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Charlô, por ele mesmo

No fim de 1980, criei coragem, me demiti, vendi o carro, juntei uns caraminguás e fui para Paris. Estava saturado do trabalho na Bolsa de Valores e incerto sobre o rumo a tomar. Logo que cheguei, herdei do Zé, meu irmão um emprego chez Madame Valéry-Radot e sua filha Nicole, na Place de Méxique. O trabalho era simples tipo preparar o almoço e deixar uma sopa pronta para o jantar. Ir ao mercado fazia parte das minhas tarefas e eu adorava ver a enorme variedade de queijos, frutas, legumes. Elas gostavam da minha comida, gostavam do pudim de macarrão e dos pratos gratinados. Nos fins de semana sempre tinha amigos para almoçar no meu microapartamento na rue Duplex. Como meu orçamento era limitado, só ia aos bons restaurantes quando algum tio ou amigo abastado passava por Paris. Aí, sim, eu tirava a barriga da miséria! Um ano depois, de volta a São Paulo, aproveitei o "espírito natalino" para começar a fazer patês.

Eu mal havia começado a vender os patês quando recebi uma encomenda para a festa de Réveillon do clube Alto de Pinheiros. Era coisa de 40 quilos, na época, representava uma enormidade. Durante cinco dias a cozinha da minha avó Albertina se transformou uma pequena fábrica. No fim do primeiro dia de produção, percebi que a geladeira estava lotada. O jeito foi recorrer à vizinhança do prédio e às casas dos amigos que moravam perto. O dia da entrega foi engraçado, parando de porta em porta recolhendo patês. Foi então que tudo começou.

Patês Charlô, of course.

Até 1984 nossa produção era basicamente patês e terrines. Aos poucos fomos diversificando até que, em 1985, abri minha primeira loja na rua Attilio Inocenti, onde vendíamos quiches, tortas e bolos. Na minha nostalgia francesa, sonhava em produzir doces com sotaque europeu. Minha mãe sugeria que eu fizesse bolo de nozes e eu, na minha inexperiência, retrucava que era muito comum. Quando voltei de uma viagem, o bolo de nozes era sucesso e eu tive que me render às evidências: as coisas comuns são ótimas.

O rapaz abriu um restaurante... Em 1989 abri o restaurante da Barão de Capanema, um lugar para reunir amigos e degustar pratos que eu preparava e que tinha um pouco da cozinha portuguesa, da comida da fazenda e influênca francesa. O Charlô passou por diversas reformas até ficar com a cara de hoje: um bistrô paulista.

Além de perder 10 quilos, minha passagem pelos Vigilantes do Peso rendeu a inclusão de alguns pratos lights no menu do restaurante. Só não consegui fazer uma sobremesa diet ­ doce, para mim, tem de ter açúcar, creme, chocolate, cobertura, chantilly e cereja.

Começamos a fazer saladas e alguns pratos que podiam ser levados para casa. Os clientes aprovaram e o movimento cresceu. Logo começamos a receber encomendas para festas e pedidos para cardápios especiais. Um belo dia uma freguesa perguntou se podíamos arrumar alguém para servir um jantar. Outra pediu emprestado réchaud, e assim por diante. Quando me dei conta era dono de um buffet.

Dona Carlota até hoje não sabe que quase ficou sem festa.

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