Publicidade


A correspondência é renovada aos domingos, terças
e quintas



Envie esta coluna
por e-mail
Mario Sergio   Rio de Janeiro
Ivan Lessa   24/04/2001
Adeus


Ivan,

sempre é tão difícil terminar. Como na música: sempre é um suplício esse momento. Mas como tudo acaba, como terminaram as guerras púnicas, o amor de Swan por Odette, o Império, a deambulação de Noel Rosa pelo Rio, essa nossa correspondência também acaba.

Acaba. Motivo há: eu mudei. Mudei de emprego, de cidade, de função jornalística. Não havia como manter a correspondência. Estou com pouco tempo para escrever.

Não é o caso de fazer um balanço. Ficamos exatamente um ano trocando mensagens eletrônicas, à vista de quem quisesse nos ler. Desenvolvemos uma forma de expressão, quero crer, inédita no Brasil. Escrevemos sobre o que nos deu na cachola. Nossos chefes e empregadores não nos impuseram nenhuma limitação. Se fomos tediosos, ou arrogantes, ou tolos, a responsabilidade é inteiramente nossa. Em compensação, cumprimos nossa obrigação: mandamos todas as nossas cartas no prazo. Em meio a dificuldades pessoais, em viagens de trabalhou ou férias, lutando contra linhas telefônicas sinistras, não houve dia em que nossos eventuais leitores não pudessem encontrar nossas missivas.

De minha parte, gostei bastante da correspondência. O meio, a internet, possibilita uma experimentação que o jornal ou a revista não permitem. Ao escrever para o papel, imediatamente se fica mais impertigado. A mensagem eletrônica não é tão etérea quanto o rádio ou a televisão, que logo desaparecem no ar sem deixar registro. Mas saber que essas palavras estão fadadas ao desaparecimento é reconfortante.

Sendo mais preciso: gostei mais de ler suas cartas do que de escrever as minhas. Você tem mais queda para a forma, a carta eletrônica. Tem mais molho, maleabilidade, embocadura. Eu tendo mais para o sérião.

Gostei também dos leitores que escreveram para o mural e colocaram seus nomes e endereços verdadeiros. Quanto aos outros, assim que os percebia anônimos, parava a leitura. É gente infantilizada, ou covarde, ou de má fé.

Enfim, Ivan, foi legal trabalhar junto. Um dia a gente retoma a colaboração. Mas agora nossos emails retornam para a esfera privada.

Abração,

Mario Sergio


--------------- Mensagem Original ---------------

De: Ivan Lessa
Para: Mario Sergio
Data: Terça-feira, 22 de Abril de 2001
Assunto: Dia 25 de outubro de 1946