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Caça ao tesouro ameaça indígenas

Vicent Carelli
Membros da aldeia nambiquara, no Mato Grosso


FABRIZIO RIGOUT
da Redação

O quintal dos índios nambiquara foi invadido por milhares de homens à procura de ouro. Os garimpeiros, como são chamados, chegaram à terra nambiquara há três meses e hoje já são 10 mil.
Os nambiquara vivem no oeste do Estado do Mato Grosso, perto da fronteira com a Bolívia.
Até 1960, eles tiveram pouco contato com brasileiros não-índios. Desde então, com a chegada das fazendas e das estradas, a terra nambiquara vem sendo ameaçada.
O garimpo de ouro é um trabalho que atrai muita gente muito rápido.
As pessoas vão para os garimpos porque ouvem falar de outros que ficaram ricos escavando a terra e os rios.
Há histórias de gente que achou 300 gramas de ouro em um só dia.
O garimpo avança pela floresta, principalmente pelas beiras de rios e córregos desviados. Máquinas fazem o trabalho pesado de lavar e dragar (chupar) o solo que fica no fundo dos rios. Os garimpeiros procuram ouro em meio à lama que é retirada.
Para agregar (juntar) as pedras de ouro e separá-las do barro, é preciso usar mercúrio, um metal líquido que polui rios onde índios pescam.
Os garimpeiros também trazem doenças como malária e diarréia, a que os índios tem baixa resistência.
Em 1972, após contato com os homens da cidade, mais da metade dos nambiquara morreu doente de sarampo.


Colaborou Rubens Valente, free-lance para a Agência Folha, na reserva Sararé (MT)


Nambiquara caem no conto da madeira

Vicent Carelli
Grupo nambiquara em sua aldeia; à esquerda, balaio de palha usado nas expedições pela floresta e pelo cerrado


da Redação

A floresta dos nambiquara vem sendo derrubada por comerciantes de madeira. Eles invadem a reserva dos índios à noite e roubam árvores enormes para depois vender.
O mogno, uma madeira escura que serve para fazer móveis de luxo, é a árvore mais procurada. A exploração do mogno é controlada por lei, além de ser proibida em reservas de índios.
Os nambiquara usam a floresta para caçar, colher e plantar. Existe um órgão, chamado Funai (Fundação Nacional do Índio), que ajuda a proteger o território dos nambiquara.
Mas os fiscais são poucos e têm dificuldades para localizar os madeireiros, que usam uma técnica especial para conquistar os indígenas.
Eles costumam dar presentes, como enlatados, gasolina e armas, em troca de permissão para cortar madeira.
Só agora, com a destruição de sua floresta, os índios perceberam que entraram numa encrenca. (FR)

Reserva é para manter costumes
Hoje a maioria dos índios mora em reservas como a dos nambiquara, criada em 1985.
Reservas são territórios onde não se pode construir cidades nem montar fazendas. Lá só usam a terra os indígenas, isto é, os nativos da terra.
As reservas são necessárias pois os indígenas precisam de espaço para caçar, pescar ou mudar suas aldeias de lugar.
As reservas também evitam que os índios tenham de alterar seu modo de vida. Se fossem trabalhar em sítios, garimpos ou fábricas, não saberiam. Além disso, perderiam seus costumes, que são a contribuição mais importante que dão aos outros povos. (FR)


Nambiquara fazem venenos de raiz

Vicent Carelli
Índia nambiquara brinca com um quati


da Redação

No Brasil existem mais ou menos 1.100 nambiquara.
Nambiquara quer dizer ``orelha furada com taquara'', pois gostam muito de enfeitar o rosto com brincos, pinturas e penas de pássaro atravessadas no nariz.
Os nambiquara são reconhecidos por terem mais pêlos no rosto do que a maioria dos indígenas brasileiros.
Eles são diferentes também porque dormem no chão em vez de dormir em redes.
A família nambiquara é pequena e unida. As crianças aprendem desde cedo com os pais a colher frutas e raízes, e a atirar com arco e flecha.
Durante a temporada de chuva, os nambiquara ficam na aldeia, onde plantam o alimento. Na época seca, costumam sair para caçar no cerrado e na floresta, carregando a mudança em cestos de palha.
História
Os nambiquara têm tradição guerreira. Em 1820, já defendiam seu território contra invasores das minas de ouro do Mato Grosso.
Sua especialidade é a preparação de venenos a partir de raízes de plantas, para colocar nas pontas de flecha. (FR)

Criança nunca apanha dos pais
A criança nambiquara tem um grande privilégio: nunca apanha dos pais.
Os adultos perdoam seus filhos quando eles aprontam, pois são considerados ``apenas crianças''. Só aos grandes são dadas responsabilidades.
A brincadeira preferida dos nambiquarinha é imitar gente grande, principalmente os pais. Eles também nadam no rio e brincam com pequenos animais do mato, como macaquinhos e quatis.
O funcionário da Funai Ariovaldo J. Santos, que viveu 12 anos com os índios, conta que as crianças aprendem na escola muitas brincadeiras da cidade.
``O jogo de futebol virou passatempo em várias aldeias. Quando vão à escola, fora da aldeia, as crianças nambiquara brincam de cantiga de roda e pique. Elas gostam de toda brincadeira que tenha música ou canto'', diz.
Na escola, os nambiquara aprendem a ler e escrever sua língua e também o português. É na sala de aula que as crianças da aldeia ficam conhecendo como vivem os outros brasileiros. (FR)

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