e voltaram com dois saquinhos de vidro moído. Cada um custou apenas 10 centavos.
Entramos no local em seguida. A senhora que atendia não se identificou. Ao ser perguntada sobre a venda do vidro moído para as crianças, ela disse que foi o que restou no estoque, mas que não voltaria mais a vender: ``está proibido'', disse.


Cuidado com a laje

da Redação

Apesar de não estarem usando cerol, encontramos quatro crianças empinando pipa em cima da laje, o que não é considerado seguro.
Uma delas, Felipe Augusto, inclusive já caiu do telhado, onde estava brincando de pipa, e fraturou o braço.
A mãe de um deles e dona da casa, Rosemary Pestana, sabe que é perigoso, mas consente. ``Prefiro que eles fiquem na laje do que na rua. Aqui eu estou vendo'', diz, referindo-se à falta de segurança do lugar onde mora.

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