A correspondência é renovada aos domingos, terças e quintas
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Mario Sergio
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Rio de Janeiro
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Ivan Lessa
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19/04/2001
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Antes que Anoiteça
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Bonitão,
Quer dizer então que o JB já te proporcionou um caminhão de alegrias, hein? Achei legal, bem legal, a inocência, a ingenuidade daquele Rio dos anos 50. Difícil decidir quem era mais bobo, se você e sua turma ou as moças. No fim, rapazes e garotas queriam a mesma coisa, que você descreve com o expressivo termo "fuque-fuque".
Vi um filme que, de certa forma, roça um tema embutido na sua missiva, o da sexualidade adolescente. Chama-se "Antes que anoiteça". Baseia-se no livro homônimo, de memórias, do falecido escritor cubano Reinaldo Arenas. Foi dirigido por um pintor americano, o falastrão Julian Schnabel, cujo filme de estréia, "Basquiat", era uma porcaria de fazer gosto.
"Antes que anoiteça" conta a história que você conhece: a perseguição, a prisão, o exílio de Cuba e a morte, de Aids, em Nova York, de um poeta. Perseguido e preso não por ser anticastrista, e sim porque era homossexual. Homossexual assumidíssimo, bandeiroso, grandioso, grandiloquente. Pelo que o filme dá a entender, a fixação sexual do Arenas era adolescente. Mesmo adulto, ele tinha um jeito de meninão de praia.
Nunca li o Arenas. Os trechos de sua prosa e poesia que são ditos no filme são de grande beleza. A Havana dos anos 60 (recriada no México) que o filme mostra tem algo de brasileiro: é tropical, brega, barulhenta, encardida. A semelhança aumenta quando o Arenas diz que os cubanos são barulhentos. Que eles só sabem demonstrar a alegria e a tristeza fazendo um barulhão. Igualzinho os brasileiros, certo?
O que quero dizer é que o filme é bom. E olha que eu não levava fé na coisa e não gosto do Schnabel. Não perca.
Como existe a lei das compensações, no mesmo fim de semana assisti "Finding Forrest", com o Sean Connery. Ele faz o papel de um escritor baseado no Salinger, autor de um livro para adolescentes exageradamente valorizado. Uma espécie de "Pequeno Príncipe" para americanos? Vê lá.
O filme é uma bobajada. Só se salva pelo F. Murray Abraham, um ator de minha predileção. Ele tem uma coisa incrível, que nunca vi: um comercial da BMW, no meio da trama, que lamenta que os nazistas não tenham prosseguido o bombardeio da Inglaterra. É ver para crer, old China.
Vou ver se no fim de semana revejo The Limey" que vi aí há mais de um ano.
Seu,
MS
--------------- Mensagem Original ---------------
De: Ivan Lessa
Para: Mario Sergio
Data: Terça-feira, 17 de Abril de 2001
Assunto: Que voltem os classificados
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